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Sindicato alerta: Na Ryanair, paga-se para entrar e para sair

30 jun, 2016 - 08:32 • João Carlos Malta

Em entrevista à Renascença, o dirigente do Sindicato de Pessoal da Aviação Civil Bruno Fialho alerta para que a falta de condições de trabalho dos que operam na companhia low-cost Ryanair. Quem se quer sindicalizar é despedido, garante.

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Em entrevista à Renascença o porta-voz do Sindicato de Pessoal da Aviação Civil, Bruno Fialho, alerta para as condições em que é feito o recrutamento nas companhias de aviação low-cost, nomeadamente a Ryanair. Os candidatos podem ter de pagar até quatro mil euros.

O responsável fala ainda da perseguição a sindicalizados que são despedidos da companhia inglesa, e em caso de acidente de trabalho fica abandonado à sua sorte.

Confirma que os candidatos a comissários de bordo na Ryaiair têm de pagar pela formação?

Sim, existem custos para os candidatos que têm de pagar o curso e inclusivé até pagam a farda para irem trabalhar.

Esses custos podem chegar a que valor?

São fixos, normalmente podem ir aos 2.000 a 2.500 euros e ao fim de três semanas são largados e podem começar a voar. O que nos preocupa também é que nestes custos, o pagamento de impostos não é feito em Portugal. São pagos na Irlanda. Estamos a promover a precaridade no trabalho, o que é inaceitável.

Mas esse valor não pode chegar quase aos quatro mil euros?

Sim, no caso de o candidato se ter de deslocar a Barcelona para realizar o curso. Aí tem de pagar esses valores todos, inclusive os 700 euros de alojamento [por três semanas]. E aí estamos a entrar num terreno altamente pantanoso, o de voltar ao feudalismo em que os trabalhadores têm de pagar para trabalhar. Não podemos aceitar essa situação.

Essa é a única situação a apontar...

Quem entra na empresa não se pode sindicalizar, quem quiser entrar para um sindicato é automaticamente despedido.

Isso é ilegal...

Em Portugal é inconstitucional e ilegal. Já avisámos as autoridades. Os contratos são feitos na Irlanda, não são feitos em Portugal. Há muitas ilegalidades que são feitas com a conivência do Estado português porque inclusive patrocina estas companhias.

Há relatos de que se os trablhadores falarem da empresa depois de sairem são alvos de processos. Isso corresponde à verdade?

Isso acontece. Mas ainda pior, caso exista algum tipo de acidente de trabalho ou baixa médica, o tripulante fica sem qualquer tipo de apoio e como não é sindicalizado não tem a quem recorrer. Existem casos de pessoas que foram deixadas em países que não são o seu, sem condições monetárias para voltar nem poderem tratar-se.

A Ryanair é caso único ou as outras low-cost fazem o mesmo?

É o pior dos casos. A Ryanair não tem respeito pelos seus trabalhadores. Estes recrutamentos existem semestralmente porque as pessoas ao fim de alguns meses saem da companhia e têm de pagar para sair, o que também é ilegal.

Como assim?

Eles pagam o curso que lhes é dado, no entanto ficam com uma obrigação de permanecer "x" meses, no fim dos quais poderão sair sem uma compensação para a empresa. Se o trabalhador optar por sair mais cedo tem de os indemnizar com o que foi acordado no contrato de trabalho. As condições de trabalho são tão deploráveis que há quem prefira pagar do que continuar a trabalhar.

Há uma inversão à lógica de ser a entidade patronal a patrocinar a formação do trabalhador?

Em Portugal isso é ilegal. As empresas são obrigadas a dar formação anual aos trabalhadores.

A formação passa a ser um negócio?

Sim, é evidente. Daí estas companhias conseguirem praticar preços que outras companhias que asseguram dignidade aos seus trabalhadores não conseguem. Estes subterfúgios legais das low-cost, com a conivência de muitos estados, premitem que elas continuem a operar,


Comentários
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  • Pipz
    12 ago, 2017 Portugal 17:03
    Fiz o curso de 6 semanas (atenção não são 3) no passado mês de Julho em Hahn (Alemanha), e sim temos de pagar cerca de 2999 euros pelo curso, 700 euros pelo alojamento que não é o melhor e fica no meio do nada (sendo que o supermercado mais próximo fica a quase 2 km a pé ... ira pé? sim, tinha de ser porque os táxis lá cobram um balúrdio por uma distancia mínima), o curso em si é bastante completo, em teoria aprendemos tudo o que devemos saber para trabalhar no tipo de avião que a Ryanair opera. No inicio do curso é nos atribuída uma base para a qual viajamos no final do curso, no caso da minha turma fomos divididos por bases como Dublin, Stansted, Suécia entre outras ... muitos de nos tentaram transferências de base que nos foram negadas e quando voltamos a falar no assunto apenas nos disseram no Office do training centre que "deveríamos ter pedido antes para mudar" enfim, essa é outra o pessoal que trabalha no chamado "office" muitas vezes nos induz em erro e depois acusa nos de ter a culpa de não termos os documentos necessários prontos para entregar quando eles querem. No fim do curso somos mandados para as bases, e quando ai chegamos temos de nos "desenrascar" ... arranjar casa (a tarefa mais dificil de sempre, pois muitos anúncios de casas já especificam na descrição "NO CABIN CREW accepted, pagamos pelos erros de quem cá esteve antes)", conta em bancos do pais, telefone, segurança social. A verdade é esta pagamos para trabalhar, e se não cumprirmos mandam nos embora.
  • Luis
    01 jul, 2016 13:07
    O pior é que isso tudo é verdade... E passa-se exatamente isso comigo e com a maioria dos meus colegas... No meu caso mandaram-me para um País longe longe... E onde prometiam salários de pelo menos 1000/1200e até hoje, os salários que recebi, quase que não chegam a metade disso... Pedi transferência imensas vezes para bases onde se consegue ter alguma dignidade para se viver e até hoje nada... Ao fim de investir tanto, tive que me despedir, por estar completamente com a conta negativa.. E o pior... Nem sequer fiz o X tempo obrigatório segundo eles... Enfim... Uma vergonha

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