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Crónicas da América
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​Trump quer rasgar acordos comerciais dos EUA

28 jun, 2016 - 22:33 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque

Candidato defende proteccionismo e ameaça China.

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Donald Trump anunciou esta terça-feira que, se for eleito presidente dos Estados Unidos, retirará o país dos acordos comerciais multilaterais e abrirá uma guerra comercial com a China, que acusou de “batota” e de manipulação de moeda.

Num discurso para divulgar o seu programa económico, Trump fez uma defesa firme do proteccionismo, responsabilizando a globalização por todos os males económicos e sociais do país.

“Independência económica” foi o lema da intervenção que teve como cenário uma localidade da Pensilvânia dominada por indústrias tradicionais como aço e metalurgia, onde nas últimas décadas se perderam muitos postos de trabalho.

Definindo-se como o verdadeiro defensor dos trabalhadores, Trump disse que “a globalização só beneficiou os ricos como eu”, produzindo áreas abandonadas porque “os empregos foram para longe e a classe média foi varrida”. Com ele na Casa Branca, as coisas mudarão, acrescentou, porque a sua política não beneficiará apenas as elites como sucedeu sempre com a globalização.

Colou Hillary Clinton a essas políticas, naturalmente, acusando-a de ter “traído os trabalhadores em favor de Wall Street” ao apoiar todos os acordos comerciais assinados pelos EUA.

Nestes incluiu o NAFTA, o acordo de comércio livre com o México e o Canadá, implementado na década de 1990, que denominou “o pior de sempre” para a economia americana. Se for eleito, Trump retirará os EUA do NAFTA.

Na mesma linha afirmou que o acordo comercial com o Pacífico, TPP, negociado com vários países asiáticos, “será um perigo, porque porá uma comissão internacional a decidir por nós”. “Não tem emenda possível”. Por isso, se for eleito, Trump impedirá os EUA de assinar o TPP.

Em ambos os casos, o multimilionário considera que os acordos “arruínam a economia americana”, ao contribuírem para exportar empregos e desenvolver os outros países em vez de desenvolver os EUA. Isto porque, segundo ele, os outros países “fazem batota” com as regras do comércio livre e ao pagarem salários substancialmente inferiores deixam os EUA em situação de desvantagem. “O sistema está viciado”, disse.

“Eu porei o americanismo à frente do globalismo para defender os nossos empregos, os nossos trabalhadores, a nossa classe média. O nosso país tem de voltar a ser livre e independente”, proclamou.

Como alternativa, Trump propõe acordos bilaterais com os vários países do mundo conquistados em negociações “duras” para as quais nomeará os melhores negociadores.

A China foi um dos seus alvos principais. Acusou Pequim de fazer batota com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e prometeu identificar os casos, bem como todas as violações das regras definidas pela OMC e apresentar queixa de cada uma delas. Não excluiu, claro, retaliar através da adopção de tarifas para evitar os efeitos negativos das exportações chinesas na economia americana.

Mas foi mais longe e ameaçou declarar a China “manipuladora da moeda” para efeitos comerciais, abrindo uma guerra comercial com Pequim, cujas consequências para a economia americana não explicitou.

Num tom de claro nacionalismo económico, Trump afirmou que a América “tem de voltar a ser independente” e “voltar a ser rica”, falando de “rendição económica”. Neste contexto, elogiou o recente voto britânico pela saída da União Europeia – “também votaram para recuperar a sua independência” – e acusou Hillary Clinton de “mais uma vez estar do lado errado, enquanto eu estava do lado certo”.

Aliás, as referências ao casal Clinton foram várias. Trump acusou Bill Clinton de ser o responsável pelo NAFTA, o tal “pior tratado de sempre” para os EUA, quando o acordo foi negociado e fechado pelo presidente George Bush (pai) e apenas assinado por Clinton em 1993, quando chegou à Casa Branca.

É verdade que Clinton concordou com o NAFTA e fez tudo para o implementar, já que sempre foi um defensor da globalização. Mas também é verdade que nos oito anos em que esteve na Casa Branca, a economia americana conheceu um período de grande prosperidade coincidindo justamente com a entrada em vigor do NAFTA.

O facto de o tratado ter sido negociado e fechado por um presidente republicano também não é casual. Na verdade, os republicanos têm inscrita na sua matriz ideológica a defesa do comércio livre e sempre se mostraram favoráveis ao processo de globalização.

Foi, aliás, durante o mandato do outro presidente Bush, George W., que a China entrou na OMC, um facto também criticado por Trump. Daí que o discurso proteccionista de Trump nesta terça-feira surja à revelia das tradições do GOP e esteja longe de corresponder aquilo que pensam os seus dirigentes.

O multimilionário, mais uma vez evidenciando a sua rebeldia em relação ao partido pelo qual concorre à Casa Branca, quis ir ao encontro de todos os que se sentem prejudicados pela globalização, na esteira daquilo que sucedeu com o voto pelo Brexit no Reino Unido na semana passada.

Não foi acaso que se referiu ao referendo britânico e usou várias expressões comuns às dos defensores do Brexit, designadamente o ataque às elites, a defesa dos sectores tradicionais da indústria e a culpabilização de tudo que vem do estrangeiro. Na sua candidatura esperam-se dividendos eleitorais desta estratégia.

