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De Caminha a Monte Gordo, uma mota, uma tenda e um “viajante activo"

14 mai, 2016 - 22:09 • Maria João Costa

“Extremo Ocidental” é o novo livro do repórter Paulo Moura. O livro editado pela Elsinore descreve uma viagem de mota pela orla costeira portuguesa feita de mota. O jornalista está hoje no Festival Literatura em Viagem em Matosinhos onde conversou com a Renascença sobre o seu novo livro.

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O que é “ser um viajante activo” como escreve na introdução do seu livro?

É uma frase chave. A minha ideia de viagem tem muito a ver com o trabalho de reporter. Não são viagens de férias, são viagens com objectivos concretos de ir entrevistar pessoas. Para mim, mesmo quando vou de férias ás vezes chego aos sítios e não sei o que fazer. Não tenho esse hábito de viajar de uma forma não activa e contemplativa de ver as paisagens. Eu tenho sempre a tendência de me meter com as coisas, ir falar com pessoas, tenho curiosidade e vou investigar mais e não fico satisfeito enquanto não tiver a história toda. É por isso que digo uma “viagem activa”, é uma viagem de investigação. Era verão, fui de mota com uma tenda e não é uma viagem contemplativa. É encontrar histórias para contar.

A viagem de Caminha a Monte Gordo foi feita de mota. A perspectiva é diferente se fosse de carro ou autocarro?

Há um capítulo no livro em que explico isso. As viagens são diferentes consoante o veículo que utilizamos. O veículo acaba por ser a viagem. É completamente diferente fazer essa viagem de carro ou de bicicleta, a pé ou de comboio. As coisas que se vêem são diferentes, as sensações são diferentes. Há uma espécie de ritmo que o veículo impõe à viagem e que transforma a própria realidade. A viagem de mota é incomparável a uma viagem de carro ou de comboio em que não se vê nada.

É uma experiência mais comparável à do peregrino?

A experiência do peregrino é outra. Eu nunca fui a pé a Fátima ou a Santiago de Compostela mas sabemos que por testemunhos são experiências completamente diferentes. A mota tem esse lado de um certo ponto de vista parecido com o peregrino porque é muito próximo da realidade. Num carro vamos sempre numa espécie de casa ambulante. Numa mota estamos sempre muito metidos na realidade, temos de sentir o frio, o calor, o vento e os mosquitos.

Esta viagem descrita no livro é sempre feita pela orla costeira. Alguns dos textos foram sendo publicados no jornal Público mas há outros que são o registo das memórias que ficaram fora das reportagens?

O ponto de partida foi uma proposta que fiz ao Público de fazer uma série de reportagens no Verão de 2015. Essa é a base do livro. Houve outras que foram feitas antes e outras depois e há também uma parte mais de investigação. O fio condutor é essa viagem, são histórias que são localizadas na costa portuguesa e nas praias. São histórias de pessoas e de factos. São vários tipos de histórias que têm esse fio condutor da costa portuguesa. É algo que quis que estivesse no livro que é uma espécie de filosofia de vida portuguesa que tem a ver com a próximidade do mar e com o viver a praia. Há esta expressão “esta é a minha praia” ou “esta não é a minha praia”, cada pessoa tem um tipo de praia de que gosta ou uma praia que “é sua” para onde costuma ir.

Nem as ilhas ficaram de fora

Sim, inclui todas as ilhas continentais. Faltam as ilhas atlânticas. Isso será para outro livro. Mas estão as cinco ilhas do Algarve, a ilha do Pessegueiro, a Berlenga e a Ìnsua no Minho. Só ficou de fora o Bugio, porque há uma dúvida se aquilo é uma ilha ou não, se é oceânica ou de rio. De resto todas as ilhas continentais estão integradas na costa e fazem parte da paisagem.

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  • Rui Faria
    15 mai, 2016 Gondomar 14:45
    O Moura já tinha escrito um grande livro para a FFMS sobre a malta do interior (EN 2). Agora é a rapaziada da costa! Deve ser melhor que todos os livros juntos do mister fox inimigo da nação alentejana! Parabéns ao Mourinho do jornalismo tuga!

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