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“Nada justifica o sangue de um irmão"

30 jul, 2016 - 20:17 • Aura Miguel , Eunice Lourenço

Papa apelou mais uma vez à oração pela paz na Síria. Testemunho de jovem de Aleppo foi um dos momentos marcantes da Vigília da Jornada Mundial da Juventude.

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Papa. “Nada justifica o sangue de um irmão" e a guerra não é uma "notícia de jornal"
Papa. “Nada justifica o sangue de um irmão" e a guerra não é uma "notícia de jornal"

Nada justifica a guerra, nada é mais valioso do que uma pessoa - foi com um apelo veemente à oração pela paz, sobretudo na Síria, que o Papa Francisco começou o seu discurso aos jovens na vigília da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), nos arredores de Cracóvia, na Polónia.

Depois de ouvir o testemunho de uma jovem síria que falou da guerra na cidade de Aleppo, o Papa Francisco disse que o sofrimento e a guerra naquele país tinham deixado de ser uma notícia de jornal e apelou à oração.

“Para nós, hoje e aqui, provenientes de diversas partes do mundo, o sofrimento e a guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa anónima, para nós já não são uma notícia de imprensa, têm um nome, um rosto, uma história, fizeram-se próximos. Queridos amigos, convido-vos a rezar juntos pelo sofrimento de tantas vítimas da guerra, desta guerra que há hoje no mundo, para podermos compreender, uma vez por todas, que nada justifica o sangue dum irmão, que nada é mais precioso do que a pessoa que temos ao nosso lado”, disse o Papa no Campo da Misericórdia, o local onde decorre a fase final desta JMJ.

A oração e a fraternidade são a única resposta a dar, acrescentou o Papa. “Não vamos pôr-nos a gritar contra ninguém, não vamos pôr-nos a litigar, não queremos destruir, não queremos insultar. Não queremos vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família”, disse Francisco, pedindo um tempo de silêncio e oração.

Testemunho de uma “cidade esquecida”

Antes, Rand Mittri, uma estudante universitária de Aleppo, na Síria, tinha contado como é o dia-a-dia na sua cidade, uma “cidade esquecida”, como lhe chamou.

“Todos os dias vivemos rodeados de morte”, disse Rand, explicando que, mesmo assim, todos os dias continuar a ir à escola e a ir para o trabalho, mesmo com o medo de que, no regresso, a casa já não exista ou algum familiar tenha morrido.

“Deus onde estás? Existes?” são perguntas que todos os dias Rand coloca. Ela que pertence à juventude salesiana e foi a Cracóvia em representação dos muitos jovens que não podiam ir para contar a história de conhecidos e amigos. Do miúdo que morreu na paragem onde esperava o autocarro para ir à catequese, do casal que morreu soterrado pela própria casa, de um amigo mais próximo e que lhe embargou a voz.

“Esta guerra destrói o nosso mundo, os nossos sonhos e esperanças”, disse Rand Mitri, obrigada a crescer “antes do tempo” e que, no meio da guerra e das dúvidas, vê Deus “todos os dias” naqueles que trabalham para ajudar os outros, “nos pais que não desistem até ter comida para dar aos filhos”.

“Deus existe até através da nossa dor”, afirmou a jovem que encontra na fé em Cristo a razão da sua alegria e da sua esperança. “É uma alegria que ninguém me pode roubar”, concluiu Rand.

Para além da jovem síria, outros dois jovens, uma polaca e um paraguaio deram testemunho de como a misericórdia transforma as suas vidas.

A Renascença com o Papa Francisco na Polónia. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Comentários
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  • António Costa
    31 jul, 2016 Cacém 11:55
    Se queremos vencer, o ódio, a violência e o terror, temos que fazer uma coisa. Muito simples. Não o ensinar às pessoas. Não ensinemos as pessoas a apedrejar aquele que é diferente. Agora se ensinamos as pessoas a odiar, a respeitar regras, pelas regras em vez de amar o próximo como a nós mesmos, não vamos a lado nenhum. Não basta chamar Religião aquilo que praticamos. É a prática do amor ao próximo do respeito pelo que é diferente que é importante. Como em tudo, há Religiões que respeitam o "outro" e o direito à diferença, são as "Religiões da Vida", como as Religiões que apenas exigem obediência e submissão, as "Religiões da Morte".

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