29 jun, 2016 - 01:06 • Eunice Lourenço
Rui Machete critica o “mutismo” do PSD que não tem conseguido mostrar que tem uma alternativa ao actual Governo. Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, o ex-ministro e ex-dirigente social-democrata manifesta receios sobre o caminho que o país está a tomar, sobretudo porque considera que o PS está refém do Bloco de Esquerda.
O ex-ministro defende a permanência de Passos Coelho na liderança do PSD, mas acha que o partido tem de ser mais combativo.
O PSD “tem de combater, se tem algo a dizer, se tem uma alternativa tem de a expressar quotidianamente. Não é preciso grandes discursos, mas as pessoas têm de saber que há alternativas. Muitas vezes dá a sensação que se tem um certo mutismo”, afirma Machete, lamentando que, sobretudo, em matéria de princípios e valores o seu partido não se mostre como uma alternativa.
O ex-ministro está preocupado com os “problemas dos valores da família, do desenvolvimento da personalidade, da forma como as pessoas exercem a liberdade “ e acha que “a propaganda e banalização de comportamentos excepcionais em sociedade” não é “um caminho correcto”. E esse caminho é traçado, sobretudo, pelo Bloco de Esquerda, que considera ser um partido “leviano”, ao contrário do PCP que “apesar de tudo, é um partido com uma seriedade e uma experiencia diferentes”.
Para Rui Machete, é “preocupante” que “experiências sociais e questões fracturantes” como as barrigas de aluguer e a eutanásia sejam apresentadas como um progresso. “Bato-me por um sólido e tranquilo conservadorismo”, acrescenta, manifestando também preocupação não com o “laicismo de Estado” que considera que tem de existir, mas com “um laicismo que quer combater os que têm um opção diferente”.
O ex-ministro, que entrou para o Governo PSD-CDS no Verão de 2013, depois da demissão revogada de Paulo Portas, também deixa críticas a esse Governo. Ou, pelo menos, à sua primeira versão. “Muito embora isso não tenha correspondido à vontade dos governos do dr. Passos Coelho – digo ‘dois’ porque houve na verdade dois – na realidade não houve uma atenção tão grande quanto seria útil ter tido para dar esperança e confiança”, afirma Rui Machete que aconselha cautela ao actual executivo.
“Não estamos numa fase pós-austeridade. Nem estamos já, nem vamos continuar a estar e se não tomarmos algumas cautelas e não mostrarmos os nossos claros propósitos de prosseguir um caminho que é indispensável para que o país recupere as condições para se desenvolver, podemos retroceder e isso seria que seria gravíssimo”, avisa o ex-ministro, que, no entanto, considera cedo para falar em perigo de segundo resgate.