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​Angola. “Alguém pergunta de onde vem o dinheiro chinês para comprar um banco em Portugal?”

29 mar, 2016 - 01:09 • José Pedro Frazão

Em declarações ao programa Falar Claro da Renascença, o social-democrata Nuno Morais Sarmento não percebe a "pretensa autoridade moral para opinarmos sobre Angola”, num comentário à condenação de 17 activistas. O socialista Vera Jardim diz que a sentença lembra os tempos de ditadura em Portugal.

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Morais Sarmento questiona "autoridade moral para opinarmos sobre Angola”
Morais Sarmento questiona "autoridade moral para opinarmos sobre Angola”

Há dois pesos e duas medidas da sociedade portuguesa em relação ao tratamento de violações de direitos humanos em Angola e na China, afirma Nuno Morais Sarmento no programa “Falar Claro” da Renascença.

“Não percebo este nosso ‘encucanço’, esta nossa pretensa autoridade moral para opinarmos sobre Angola, quando nos calamos cobardemente, se for preciso, quando o dinheiro é de um país como a China, porque aí nos interessa e não temos tamanho para questionar”, afirma o comentador social-democrata.

Portugal tem dois pesos e duas medidas para China e Angola? “Exactamente”, responde Morais Sarmento. “Os chineses compram um banco em Portugal e alguma vez alguém se preocupou em perguntar de onde vem o dinheiro dos chineses? Qual o respeito do estado chinês pelos direitos humanos como os conhecemos? Nós aí calamo-nos”, argumenta o social-democrata.

O antigo ministro do PSD fala num “tonto complexo colonial ao contrário” que implica “responsabilidade – ainda vá que não vá – e autoridade moral – isso é que não percebo – sobre aqueles países”.

Estado de Direito diferente em África?

A justiça angolana condenou 17 activistas, entre os quais o ‘rapper’ Luaty Beirão, a penas entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses de prisão efectiva, por associação criminosa e de estarem a preparar acções de rebelião.

Em declarações à Renascença, Nuno Morais Sarmento não deixa de criticar condenações por delito de opinião.

“Reafirmo a minha posição de princípio a quaisquer condenações por delito de opinião. Mas reafirmo também aquilo que me pareceu ser uma desproporcionada visibilidade e emoção que este caso causou face a outras situações que, desde logo em Angola, fomos conhecendo ao longo dos tempos”, sustenta o antigo ministro da Presidência.

O social-democrata afirma que a noção de Estado de Direito em África não corresponde à que vigora na Europa. “É a primeira coisa que temos que começar a perceber. Achamos que podemos exportar modelos civilizacionais, culturais e políticos como se fossem verdades absolutas”, acrescenta Morais Sarmento.

Julgamento lembra ditadura

Já o socialista Vera Jardim diz que a sentença lembra os tempos de ditadura em Portugal.

“Estas sentenças fazem-nos lembrar sentenças de outros tempos por pessoas que queriam organizar-se para lutar por reformas democráticas, na altura da ditadura, ou mais democráticas como em Angola. Porque, apesar de tudo, Angola tem partidos e um parlamento organizado em partidos, mas necessita de melhorar muito as suas bases de regime democrático.”

O antigo ministro da Justiça diz que “não é bom para Angola que um grupo de jovens não possa trazer o seu contributo para o debate politico em Angola”.

“Acompanho o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, esperando que possam ser, em fase de recurso, revistas estas sentenças que me parecem extremamente duras. A reacção da diplomacia portuguesa parece-me equilibrada, fazendo esse quase apelo ou esperança no regime de recurso”, conclui Vera Jardim.

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  • 14 mar, 2019 16:49
    Shame on you! Angola's lawyer boys... Corruption remains widespread in Angola due to a lack of checks and balances, insufficient institutional capacity and a culture of impunity. Practices of nepotism, cronyism, and patronage pervade procurement rendering the procurement process opaque and corrupt. The oil and mining sector in Angola are considered especially high-risk areas for corruption. Clientelistic networks generally govern the way business is conducted in Angola with many Angolan companies functioning as front organizations for government officials whose integrity and accountability are frequently questioned by observers. Active and passive bribery, illicit enrichment and conflict of interest are criminalized by the Probity Law, but offenses are rarely prosecuted. Gifts and facilitation payments are a common part of doing business in Angola.
  • EU
    31 mar, 2016 12:20
    Não entendo esta opinião do SR Morais. Não é por se chamar Morais que tem o dom da Moral. Ora não é por um país ter um parlemento que se possa dizer que é democrata. Não sei porque ficou tão ofendido esse senhor. EU sou simpatizante do PSD mas continuo a dizer que em Angola vigora um regime comunista. Não há liberdade, nem propriedade privada, os capitais estão controlados pelo Estado, não sei qual é a dúvida! Angola é tão comunista como a CHINA. Sr Morais o que é que eu não sei sobre Angola e que o Sr sabe para ficar tão indignado? E quanto ao Sr Vera Jardim... Deveria dizer antes "EM Angola vigora uma ditadura semelhante à CHINA, A CUBA ou À URSS!
  • Luis
    30 mar, 2016 Lisboa 14:01
    Ó Nuno, quem te disse a ti que percebias da poda? Pois é estamos em Portugal e em pseudo democracia pelo que qualquer comissario politico é livre de intoxicar e agredir o publico com as suas idiotices.
  • ALIEN
    29 mar, 2016 LISBOA 20:34
    Esta cupula foi escolhida a dedo pelo Passos, todos filhos de ex colonialistas angolanos. Nem é preciso dizer mais. Se tem duvidas investiguem. Portanto estas perguntas vindas de quem vem são estritamente imorais de «sonhadores de ex colonos» que pensaram fazer o mesmo cá o que os pais e os avós por lá fizeram. Enganaram-se e estamos atentos.
  • CAMINHANTE
    29 mar, 2016 LISBOA 19:50
    Nuno Morais Sarmento defende em causa dos interesses pessoais. Como é óbvio, qualquer Estado Democrático tem legitimidade para criticar atitudes não democráticas de outros Estados. Não se trata de pretensa autoridade moral ( que argumentação tola...) mas de coerência da parte de quem se pretende democrata. O processo a decorrer em Angola , contra os activistas opositores do Regime , é manifestamente um processo anti- democrático . Mas compreendo que o Estado Português, por superiores e quase vitais interesses não deve, enquanto Estado, hostilizar o actual Poder em Angola. Mas pessoas, cidadãos, de Portugal, entidades não estatais, têm o direito de criticar aquilo que é claramente criticável. E, todavia, não significa que seja bom para Angola uma súbita alteração do Regime Vigente . Progressivamente o Regime tem de se "abrir" e permitir as vozes dissonantes de se exprimirem e manifestarem . A bem de Angola ( e até do próprio Partido que domina o Poder). Permitam -me uma piada : nem que seja para Morais Sarmento ficar mais calmo e deixar de dizer disparates .
  • fr
    29 mar, 2016 Portugal 02:35
    O que interessa é o dinheiro. Em todo o lado do mundo.

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