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DBRS. Baixar o risco de Portugal não interessa a ninguém - por enquanto

29 abr, 2016 - 06:16 • João Carlos Malta

Dois especialistas em mercados ouvidos pela Renascença são unânimes em considerar que a avaliação da DBRS ao risco de Portugal esta sexta-feira deverá manter a avaliação acima do lixo. As surpresas não interessam sequer à própria agência de notação financeira, que assim também mantém os níveis de notação mediática elevados.

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Os avisos têm-se multiplicado. Se o crescimento não corresponder, se o défice não estiver controlado, Portugal pode descer o degrau final que o separa do lixo. A DBRS mantém a pressão sobre o país em alta. A agência de notação financeira canadiana é a única das quatro que são auscultadas pelo Banco Central Europeu (BCE) a manter o rating português em terreno positivo, e, segundo os especialistas ouvidos pela Renascença, assim se deve manter esta sexta-feira.

Não interessa a nenhum dos intervenientes, Portugal, DBRS e BCE, que seja de outra forma. Apesar disso, as razões são diferentes. Pedro Lino, analista financeiro e administrador da Dif Broker, acredita que é de todo o interesse da DBRS “manter o rating português”. “Além de ter consequências catastróficas para Portugal a própria DBRS deixava de ter interesse”, sublinha.

Por isso, crê, a DBRS sabe a responsabilidade que detém e os últimos comentários têm sido de valorização da manutenção da estabilidade com a indicação de alguns alertas. “Indicia que há conversas com o poder político para que se possa manter no nível que permita o investimento”, adianta Pedro Lino.

O economista do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Nuno Teles também acredita que nada mudará depois de sexta-feira. A mudança não daria lucros a ninguém. Se Portugal tem muito a perder, a agência de rating também. A DBRS “teria muita dificuldade em dar uma notação que fosse contra os interesses do BCE”.

O especialista garante que a agência canadiana “perderia relevância junto do BCE se o fizesse”. “Não há interesse de curto-circuitar a política monetária do BCE. No momento em que isso acontecesse teríamos um novo episódio de crise das dívidas soberanas. A especulação sobre a divida pública portuguesa sem a protecção do BCE daria origem a mais um episódio da crise do euro”, enfatiza.

Pedro Lino prognostica que a agência vai deixar alertas quanto à execução orçamental, a evolução do PIB e os compromissos com a Europa. O analista diz que o Programa de Estabilidade foi apresentado recentemente pelo que o bom senso manda dar algum tempo ao governo para o executar.

O administrador da Dif Broker antevê, no entanto, que a partir de Setembro, a história pode ser outra. “Nessa altura, vamos ter muita visibilidade, porque é nessa altura que a execução orçamental já reflecte todas as medidas que o Governo reverteu como os salários da Função Pública e IVA da restauração”, relembra.

E depois garante: “O próximo relatório será muito mais importante do que este. Neste vão ter de esperar para ver”.

A abordagem DBRS

Há uns meses a agência justificou a discrepância das avaliações que faz relativamente a outras empresas de notação financeira de uma outra forma. “A DBRS centra-se nas alterações estruturais, na qualidade das políticas e na sustentabilidade da dívida, no contexto dos fundamentos de crédito dos emitentes [de dívida], e procurar evitar reacções precipitadas aos sobes e desces dos ciclos económicos normais”, escreveu elogiando a previsibilidade que os seus clientes, acredita, preferem.

A agência canadiana defende que a sua abordagem é mais focada no longo prazo e que tende a ser mais estável. "Agora que o período mais agudo da crise retrocedeu para a maioria dos países, as taxas das obrigações estabilizaram num nível que indica o risco de incumprimento mais alinhado com o ‘rating’ de longo prazo da DBRS.”

Nuno Teles ficaria muito surpreendido se houvesse uma mudança da avaliação de Portugal. “O quadro europeu e a sua relação com Portugal é determinante e esse não se alterou. Não há confronto”, reitera o economista.

Sobre se faz ou não sentido uma só agência ter tanto poder, Pedro Lino considera que a pergunta tem o prisma errado. “Foi Portugal que se colocou nesse limbo e todas as agências nos põe um ou dois níveis abaixo”, argumenta.

Quarenta anos de DBRS

A DBRS foi fundada há 40 anos no Canadá e é agora uma agência de actual a um nível global com escritórios em Toronto, Nova Iorque, Chicago e Londres.

Tem como dois maiores accionistas o Carlyle Group (empresa detentora de capital da Altice, que lidera a PT) e a financeira Warburg Pincus LLC, cada um deles com 46,9% do capital.

A agência canadiana foi vendida há dois anos por mais de 440 milhões de euros. Algum tempo antes passou a ser considerada pelo BCE na atribuição de rating. Essa decisão deu maior credibilidade à DBRS, a que se juntou o maior músculo financeiro dado pelos novos investidores.

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  • Banze
    30 abr, 2016 Braga 16:59
    As agências de rating, FMI, bancos, instituições financeiras, empresas e cidadãos comuns também investem na bolsa no mercado secundário, altamente especulativo. E se virem que vão ganhar dinheiro com a falencia de Portugal, não hesitarão em baixar a nota

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