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Habitantes de Fornos de Algodres põem cruzes nos campos e nas casas para afastar trovoadas

30 abr, 2016 - 10:42

Os moradores revivem no dia 3 de Maio, dia da Santa Cruz, a tradição anual das cruzes - feitas com os ramos de oliveira, alecrim e loureiro, designados por "vassouros", que foram benzidos na missa de Domingo de Ramos.

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Cruzes feitas com ramos benzidos são o recurso utilizado pelos habitantes da aldeia de Juncais, no concelho de Fornos de Algodres, para proteger das trovoadas as casas, as palheiras dos animais e os terrenos agrícolas.

Os moradores revivem no dia 03 de maio, dia da Santa Cruz, a tradição anual das cruzes - feitas com os ramos de oliveira, alecrim e loureiro, designados por "vassouros", que foram benzidos na missa de Domingo de Ramos.

A moradora Maria de Jesus, de 80 anos, diz que manda a tradição que cada família de Juncais faça um número de cruzes igual ao número das propriedades que possui.

"No meu caso, faço uma para o quintal, outra para a casa e outra para a fazenda", contou à agência Lusa.

Nas propriedades agrícolas, as cruzes são penduradas em árvores ou colocadas em penedos, nas casas ficam no seu interior e, no caso das palheiras dos animais, costumam ficar seguras nas portas.

"As cruzes ficam lá o ano todo. Ainda lá estão as velhas e, no dia 03 de maio, colocamos outras. As que lá estão vão desaparecendo com o tempo", disse a octogenária.

Maria de Jesus contou que a tradição existe "porque as pessoas diziam que pondo uma cruz a trovoada não vinha às fazendas e não estragava [as culturas agrícolas]".

"E, às vezes, quando vem uma trovoada forte e estamos em casa, acendemos o lume e colocamos uns raminhos destes bentos [do “vassouro”;] para espantar a trovoada", acrescentou.

A tradição tem dado resultado, pois na aldeia não têm ocorrido "muitos problemas com a trovoada", disse.

Ano após ano, no dia da Santa Cruz, pela manhã, os habitantes de Juncais fazem as cruzes com os ramos e, depois, ao longo do dia, distribuem-nas pelos vários locais.

"O objectivo é espantar as trovoadas para não fazerem estragos. Tenho orgulho na tradição e gostava que os mais novos a continuassem", disse Maria da Conceição, de 61 anos, que faz anualmente "umas dez cruzes".

Já Maria Augusta Nogueira, de 92 anos, que cumpre a tradição "desde sempre", só faz uma cruz para colocar em casa. Por isso, o seu "vassouro" é pequeno.

"Quem tiver muitas propriedades arranja um “vassouro”; grande para dar para tudo. Já tive muitos terrenos, mas agora, como não cultivo o terreno, só tenho a casinha, faço a cruz para pôr em casa. Cumpro esta tradição desde sempre, desde que me conheço", declarou.

Os habitantes mais novos da aldeia também procuram manter a tradição, como é o caso de Sérgio Gomes, de 31 anos, que distribui pelos terrenos as cruzes feitas pelos pais.

"Ponho uma em cada pasto [terreno]. Temos oito pastos. Também colocamos em casa e nas palheiras. Desde os dez anos que vou colocar as cruzinhas. Vou sozinho. A tradição sempre foi assim", relatou.

A Junta de Freguesia tem procurado sensibilizar os mais novos para a importância da tradição e para a sua preservação.

"Faz parte da nossa cultura e da nossa identidade e nós enquanto Junta temos de promover estas actividades e relembrar estes rituais ligados à agricultura e aos cultos de protecção", referiu Manuel Paraíso, presidente da União das Freguesias de Juncais, Vila Ruiva e Vila Soeiro do Chão.

Comentários
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  • Lucinda
    14 mai, 2016 França 08:36
    Muito bem ,,,,eu quando era criança também fazia isso, e é bom que certas coisas simples da vida continuem, é isso que faz continuar a nossa cultura, ,porque a cultura é feita de grandes e pequenas coisas!
  • fields
    01 mai, 2016 lx 11:58
    E isso e a tradição de colocar um par de cornos à entrada da porta... também tem que ser preservada esta tradição pois últimamente os cornos tem aparecido muito na cabeca do pessoal e pouco na entrada da porta!
  • incrivel
    30 abr, 2016 port 14:04
    Parece que algum do interior do país ainda não saiu da Idade Media! Analsem bem em quem vota a maioria desta gente e dá para concluir a razão do nosso atraso!...
  • Carlos Gonçalves
    30 abr, 2016 Seixal 13:12
    "A tradição tem dado resultado, pois na aldeia não têm ocorrido "muitos problemas com a trovoada"...a sério??? Pobre país este....
  • rosinda
    30 abr, 2016 palmela 11:55
    Bom fim semana menina!
  • rosinda
    30 abr, 2016 palmela 11:37
    Acabei de ir a facebook de ze perdigao! Qual foi o meu espanto ao ver uma foto descobri que afinal existem 2 zes perdigoes.

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