25 jun, 2016 - 22:50 • José Pedro Pinto
"Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira". A citação pertence a Johann Goethe. O que a Selecção Nacional viveu, este sábado, em Lens, mais parecia durar uma eternidade, de facto.
Mas foi preciso apenas menos de um minuto para que toda essa vida, que em vários momentos passou à frente dos guerreiros de Fernando Santos, fosse decidida num "clique".
O minuto 117' teve tudo aquilo que os anteriores 116' não promoveram. E, pela primeira vez neste Europeu, Fernando Santos acertou em cheio na combinação. E em todas as mudanças promovidas na equipa das quinas. Partiu do engenheiro a promoção de Renato Sanches a homem do jogo e a atribuição a Ricardo Quaresma do estatuto de homem que decidiu o jogo.
Primeiros números da lotaria: 50 e 87
Nem sequer vamos falar da primeira parte. Má demais para merecer considerações, face a uma etapa inaugural sem qualquer remate na direcção das balizas. De resto, tal cenário prolongar-se-ia até ao tal minuto em que tudo ficou decidido.
Vamos ao que interessa. No meio de um marasmo de ideias e de futebol nada fluído, a bola andava, mais do que longe das balizas, bem distante das área. O receio de perder um lugar no comboio rumo a Paris sobrepôs-se à vontade de passar aos quartos-de-final com futebol de classe.
Ainda assim, no duelo de seleccionadores, Fernando Santos começou cedo a ganhar vantagem na disputa com Ante Cacic.
Foi logo aos 50’, quando o engenheiro perdeu a paciência com a falta de comparência do titular André Gomes e colocou em campo o decisivo elo de ligação entre o meio-campo e o ataque de que Portugal tanto precisava.
Renato Sanches já estava a ferver, após o aquecimento e não arrefeceu a rodagem de pernas nem a vontade.
Entrou determinado em fazer a diferença e, primeiramente a medo, lá conseguiu ir marcando território.
Portugal continuava, contudo, sem capacidade de explosão. Perante a passividade de Cacic, munido de mais-valias no banco, Fernando Santos agiu.
Mesmo a pensar previamente no prolongamento, colocou em campo o talismã, aos 87’. Ricardo Quaresma rendeu João Mário e o tal “rasgo” estava dado à equipa.
Os outros números do prémio: 108, 117 e 122
Passemos à frente, igualmente, a “fita” da primeira metade do tempo extra. O que interessa, o “sumo”, estava na segunda parte.
Aos 108', uma mudança que permitiu ganhar a batalha do meio-campo, com a frescura da entrada de Danilo Pereira.
E chegamos aos 117’: cruzamento para a área, Perisic envia a bola ao poste, de cabeça e o esférico fica solto. O último fôlego antes do desempate por grandes penalidades, estava lançado. Renato Sanches recebe a bola ainda no meio-campo defensivo, aproveita a descompensação croata no “miolo” e progride sem vergonha, sem pejo de fazer algo de importante. E assim fez. Controlou o ímpeto da juventude, não se precipitou, esperou por Nani, Ronaldo e Quaresma e endossou a responsabilidade no primeiro. O extremo “rasgou” a “partida” defesa croata com mestria e isolou Ronaldo. No segundo poste, o remate inicial é defendido por Subasic.
Se fosse película de cinema, o “slow-motion” entraria em cena, com a banda sonora a ser o batimento cardíaco. A baliza escancarada, a bola no ar e o surgimento do “Harry Potter” – vindo sabe-se lá de onde -, com finalização superior de cabeça.
Para acabar o lote dos números da lotaria que saiu a Fernando Santos, o 122'. Desespero croata, já com o guarda-redes Subasic na área de Portugal e Vida a cabecear ao lado. Iniciavam-se as festividades, em Lens.
Pegando na mítica música dos ABBA: “Há algo no ar esta noite, Fernando”. 10 de Julho fica agora mais perto.