29 jun, 2016 - 01:39
“Estamos metidos num grande sarilho” – é assim que Rui Machete, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e um dos homens que assinou a adesão de Portugal à então Comunidade Europeia, resume a situação da União Europeia depois do referendo no Reino Unido.
Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, Machete alerta que só oferendo esperança e solidariedade será possível contrariar o perigo de desagregação que considera existir.
“É preciso que União Europeia rectifique alguns dos seus comportamentos que tem vindo a prevalecer nos últimos anos”, defende o ex-ministro, dando o exemplo de Portugal: “Nós portugueses fomos apoiados pela União Europeia numa situação de bancarrota que atravessamos, depois de se ter verificado que os resultados da governação de Sócrates eram desastrosos, mas também fomos forçados a fazer uma política de austeridade desagradável e teria sido possível – não digo deixar de fazer uma política de contenção, porque não se pode passar toda a vida a gastar mais do que aquilo que se produz – mas algo que permitisse ser mais racional e mais simpático e sobretudo dar uma noção, que acho que existe, mas não foi dada, de esperança.”
A questão, para Machete, não é só de medidas, mas de discurso. “É importante que não só nas medidas, mas na forma como são apresentadas, haja a sensação clara de uma grande solidariedade e de uma grande entreajuda. Nós, países que temos tido situação deficitária nas finanças públicas, temos e dar garantias de que somos capazes de fazer alguns sacrifícios que são inevitáveis por mais algum tempo, mas é importante que sintamos que não está sozinho, que não somos punidos”, afirma o antigo responsável pelas relações externas em entrevista ao programa “Terça à Noite”, considerando “inaceitável” a aplicação de sanções a Portugal por questões orçamentais.
“Há coisas muito sérias e levaria certamente a um sentimento de desagrado, a acrescer ao sentimento de desagrado que de vez em quando já existe. Seria um disparate do ponto de vista da União Europeia e do nosso ponto de vista um sacrifício imerecido”, acrescenta Rui Machete.
O ex-ministro acha que decisão dos britânicos de sair da UE vem desequilibrar ainda mais a “balança de poder” em favor da Alemanha, até porque a França “não está a ir por um caminho positivo”, mas também pensa que a chanceler Merkel está muito consciente dos perigos e “tem adoptado medidas de prudência”. Ao contrário do que pensa do discurso do presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker.