06 mai, 2016 - 23:53 • José Pedro Frazão
O antigo Primeiro-ministro Pedro Santana Lopes argumenta que uma previsão de crescimento de 1,6% na zona euro significa que a economia europeia "não descola, não arranca”. Já António Vitorino afirma mesmo que “a Europa não se pode contentar com estes níveis de crescimento. Isso não será suficiente para resolver a maior ameaça à nossa coesão, que é o desemprego. Por outro lado, não será suficiente para que os europeus voltem a acreditar que o projecto europeu é capaz de produzir os resultados económicos que produziu no passado".
O ex-comissário europeu adverte que o crescimento “anémico” na Europa prova igualmente que "a política monetária do BCE não está a produzir os resultados que se pretendia que produzisse: confiança, estímulo ao crescimento e subida da inflação “.
Quadro global de incerteza
Pedro Santana Lopes olha para o quadro global e reconhece múltiplos factores que tornam difícil fazer projecções de crescimento. “Coitada da Comissão Europeia, o melhor é ninguém fazer previsões”, acrescenta o social-democrata. Como factores principais de incerteza, Santana elenca a valorização do euro, as indefinições no mercado petrolífero, o abrandamento nos países emergentes e as incertezas políticas, do Reino Unido aos Estados Unidos
As nuvens continuam pesadas no horizonte, complementa Vitorino que chama a atenção para alguns pontos de interrogação sobre as próximas previsões económicas americanas, a juntar às indefinições em economias emergentes como o Brasil, a Rússia e própria China.
Portugal "quase raquítico"
As previsões para a economia portuguesa ficam em cima das projecções para a zona euro. Isso não chega para Portugal, adverte Santana Lopes.
"Face aos antecedentes da última década, temos muito que recuperar. Este crescimento, se é anémico na Europa, diria que é quase raquítico”, afirma o antigo primeiro-ministro referindo-se a Portugal. "Nós precisávamos de crescer mais do que os outros. Para citar vários economistas, ex-presidentes e ex-ministros, crescer menos que 3% é sempre pouco para a economia portuguesa”.
Santana Lopes não consegue vislumbrar grandes factores de esperança na economia portuguesa, tal como na europeia. "Continuam a existir muitos factores de preocupação no funcionamento da economia, no sistema financeiro”, acrescenta o antigo líder do PSD.
António Vitorino aponta a revisão em baixa de mercados de destino das exportações portuguesas, sobretudo Alemanha e Espanha, como factores preocupantes para Portugal. O antigo comissário europeu considera que a questão central relaciona-se com a competitividade da economia europeia e a convergência dos países - "isso interessa a Portugal”.
O comentador socialista considera que os instrumentos da União Económica e Monetária não são suficientes para travar esta já antiga batalha de criação de estímulos ao investimento para que haja crescimento económico que leve à convergência de países periféricos e do centro da Europa.
Questionado sobre o plano Juncker, Vitorino diz ser cedo para fazer um balanço, mas assegura que a lista de projectos "é preocupante porque não é suficiente para produzir o ‘boom' económico que a Europa precisa".