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Papa pede que “feridas ainda abertas” possam ser “sementes de perdão e de paz"

25 jun, 2016 - 17:11 • Aura Miguel , enviada à Arménia

Francisco apelou a que se retome o caminho de reconciliação entre o povo arménio e o povo turco e que a paz possa surgir também no Nagorno Karabakh.

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Papa pede que feridas ainda abertas possam ser “sementes de perdão e de paz"

O Papa espera que as “feridas ainda abertas” entre os arménios e os seus vizinhos possam ser “sementes de perdão e de paz” como foram as chagas de Cristo. E apelou aos jovens daquele país para que sejam construtores da paz e seja retomado caminho de reconciliação entre o povo arménio e o povo turco e possa a paz surgir também no Nagorno Karabakh, uma região que está no centro da discórdia entre a Arménia e o Azerbaijão.

“A fé é a vossa verdadeira força, que permite abrir-se à via misteriosa e salvífica da Páscoa: as feridas ainda abertas, causadas pelo ódio feroz e insensato, podem de algum modo assemelhar-se às de Cristo ressuscitado, as feridas que Lhe foram infligidas e que traz ainda impressas na sua carne. Mostrou-as, gloriosas, aos discípulos na tarde de Páscoa aquelas chagas terrivelmente dolorosas recebidas na cruz, transfiguradas pelo amor, tornaram-se fontes de perdão e paz. Assim, mesmo a dor maior, transformada pela força salvífica da Cruz de que os arménios são arautos e testemunhas, pode tornar-se uma semente da paz para o futuro”, afirmou o Papa no discurso que fez no encontro ecuménico pela oração e pela paz, que decorreu na Praça da República, em Yerevan, capital da Arménia.

Francisco lembrou que “são grandes, hoje, os obstáculos no caminho da paz, e trágicas as consequências das guerras”. E enumerou: “Penso nas populações forçadas a abandonar tudo, especialmente no Médio Oriente onde muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem violências e perseguição por causa do ódio e de conflitos sempre fomentados pelo flagelo da proliferação e do comércio de armas, pela tentação de recorrer à força e pela falta de respeito pela pessoa humana, especialmente os vulneráveis, os pobres e aqueles que pedem apenas uma vida digna.”

Francisco defendeu que a memória “permeada pelo amor, torna-se capaz de encaminhar-se por sendas novas e surpreendentes, onde as tramas de ódio se transformam em projectos de reconciliação, onde se pode esperar num futuro melhor para todos” e deixou o apelo aos jovens: “Queridos jovens, este futuro pertence-vos: valorizando a grande sabedoria dos vossos idosos, aspirai a tornar-vos construtores de paz: não notários do status quo, mas ativos promotores duma cultura do encontro e da reconciliação. Deus abençoe o vosso futuro e conceda que se retome o caminho de reconciliação entre o povo arménio e o povo turco, e possa a paz surgir também no Nagorno Karabakh.”

Apelo à unidade e à oração

O Papa começou o discurso a dizer que desejou “ardentemente” visitar a Arménia.

“É uma graça para mim poder encontrar-me nestas alturas, onde, sob a vista do Monte Ararat [onde segundo a tradição encalhou a Arca de Noé], o próprio silêncio parece falar-nos; onde os khatchkar – as cruzes de pedra – narram uma história única, permeada de fé rochosa e de sofrimento imenso; uma história rica de magníficas testemunhas do Evangelho, de quem vós sois os herdeiros. Vim peregrino de Roma para vos encontrar e exprimir um sentimento que me vem do fundo do coração: é o afecto do vosso irmão, é o abraço fraterno da Igreja Católica inteira, que vos ama e está solidária convosco”, disse Francisco que, na primeira parte do seu discurso, falou do diálogo ecuménico, agradecendo o caminho já trilhado pela Igreja Católica e a Igreja Apostólica Arménia e pedindo oração.

“Neste trajecto, precedem-nos e acompanham-nos muitas testemunhas, nomeadamente tantos mártires que selaram com o sangue a fé comum em Cristo: são as nossas estrelas no céu, que brilham sobre nós e indicam o caminho que nos falta percorrer na terra, rumo à plena comunhão”, lembrou o chefe da Igreja Católica.

“A unidade não é uma espécie de vantagem estratégica que se deve procurar por interesse mútuo, mas aquilo que Jesus nos pede, sendo nossa obrigação cumpri-lo com boa vontade e todas as nossas forças para se realizar a nossa missão: oferecer ao mundo, com coerência, o Evangelho”, afirmou Francisco que citou São Nerses, que pregou a necessidade da oração de todos e também de aumentar o amor entre todos.

“Só a caridade é capaz de sanar a memória e curar as feridas do passado: só o amor cancela os preconceitos e permite reconhecer que a abertura ao irmão purifica e melhora as convicções próprias”, declarou o Papa.

A Renascença na Arménia com o Papa Francisco. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

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