22 jul, 2016 - 18:46 • Ana Lisboa
O Vaticano divulgou esta sexta-feira a Constituição Apostólica sobre a Vida Contemplativa Feminina.
Em conferência de imprensa, o secretário da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada, Monsenhor José Rodriguez Carballo, explicou que o documento, assinado pelo Papa a 29 de Junho, substitui um outro de 1950, do Pontificado do Papa Pio XII.
Carballo adiantou que este é o resultado de um trabalho com mais de dois anos, que recolheu respostas a um questionário enviado pelo Vaticano aos mosteiros de clausura do mundo inteiro que acolhem no total 44 mil religiosas.
A promoção de uma formação adequada, a centralidade da leitura divina, os critérios específicos para a autonomia das comunidades contemplativas, a filiação dos mosteiros a uma federação são alguns dos pontos em destaque no documento “Vultum Dei Quaerere”, ou seja, “A Busca do Rosto de Deus”.
Os motivos para este documento, explica Francisco, são o caminho percorrido pela Igreja e “o rápido avanço da história humana” passados 50 anos desde o Concílio Vaticano II. Daí a necessidade de estabelecer um diálogo com a sociedade contemporânea, salvaguardando ao mesmo tempo “os valores fundamentais” da vida contemplativa, cujas características – o silêncio, a escuta, a estabilidade – “podem e devem constituir um desafio para a mentalidade de hoje”.
A importância da vida contemplativa
Num mundo que busca Deus, o Papa considera que as pessoas consagradas são chamadas a ser “sábias interlocutoras” para “reconhecer as perguntas que Deus e a humanidade nos colocam”.
Francisco expressa o seu apreço às “Irmãs contemplativas”, dando ênfase de que “a Igreja precisa delas” para levar “a boa notícia do Evangelho” aos homens e mulheres do nosso tempo. E não se trata de uma missão fácil, dada a actual realidade “que obedece à lógica do poder, da economia e do consumo”. Por isso, Francisco propõe um desafio: que as Irmãs contemplativas sejam “lanternas” que guiam e acompanham o caminho da humanidade.
Para o Papa, “a vida consagrada é uma história de amor apaixonado pelo Senhor e pela humanidade que se revela através da apaixonada busca do rosto de Deus”
Doze temas
O Papa convida a reflectir sobre doze temas da vida consagrada em geral e, em particular, da tradição monástica.
A formação é o primeiro tema. Francisco alerta os mosteiros para que “prestem muita atenção à avaliação vocacional e espiritual, sem deixar-se levar pela tentação do número e da eficiência”. Nesse sentido, recorda que a formação requer “um amplo espaço de tempo” entre os 9 e os 12 anos.
O segundo tema é a oração, “o ponto fulcral da vida consagrada”, que deve ser vivida como um “aumentar o coração para abraçar toda a humanidade”, em particular os que sofrem, como os presos, os emigrantes, os refugiados e perseguidos, os pobres, os doentes, as vítimas de dependências.
Como terceiro tema, Francisco indica a centralidade da palavra de Deus, “fonte primeira de toda a espiritualidade e princípio de comunhão para as comunidades” que se explicita na leitura divina.
O quarto ponto recorda a importância dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação.
O quinto tema indicado nesta Constituição Apostólica é a vida fraterna em comunidade, entendida como “reflexo do modo de ser de Deus e da sua entrega” e ainda “primeira forma de evangelização”.
A autonomia dos mosteiros é o sexto tema. Francisco admite que, se por um lado, a autonomia favorece a estabilidade, a unidade e a contemplação, não deve, no entanto, “significar independência ou isolamento”.
Relacionado com o anterior, o sétimo tema reitera a importância das federações como “estrutura de comunhão entre os mosteiros que partilham o mesmo carisma”.
O oitavo tema tem a ver com a clausura, “sinal da união exclusiva da Igreja-esposa com o Senhor”.
Como nono ponto o Papa destaca o trabalho. Recordando o lema beneditino “ora e trabalha”, exorta as contemplativas a trabalhar “com devoção e fidelidade, sem deixar-se condicionar pela mentalidade da eficiência e dinâmica da cultura contemporânea” que poderia “apagar o espírito de contemplação”.
O silêncio é o décimo tema entendido como espaço de “escuta e de reflexão da Palavra”, silêncio para “escutar Deus e o clamor da humanidade”.
Francisco propõe como décimo primeiro tema os meios de comunicação. Ao defini-los como “instrumentos úteis para a formação e a comunicação”, o Papa exorta as contemplativas a terem um “prudente discernimento” para que “não sejam ocasião para a distracção e evasão da vida fraterna em comunidade, nem sejam nocivos para a vossa vocação ou converterem-se num obstáculo para a vossa vida inteiramente dedicada à contemplação”.
O último tema, o décimo segundo, é dedicado à ascese feita de “sobriedade, desprendimento das coisas, entrega de si na obediência, transparência nas relações” comunitárias.
A conclusão desta Constituição Apostólica sobre a Vida Contemplativa Feminina divide-se em 14 artigos. Um deles, o terceiro artigo, diz que “há que evitar em absoluto o recrutamento de candidatas de outros países, com o único objectivo de salvaguardar a sobrevivência do mosteiro”.
Este artigo é também dedicado à formação permanente e ao discernimento vocacional, que estabelece que as contemplativas podem participar em cursos específicos de formação “embora seja fora do seu mosteiro, mantendo um clima adequado e coerente com as exigências do seu carisma”.
O artigo sétimo exorta as religiosas de clausura a exercerem “o ministério da autoridade”, num ambiente “alegre, de liberdade e de responsabilidade” para “promover a comunicação na verdade”.