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Dar roupa a quem precisa também é uma obra de misericórdia

27 abr, 2016 - 08:00 • Olímpia Mairos e Aura Miguel

“Vestir os nus” é uma das obras de misericórdia a que os cristãos são chamados e por todo o país multiplicam-se as iniciativas de recolha de vestuário e calçado, que depois são distribuídos por quem mais precisa.

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O projecto "Berço Feliz" é apenas um entre os vários da Associação Entre Famílias, de Bragança, que tem por objectivo o apoio, a defesa e a promoção da vida e da família. Nasceu em 2009, para proporcionar uma “retaguarda e apoio a mães grávidas e puérperas, bem como às suas famílias, assegurando serviços diferenciados, como formação materno-infantil, apoio social, gabinete de psicologia e ateliês pedagógicos”, explica à Renascença o presidente da associação, Cordeiro Alves.

E é nesta dinâmica que se insere a atribuição de enxovais para bebés e outros materiais de puericultura necessários após o nascimento. Os destinatários são as famílias carenciadas, imigrantes e outros grupos sociais desfavorecidos. Os muitos pedidos de ajuda chegam directamente à associação ou vêm através do hospital de Bragança.

Liliana Santos, coordenadora técnica da Associação Entre Famílias, explica que “os enxovais são constituídos por cerca de 30 peças: roupas de primeira necessidade, lençóis, alcofas, ovinhos, carrinhos e outros produtos de puericultura, como chupetas, fraldas, biberões, cremes hidratantes e outros”. A preços de mercado cada enxoval ronda os 300 euros a 400 euros e é constituído por material oferecido por particulares e empresas da região.

Depois de feita a triagem por voluntários ou estagiários da associação, a roupa que está em bom estado é lavada e preparada para que “só seja doado o que realmente está em bom estado”. Mas há sempre a preocupação de oferecer algo especifico a cada mãe. “Aproveitamos algumas voluntárias e também pessoas seniores de outros projectos que saibam tricotar, a quem pedimos para fazer um casaquinho ou um soquetinho para aquele bebé especifico”, explica Liliana Santos.

A dignidade de quem chega e precisa está sempre presente na missão da Entre Famílias que tem o cuidado de embrulhar os enxovais que oferece em papel de presente. “Se o papel for azul é porque é menino; se for rosa ou laranjinha é porque é menina”.

E “é sempre com um rasgado sorriso, quase de orelha a orelha, que as mães recebem os enxovais”, diz Liliana, recordando a surpresa de uma mãe ao receber o presente. “Lembro-me de uma mãe de nacionalidade brasileira que, ao lhe entregarmos o enxoval, não queria acreditar que aquele embrulho tão grande era para ela. Depois de questionar ‘isto é tudo para mim?’, colocou o embrulho no chão, agarrou-se ao nosso pescoço e deu-nos um abraço, ao mesmo tempo que deixava escapar uma lágrima pelo canto do olho”, conta.

Além de vestir os bebés com os enxovais, a Entre Famílias disponibiliza também gratuitamente vestuário para os restantes membros da família. “Quando vem a grávida, tem outros filhos ou marido, ela pede sempre para levar roupa para a família. Como associação dedicada à família, jamais poderíamos negar esse apoio e, portanto, também lhe é dado”.

A Associação Entre Famílias, nestes seis ano e meio de actividade, já apoiou com roupas cerca de 150 mães, num total de aproximadamente 350 famílias, uma missão que faz na gratuidade, mas que é “muito gratificante”, sublinha à Renascença o presidente da instituição.

Um roupeiro social no centro de Lisboa

Na Baixa de Lisboa a paróquia de São Nicolau tem um roupeiro social organizado, onde se recolhe vestuário e calçado, e também roupas para a casa.

Cada caso é um caso, e por isso o primeiro passo é falar com uma assistente social, na Rua dos Douradores, n.º 57 e, depois de registados, os mais pobres e sem-abrigo podem passar pelo 1.º andar da Igreja da Madalena.

Sempre às quartas-feiras, um grupo de voluntárias desdobra-se à volta de sacos, cabides, armários e prateleiras, numa azáfama que mistura saias, vestidos, calças, camisas, fatos completos, camisolas, roupa de bebé e também, sapatos, cintos, carteiras, lençóis, cobertores e toalhas, entre outros.

Apesar do trabalho, nada está fora do lugar e, para quem ali chega, o impacto é muito acolhedor.

A Renascença cruzou-se com três beneficiários deste serviço, gratos pela constante disponibilidade das voluntárias em tentar arranjar-lhes peças do seu agrado – como, por exemplo, o Carlos, radiante com uma calças novas adequadas ao seu número grande, por ser mais alto que a média dos portugueses; ou como o marido da Ângela (impossibilitada de sair de casa) que encontrou a saia certa e umas sabrinas para lhe levar.

Naquele dia, Teresa, Margarida, Maria Miguel e ainda outra Teresa distribuem as tarefas entre si e dedicam o seu tempo livre a estas pessoas. Garantem que a experiência que ali fazem é muito compensadora e que, apesar da fadiga, vale mesmo a pena porque aprendem muito: a ser humildes, a viver com maior simplicidade e dar mais atenção aos outros. Uma sabedoria humana que se reflecte não só ali dentro, mas em todo o seu dia-a-dia e para o resto da vida.

As reportagens em Lisboa e Bragança sobre a obra de misericórdia “Vestir os nus” foram um dos destaques do programa Princípio e Fim de 24 de Abril.

Comentários
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  • Orabem!
    27 abr, 2016 açor 13:15
    Oh João, se for para pensar assim, ninguém ajuda ninguém. Para as pessoas venderam em mercados, realmente é porque deve ser mesmo novinho ou bom, mas como muitas pessoas não têm dinheiro para fazer face a certas despesas, até as alimentares, não vejo qual é o problema. Ser pior é ir vender para consumo de bebidas. Mas vamos também pensar que nem todos poderão ser assim. Generalizar tudo, também não é muito não é uma forma muito inteligente de ver as coisas.
  • Joao
    27 abr, 2016 Lisboa 08:39
    Sfetivamente é....mas depois aperecem a vender em mercados!!!!

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