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Sílvia Pérez Cruz. Uma voz espanhola que compõe em português

30 mar, 2016 - 06:03 • Maria João Costa

Lisboa e Braga recebem os primeiros concertos solo de Sílvia Pérez Cruz, que já cantou fado ao lado do pianista Júlio Resende. A artista espanhola tem um novo disco, "Domus", e apresenta-se com um quinteto de cordas. Já escreveu música em Português, inspirou-se no Alentejo, onde vive a irmã e onde compõe sempre que a visita.

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Diz que canta "canções e emoções". Sílvia Pérez Cruz já foi aplaudida de pé no auditório da Fundação Gulbenkian, quando aí subiu ao palco para acompanhar o pianista Júlio Resende e arriscou cantar um fado. Agora, apresenta-se em nome próprio, esta quarta-feira, no palco do Grande Auditório da Gulbenkian e, na quinta, no Theatro Circo, em Braga.

Sílvia nasceu na Catalunha, há 32 anos. Gosta de cantar diversos géneros musicais e o fado é um deles. Tem um novo trabalho que irá apresentar nos espectáculos agendados para Portugal com o seu quinteto de cordas.

A Renascença conversou com Sílvia Pérez Cruz, na Fundação Gulbenkian. Questionada sobre o seu regresso àquele palco lisboeta, a cantora mostra-se surpreendida: "Como pode ser? O que se passou? Ontem mesmo tomei consciência de que vêm para me ver."

Para Sílvia, "cantar é estar vivo e, em alguns momentos, ser feliz". Diz que é a partir da música que "compreende a vida". Talvez por isso conclua que, para si, não há uma "carreira, mas sim uma maneira de viver". Sílvia Compõe as suas canções, um trabalho "solitário e matemático" em contraponto ao palco, onde há "algo mais animal, emoção e sério".

Além de já ter partilhado o palco com o português Júlio Resende, recorda que também já cantou com António Zambujo e Cuca Roseta. Sílvia fala de uma relação "super especial" com Portugal e lamenta que Espanha, embora esteja perto, por vezes esteja tão distante na relação com o país vizinho.

O fado e o Alentejo de Sílvia Pérez Cruz

"Canto com tanto amor e tenho consciência de que não sou cantora de fado, mas respeito muito os fadistas", explica Sílvia Pérez Cruz, que, no ano passado, na Gulbenkian, cantou quatro temas, dois deles fados acompanhados ao piano por Júlio Resende, com quem colaborou no álbum "Fado & Further".

A espanhola sabe que, para os portugueses, "o fado é sagrado", mas, quando gosta muito de uma canção, quer cantá-la e arriscou no palco da Fundação Gulbenkian, que a recebe de novo.

Sílvia lembra que, na altura, o público "aplaudiu de pé" e que o seu primeiro pensamento foi: "Que bem! Que bonito!", mas logo tomou consciência de que, "se não gostassem, teria ali passado um mau bocado".

Na plateia, estava a irmã, que vive há 15 anos em Monsaraz, no Alentejo. Por isso, para Sílvia, "significa muito" actuar num palco português e arrancar a reacção do público.

A artista defende que há uma "sonoridade da Península Ibérica" e explica à Renascença que já escreveu músicas em português. Na entrevista, a cantora catalã indica que compõe "quase sempre" que vem a Portugal, "duas a três vezes ao ano". É a "calma" do Alentejo que a inspira e a língua portuguesa que tem uma "sonoridade" de que gosta.

"Domus", a nova casa música de Sílvia

Sílvia Pérez Cruz chega a Lisboa com um quinteto de cordas e promete apresentar alguns dos temas do novo disco "Domus", editado pela Universal Music. Explica que "o repertório é uma mistura de versões" de que gosta e de outras que a fazem feliz. Nos espectáculos portugueses, vai recordar temas do primeiro disco a solo, "11 de Novembre", e alguns temas do novo trabalho.

O seu mais recente disco foi escrito como uma banda sonora para o filme "Cerca de tu Casa", de Eduardo Cortés, e tem músicas escritas em castelhano, inglês, galego que herdou do pai, e em português. O filme, que fala sobre a realidade dos sem-abrigo, leva-a a rotular "Domus" como um álbum diferente.

Sílvia admite que no seu primeiro disco "falava de emoções", porque o escreveu após a morte do seu pai. Para a cantora, foi como uma "purga" a escrita do disco que diz ter vindo de dentro. Situação contrária passa-se com o seu novo trabalho. "Domus é a primeira vez que escrevo desde um ponto de vista externo". Por isso, teve primeiro de se apropriar das histórias dos sem-abrigo que inspiram o filme de Cortés para então depois escrever os temas musicais. O processo levou-a "abrir portas que não conhecia".

Para a cantora que diz a" música é um mundo", a arte de cantar surgiu naturalmente. Aprendeu "muitos estilos à procura de pontos de contacto e das diferenças" para criar a sua própria linguagem musical.

"Estudei clássico, jazz, flamengo, folclore sul americano, pop, rock", conta, mas sempre à procura de um "vocabulário". Para ela, "a verdade é que a música popular foi sempre uma boa base porque é muito generosa, tem simplicidade", mas pode ser manipulada para chegar a sítios muito diferentes. Será por esses sítios que andará nos concertos de dia 30 e 31 na Gulbenkian, em Lisboa, e no Theatro Circo de Braga.

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  • rosinda
    30 mar, 2016 palmela 13:01
    Se ela nunca partilhou o palco com ze perdigao nao sabe o que e bom!

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