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António Vitorino. "Tratado comercial UE/EUA não vai ser assinado até ao fim da presidência de Obama”

30 abr, 2016 - 17:27 • José Pedro Frazão

O Presidente dos Estados Unidos acredita que será possível rubricar o novo tratado transatlântico de comércio, alvo de acesas críticas de muitos sectores europeus e americanos. Os comentadores Santana Lopes e António Vitorino estão mais pessimistas e já ponderam as dificuldades ligadas ao próximo inquilino da Casa Branca.

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António Vitorino. "Tratado comercial UE/EUA não vai ser assinado até ao fim da presidência de Obama”

Foi um dos pontos-chave da passagem de Barack Obama pela Alemanha. O Presidente dos Estados Unidos sublinhou a importância das relações comerciais transatlânticas e mostrou esperança num fecho do novo tratado - o TTIP - até ao fim do seu mandato.

“É excesso de optimismo. Não será assinado até ao fim do mandato de Barack Obama. Não creio que estejamos em condições de fechar as matérias que estão em cima da mesa”, declara o antigo comissário europeu António Vitorino. Apesar de uma intensificação das negociações, o comentador do programa “Fora da Caixa” não acredita num desfecho final até ao fim do corrente ano.

“Nas negociações internacionais, há sempre uma hipótese de fechar a um quarto ou a metade para satisfazer a dinâmica negocial. Mas,para ser sincero, o essencial do TTIP não vai ficar fechado até ao final do ano ,mesmo que se chegue a um acordo parcial, intercalar, que será a meio caminho ou um quarto de caminho”, sustenta Vitorino na Renascença.

Pedro Santana Lopes é da mesma opinião, apesar de estar optimista em relação ao acordo final. “ É difícil estar pronto antes do final do mandato. E há o hiato depois da posse, a necessidade de esperar pela entrada da nova administração americana”, complementa o antigo chefe de governo português.

Tratado muito criticado nos dois continentes

As resistências que o tratado vai encontrando na Europa estão a travar o processo negocial. admite António Vitorino.

"A questão do comércio é muito importante para os dois lados do Atlântico. E temos que ser suficientemente realistas para reconhecer que em importantes países europeus, como a Alemanha ou a França, há uma posição das respectivas opiniões públicas muito negativa em relação ao tratado de comércio que está a ser negociado com os Estados Unidos”, afirma o antigo comissário europeu.

António Vitorino sublinha alguns “ sinais muito preocupantes” que vêm dos Estados Unidos, no contexto das primárias para as nomeações dos candidatos dos partidos republicano e democrata à Casa Branca.

"Donald Trump e Bernie Sanders fazem um discurso demagógico contra o comércio livre. E curiosamente a senhora Clinton já começa a dar alguns sinais - pode ser táctica eleitoral, mas é um tema suficientemente sensível para ela começar a dizê-lo - que não está de acordo com o TTIP na sua formulação actual. Deixa ali uma pequenina porta aberta para vir a rever essa posição”, observa o antigo ministro socialista.

"Presidente Trump? Não passa na minha garganta"

Do debate sobre o TTIP, os comentadores do programa “Fora da Caixa” saltam para as incógnitas causadas pelas posições de candidatos como Donald Trump e até de Hillary Clinton.

“Quase que tenho dificuldade em pronunciar a expressão Presidente Trump. Não passa aqui na garganta”, graceja António Vitorino que, como Santana Lopes, confessa não saber o que será um hipotético Presidente Trump, “ a começar por ele próprio, que é o risco maior”.

E se Santana Lopes é um admirador político de Hillary Clinton, António Vitorino não tem dúvidas que o cenário "mais razoável” para os europeus seria a eleição de uma Presidente Hillary Clinton, "favorável também ao multilateralismo e às negociações internacionais”.

O antigo comissário europeu descarta a possibilidade de Hillary ser apenas uma outra versão do actual Presidente.

"Não será um 'Obama 3' porque será bastante mais decidida que Obama, para o bem e para o mal. Obama era excelente na retórica, um grande encantador mas na pratica era muito parco em acção. No temperamento de uma mulher não está essa visão platónica do mundo”, argumenta António Vitorino.

Já Pedro Santana Lopes sugere um cenário apenas teórico e inédito para o próximo mandato presidencial americano.

“E se fosse possível Hillary convidar Obama para Vice-Presidente, já viu? Era curioso. Não há memória disso acontecer, mas constitucionalmente é possível”, anota o antigo chefe de governo, a título de um "devaneio do pensamento” que não acredita ser possível.

Santana confessa ter trocado impressões com Bill Clinton, num almoço em Lisboa, sobre a impossibilidade de terceiras recandidaturas de presidentes norte-americanos.

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