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A política está de regresso a Espanha

26 jun, 2016 - 09:22 • Manuela Pires , enviada da Renascença a Madrid

Tenta-se, este domingo, resolver o impasse político criado a 20 de Dezembro do ano passado e que os vários partidos não conseguiram ultrapassar. A situação invulgar levou os espanhóis a voltar discutir política.

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Os espanhóis escolhem este domingo, pela segunda vez em seis meses, o novo Parlamento do país. São 36 milhões e meio de eleitores chamados às urnas, para uma votação que termina às 19h00 (20h00 em Madrid).

A incerteza política mantém-se e ninguém sabe se será desta que vai ser possível encontrar uma maioria estável para sustentar um novo Governo. Mas uma coisa é certa: a actual situação – que pode parecer confusa para muita gente – acabou por levar as pessoas a discutir e a falar sobre política.

“As pessoas têm ocupado este hiato numa profunda discussão. Nota-se que a política regressou a Espanha”, diz à Renascença João Fernandes, subdirector do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia.

Em Madrid há três anos e meio, este português considera que as instituições em Espanha são fortes e que não existe no país um distanciamento em relação à política – ao contrário do que se vê um pouco por toda a Europa.

“Há uma grande mobilização. Aqui acontecem muitas coisas, muitos fóruns onde as pessoas discutem. Nas ruas, nos bares, nas praças, em todos os espaços públicos reais e virtuais”, afirma, dizendo também que, independentemente da condução política, as instituições continuam a funcionar com normalidade.

Uma delas é o Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia. A única consequência que teve com o governo provisório foi ter ficado impossibilitado de apresentar projectos a médio prazo.

João Fernandes já percebeu que a sociedade espanhola é muito diferente da portuguesa, porque não há em Espanha a tradição – nem na política nem na cultura – da negociação e do compromisso.

“Uma diferença que noto entre a forma de estar em sociedade em Espanha e Portugal é a relação com o conflito. A sociedade espanhola é mais conflitual, os portugueses, se discordam, tentam encontrar um ponto de acordo e isso têm-se reflectido nas eleições, onde as estratégias de algumas forças políticas estimulam o conflito como progressão da conquista do espaço político”.

Seis meses depois das eleições, este português está convencido que desta vez tem mesmo de haver um pacto: “é uma situação nova em Espanha, há uma mudança, há quem fale numa segunda transição, numa segunda democracia depois da transição que ocorreu logo a seguir à morte de Franco, mas vai ter de haver uma nova cultura política e um novo espaço onde a articulação entre os vários partidos é indispensável e é urgente”.

É que, apesar de tudo continuar a funcionar, “as pessoas já estão cansadas desta situação em que ninguém conseguiu chegar a um pacto para formar governo”.

A primeira volta das eleições legislativas espanholas decorreu em Dezembro. O Partido Popular (PP), de Mariano Rajoy, foi a força partidária mais votada, mas não conseguiu revalidar a maioria.

Seguiu-se o PSOE com 22% dos votos, o Podemos (20%) e o Ciudadanos (com quase 14%).

Depois de meses em negociação, não foi possível chegar a um acordo.

Museu recorda cencura do regime de Franco

A conversa com a Renascença decorre no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, que mostra pela primeira vez os anos 40 na arte e na cultura espanhola. A exposição “Campo Cerrado”, o título de um livro de Max Aub, um dos escritores republicanos que se exilou no México, “ é um exemplo do que foi a censura e a repressão durante o regime de Franco”.

A exposição debruça-se sobre a arte e o poder no pós-guerra espanhola, entre 1939 e 1953. Mostra a arte dos exilados e daqueles que ficaram em Espanha a desenvolver ideias de resistência.

João Fernandes diz que foram anos de grande tabu em Espanha, de grande repressão, de censura. “É um assunto de que não se fala no país e queremos abrir uma discussão sobre a história”.

“O museu deve ter essa função, tendo em conta que o tem uma colecção de arte que se centra na Guernica, que é também uma obra de interpelação da arte em relação à sociedade”, defende.

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