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União das Misericórdias alerta: Lares não estão preparados para cuidar de pessoas com demência

06 abr, 2016 - 07:32

Nove em cada dez idosos têm alterações cognitivas que sugerem demência, segundo um estudo integrado no projecto VIDAS - Valorização e Inovação em Demências.

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Os lares não estão preparados para cuidar das pessoas com demência, denunciou o responsável da União das Misericórdias pela área da saúde, que defende uma mudança de paradigma com mais formação, mudanças arquitectónicas e apoio domiciliário mais forte.

O psiquiatra Manuel Caldas de Almeida apontou que o envelhecimento da população é um facto, do qual decorre que algumas pessoas tenham demência e outras grandes dependências físicas.

Um estudo da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), integrado no projecto VIDAS - Valorização e Inovação em Demências, concluiu que 90% dos idosos nos lares tem alterações cognitivas que sugerem demência, sendo que dentro deste grupo, 78% tem efectivamente demência.

O estudo, que demorou cerca de dois anos, envolveu 1.503 idosos de 23 instituições, avaliados por psicólogos e neurologistas para detectarem a existência de demências e o seu grau.

Caldas de Almeida enfatizou que não é o facto de um idoso estar num lar que provoca demência, já que se trata de uma doença crónica, mas apontou que a evolução da doença e a velocidade a que ela se faz "pode ter a ver com ambientes estimulantes".

"Se nós tivermos lares em que as pessoas não são trabalhadas, não têm ambientes estimulantes, em que não há actividades lúdicas, actividades de estimulação, então as pessoas que têm demência podem parecer estar numa fase mais avançada, podem ficar mais lentificadas, mais tristes, podem ficar com a demência mais avançada", apontou o psiquiatra à agência Lusa.

Nesse sentido, defendeu uma aposta em ambientes estimulantes, com neuropsicologia adaptada e onde haja profissionais competentes para que as pessoas com demência tenham melhor qualidade de vida e a doença evolua mais lentamente.

Mudar o paradigma

Sustentou, por isso, que "é urgente" mudar o paradigma dos lares, apostando num apoio domiciliário "mais forte", ao mesmo tempo que se fazem mudanças arquitectónicas nas instituições que acolhem estas pessoas.

Segundo Caldas de Almeida, são duas as prioridades: renovar tecnicamente os lares para ficarem adaptados às pessoas com demência e apostar na formação.

"Sabe-se que profissionais qualificados, profissionais com competência relacional para tratar as pessoas com demência, previnem em 90% as reacções secundárias, que são a agitação e a agressividade, as alucinações", apontou.

Acrescentou que é possível, sem medicamentos, melhorar muito a qualidade de vida destas pessoas se, quem estiver com elas, souber estar, o que faz com que a formação seja uma "arma fundamental".

"Se não fizermos isto, há muita gente a sofrer em Portugal porque estamos a prestar cuidados inadequados", apontou Caldas de Almeida.

Admitiu, por outro lado, que há uma percentagem muito elevada de pessoas com demência em fase inicial a quem não é reconhecida a doença e explicou que isso acontece não só porque quem as acompanha não está alerta para os sinais iniciais, mas também porque as pessoas com demência tentam esconder os seus problemas.

O responsável referiu que no decorrer do projecto VIDAS foi dada formação a 480 pessoas, durante mais ou menos um ano, entre auxiliares, médicos, terapeutas e dirigentes, vindos de 23 instituições.

Além disso, foi também feito um trabalho de levantamento das necessidades arquitectónicas e a conclusão foi a de que só uma das 23 instituições não era adaptável às necessidades das pessoas com demência.

Comentários
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  • Ana Monteiro
    17 abr, 2018 Lisboa 22:55
    É bom que se levem a sério os estudos....mas ao longo dos tempos constato que os lares são virados para o lucro, quantos de nós por motivos familiares nos deparamos com locais onde os poucos profissionais se resumem a cuidadores de idosos apenas preparados para as tarefas de conforto e alimentação esgotados porque trabalham sempre nos mínimos que se desesperam porque se apercebem de condições muitas vezes desumanas, enfermeiros que apenas vão a tarefa para a preparação de medicação/pensos e avaliações de parâmetros vitais básicos, muitos utentes estão acamados e ficam no turno do final da tarde e na noite sem cuidados de enfermagem é isto decorre há muitos anos com conhecimento das entidades competentes logo o que importa é que se mude muito não basta fiscalizar quando as instituições abrem mas deve haver monitorizacao constante e adequação as necessidades e novos paradigmas .
  • Berta Benevides
    10 abr, 2018 Vila Nova Gaia 22:02
    Interesou-me comentar esta notícia, sou Técnica Acção Direta e estou completamente de acordo com a notícia. Obrigada
  • Maria João Lourenço
    10 abr, 2018 Torres Vedras 08:49
    Muito simples... Em vez da segurança social fazer vestorias a papelada que não interessa, é só confirmar se as instituições dão referida formação obrigatória aos funcionários... Quanto á estimulação cognitiva é cada vez mais importante o papel fixo a tempo integral da Animação Sociocultural Geriátrica e que os responsáveis das instituições percebam de facto o papel de uma Animadora (não de um palhacinho) pois uma Animadora Geriátrica tem capacidade para saber interpretar diversos sinais de demência, assim como capacidade de trabalho para estimular/desenvolver diversas actividades com os utentes que têm demência. Haverá vestorias para isto? Ou será uma perda de tempo?
  • 08 abr, 2018 23:13
    O Sr. Caldas de Almeida descobriu a pólvora!!! Ficamos à espera de saber o valor que este senhor vai exigir ao estado para receber cada um destes doentes nas SCM ou no apoio domiciliario. É que os cuidados prestados por estas instituições são pagos a preços elevadíssimos e não vejo que recebam doentes que não tenham possibilidades econômicas para pagar os valores exigidos. Infelizmente o conceito de Santas Casas da Misericórdia há muito que desapareceu. No meu dia a dia vejo mais privados a ajudar situações de vulnerabilidade do que as Misericórdias.
  • ligia matos
    16 out, 2016 coimbra 16:46
    Tenho a minha mãe com demência e em 3 meses teve uma evolução galopante.Procuro informações sobre os melhores lares q saibam lidar com esta situação em Coimbra q a ajudem a ter alguma qualidade de vida.Obrigada.
  • M Natália S Fernnad
    10 abr, 2016 Arrabel Leiria 16:08
    Boa tarde Trabalho na área da terceira idade, e noto que a dificuldade para lidar com eles ao nivel da demência esta a ser muito e cada vez mais dificil, Por isso gostaria de ser informada se possivel onde e quem me pode ajudar a tirar uma profissionalização nesta área. Onde e a quem pode profissionalizar pessoas para esta área na zona de Leiria. Obg M. Natália Fernandes

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