Pouco depois da sua intervenção, alguém lembrava na CNN que Trump, enquanto empresário, sempre recorreu ao “outsourcing”, fazendo inúmeros empreendimentos com material e pessoal vindos de outros países, justamente tirando partido daquilo que agora diz repudiar.

Mal Trump acabou de falar, a candidatura de Hillary Clinton apressou-se a colocar no Twitter uma foto de uma camisa com a etiqueta Trump “made in Bangladesh”…

Comentários
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  • barsanulfo
    29 jun, 2016 alvains 12:53
    Já ninguém escuta as trampas ditas pelo trampa!
  • j
    29 jun, 2016 str 09:30
    Este homem e a Hillary são diferentes, na linguagem e na imagem. Na essência politica são iguais: o domínio dos USA através da destabilização, venda de armas e guerra, é isto a política dos USA. A sua máquina de guerra movida pela indústria bélica não perdoa. O que eles estão a fazer na Europa com a militarização dos países de Leste é apenas para começar uma guerra na Europa, e depois virem armados em bom para nos defender. A Europa com ou sem UK não tem lideres para nos tirar desta encruzilhada em que estamos.
  • Zita
    29 jun, 2016 Lisboa 07:47
    Em suma guerra contra tudo contra todos! Embora concorde com alguns dos aspetos focados, não penso que as coisas se resolvem assim, mas já agora pergunto, onde andou este americano todos estes anos, tendo ele 70 anos, presumo que teve tempo para aparecer e desfazer o mal que outros fizeram, e os estragos não teriam sido tão grandes, porque não apareceu para fazer face a todas estas situações que de facto têm alguma lógica? Terá sido porque entretanto andou preocupado em enriquecer à custa dos ditos acordos comerciais globais como ele próprio diz?
  • Oliveira
    29 jun, 2016 Sintra 07:23
    O Hitler também tinha este tipo de discurso populista.
  • António Costa
    29 jun, 2016 Cacém 07:01
    Devem rasgar os acordos. E já agora, porque não o sul dos EUA separar-se do norte? A seguir estados, como a Califórnia e o Texas podem perfeitamente tornarem-se "independentes". Fica tudo resolvido de uma maneira mágica. Isolados, vão evidentemente ficar muito mais fortes!
  • Alberto Sousa
    29 jun, 2016 Portugal 06:48
    Este tipo dispara imensas bacoradas mas desta vez...tem toda a razão. O que diz é o que digo à muitos anos, assim que não podia estar mais de acordo.
  • Horacio
    29 jun, 2016 New york 06:24
    Incrivel como tanta gente que nada sabe sobre o Trump comenta e diz assneiras... Nos aqui nos Estados Unidos que ja o conhecemos a 25 anos sabemos exactamente o que ele e..um dos empresarios mais gananciosos e desonestos que este pais ja viu. Em New Jersey usava a mafia para intimidar trabalhadores . Removeu aposentados de suas proprias casas para construir estacionamentos para um de Seus casinos.
  • 29 jun, 2016 06:16
    Este parvalhao so diz asneiras a mais de 20 anos. So quem nao o conhece ainda acredita no que ele diz. No mundo dos negocios e conhecido por prometer muito e cumprir pouco.. Tem 3500 acoes judiciais contra ele. Por fraude e falta de pagamento a fornecedores. Esse e o verdadeiro Trump o mimado filho de um billionario que quase perdeu a fortuna da familia por quatro vezes. Tomarao-lhe os casinos . Mas os bancos tinham tanto a perder que lhe ajudaram. Na politica e um opportunista incendiario . Diz coisas polemicas e muda de ideia constantemente. Diz e desmente o que acabou de dizer. Vale lembrar que ate agora so venceu as primarias do seu partido e que so 5% da populacao votou. Alguma so ideias de Trump incluem nao pagar a divida dos Estados Unidos .ninguem lhe esplicou que o motivo do dollar ser uma modes de reserva mundialmente e porque todos confiam que os Estados Unidos honram suas dividas e contratos. ..Trump como sempre foi um vigarista acha que pode renegociar tudo. E que a China continuara a emprestar a jurors baixos como faz agora.. E so ler o que Trump escreveu e is documentos publicos sobre ele para ver o que ele e. Um arrogante ,mentiroso, vigarista, que so pensa em Tierra vantagem financeira de tudo e todos. Por exemplo durante a ultima crise disse que apesar das pessoas terem perdido suas poupancas e casas ,que foi muito bom porque ele comprou mais barato. Sobre o brexit disse que a desvalorizacao da libra e a queda da economia ia ser bom para o seu campo de golf
  • jrmoura
    29 jun, 2016 lisboa 00:52
    O homem tem razão e tem coragem o que são poucos que a têm os presidentes são meros criados de mesa dos capitalistas gananciosos destoem o mercado de trabalho fomentando a escravidão.
  • Porconta
    29 jun, 2016 Porto 00:03
    Nunca pensei que algum dia ia concordar com este individuo, mas tiro o meu chapéu ele acertou na murche falta saber se não passa de campanha eleitoral, pois ele faz parte dos que ganham imenso com a globalização.

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