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Imobiliário espera "boom" em 2016

20 jun, 2016 - 15:04 • Henrique Cunha

Associação Portuguesa das Empresas de Mediação Imobiliária estima crescimento de 35 a 40% em 2016. Associação Nacional de Proprietários fala em "ilusão" e um economista alerta para os perigos do aumento da concessão de créditos, tanto para habitação como para consumo.

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O sector imobiliário espera um crescimento de entre 35 e 40 por cento em 2016. A estimativa é avançada à Renascença pelo presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP), Luís Lima, que se baseia nos valores alcançados nos primeiros meses do ano, em que os bancos emprestaram mais de 1,615 mil milhões de euros em crédito à habitação.

“Nos primeiros cinco meses deste ano, tivemos um número de transacções que me faz prever, para 2016, um crescimento de 35 a 40 por cento", diz o dirigente.

Luís Lima sustenta e que o mercado imobiliário está a tornar-se uma alternativa ao sector financeiro porque, se é verdade que "o crédito à habitação ajuda" ao aumento de transações, também é verdade que "a confiança no mercado interno está a levar a levantamentos de dinheiro bancos, por causa da incerteza quanto ao sistema financeiro". Nesta altura, "é mais rentável a aquisição de imóveis do que manter o dinheiro no banco".

"Ilusão"

Mais cauteloso, mostra -se presidente da Associação Nacional de Proprietários, António Frias Marques, para quem "as pessoas, no fundo, não aprenderam nada com a crise anterior".

"Essa é a primeira leitura que nós fazemos: na primeira oportunidade, as pessoas espetam-se logo outra vez", declara Frias Marques, notando que "os bancos não estão a abrir créditos novos".

"O que se está a passar é uma transferência do devedor 'senhor A' ao 'senhor B', porque todos esses andares que agora estão a ser vendidos não representam novos créditos", sustenta o presidente da ANP, argumentando: "Como sabemos, o maior proprietário neste país é a banca, Se, agora, aparece um comprador, aparece, provavelmente, iludido pela situação dos juros, que não só estão baixos como, em muitos destes casos, até são negativos. As pessoas iludem-se com isso."

"Esta situação da Euribor estar muito baixa ou até negativa é uma situação absolutamente conjuntural. Nada nos garante que, dentro de seis meses, um ano ou dois, os juros não disparem. Nós sabemos que os créditos são todos concebidos de acordo com a Euribor e as pessoas vêm-se realmente numa situação muito difícil, com um pedregulho enorme atado ao pescoço. Essas pessoas, depois, não vão poder solver os seus compromissos", adverte Frias Marques.

Os perigos

Na análise do economista João César das Neves, o aumento do crédito imobiliário está relacionado com alguma desconfiança face ao mercado financeiro, porque "hoje, as aplicações financeiras directas estão miseráveis, por causa das taxas de juro muito baixas, e, portanto, as pessoas refugiam-se noutros activos e casas são uma das opções".

Ao aumento do crédito à habitação junta-se o do crédito ao consumo e esse já é, para César das Neves, um facto muito perigoso para o desempenho da economia nacional: "Os dados do Bom Portugal mostram que os novos empréstimos só estão a subir nestas duas áreas e isso é preocupante, porque temos a poupança muito baixa, o investimento miserável e não há nenhuma viragem para o lado produtivo, pelo contrário, estamos a virar para o lado do consumo."

"A política do Governo que está, de facto, a promover o consumo. Retoricamente e também com algumas medidas, mas isso é muito perigoso”, remata João César das Neves.

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  • 21 jun, 2016 23:46
    César das neves, ver histórico não acerta uma vez, tipo negativo é que provoca o medo
  • WELLINGTON FERREIRA
    20 jun, 2016 São Paulo 17:46
    Trabalho no mercado de imóveis no Brasil e estava acompanhando esta matéria, conteúdo muito interessante , na minha opinião o mercado imobiliário e o mercado financeiro caminham juntos.

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