Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

"Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”

23 mar, 2016 - 01:42 • Raquel Abecasis

Em entrevista à Renascença, a irmã Irene Guia não tem dúvidas de que, por mais que a Europa faça, não vai conseguir travar o caminho a estas pessoas. "Quem é refugiado é como a água, quando há um furo num cano a água encontra maneira de chegar onde quer", diz a missionária portuguesa.

A+ / A-
"Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”
"Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”

"Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”. O testemunho é da irmã Irene Guia, missionária da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.

A missionária portuguesa tem uma longa obra junto de refugiados nas mais diversas latitudes. Faz parte da direcção da plataforma de apoio aos refugiados e esteve recentemente na Grécia, no campo de Idomeni.

A irmã Irene diz que o acolhimento aos milhares de refugiados que procuram um lugar na Europa é a primeira obrigação para os que querem seguir o apelo do Papa Francisco de viver o Ano Santo da Misericórdia.

“Depois deste acordo entre a União Europeia e a Turquia, de repente, durante a noite de ontem [segunda-feira], o campo de Moria que tinha 10 mil pessoas, desapareceram todas. Foram levadas e evacuadas para outro sítio. Tudo isto, para mim, revela que estamos a necessitar mais do que nunca de falar da misericórdia e sobre o que é que significa misericórdia”, afirma.

Aos que têm dúvidas sobre a motivação destas pessoas, a Irmã Irene explica: "Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais, porque senão eu não me vinha embora. Por isso, faz-me um bocado de complicação quando se fala de migrantes e a União Europeia continua a insistir em falar de migrantes. Qual é a diferença? A diferença é que a maior parte dos refugiados não seriam migrantes, esta é a diferença. Foram obrigados, são obrigados para salvar a vida.”

A missionária portuguesa defende que “quem foge não tem liberdade de escolha”. “É instintivo, eu não fico à espera que me matem. Quando fujo é porque não tenho mesmo alternativa, já vi demais e não me organizo, são aquelas pessoas que não se organizam”, sublinha.

Um refugiado é como a água, encontra sempre caminho

Numa entrevista em que testemunhou a sua experiência de vida em campos de refugiados em Timor-Leste, Ruanda e Congo, esta religiosa diz não ter dúvidas de que, por mais que a Europa faça, não vai conseguir travar o caminho a estas pessoas.

"Quem é refugiado é como a água, quando há um furo num cano a água encontra maneira de chegar onde quer, não é por pormos aqui um tampão que aquilo vai resultar, não vai. Pela parede vai encontrar outra brecha, a água encontra sempre um caminho por onde passar quando não tem canal adequado. Com a Europa vai acontecer o mesmo, enquanto não houver um canal adequado este fecha-se e eles vão encontrar outro. Agora estão a tentar atravessar um rio que tem uma corrente incrível e já nos podemos vangloriar que já morreram pessoas nessa travessia.”

A irmã Irene Guia alerta para os riscos de impedir a reunificação familiar e explica que “a palavra foi: Venham depressa porque isto está a ficar cada vez mais complicado”. Esta é a razão, adianta, porque agora são principalmente mulheres e crianças que estão a chegar à Grécia.

Num alerta final esta missionária recorda o aviso feito pelas mulheres prémio Nobel da Paz. “Isto vai fazer com que as mulheres vão salvar os filhos mas, para isso, vão por-se nas redes de prostituição. Se tiverem que vender o corpo, vão vender o corpo. Se tiverem que alimentar os filhos, vão alimentá-los. A mulher faz isto", conclui a irmã Irene Guia.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Rui Cabral
    23 mar, 2016 Lisboa 21:22
    Olá Irene O Teu nome assim o indica, Tu és uma "Senhora GUIA" na vocação que escolheste para a Tua Vida. Cordiais cumprimentos
  • António Costa
    23 mar, 2016 Cacém 09:52
    Epilogo: Quando recebemos doentes em nossa casa e nos Recusamos a tratar a doença, morremos com a mesma doença também.
  • António Costa
    23 mar, 2016 Cacém 08:53
    Não tem liberdade de escolha? TEM SIM! Então porque não metem o "Islão na gaveta"? Porque é que ensinam aos filhos as Ideias que lançaram os seus países na guerra e a destruição nas suas vidas? Porquê tanto Medo de em primeiro lugar ensinar às pessoas O MAIS IMPORTANTE? Francamente, quando uma pessoa está doente com gripe, não a colocamos na rua, a apanhar chuva, pois não? Tratamos dela colocando-a numa cama! Afastamo-la das CAUSAS do problema e só depois vem o resto, eventualmente um chá quente e medicação quando necessária, mas só depois de termos AFASTADO a pessoa do que lhe provocou a doença! Mustafa Kemal Atatürk aquando da derrota do Império Otomano no final da I Grande Guerra foi o que fez! Colocou o "Islão na Gaveta" e tentou modernizar a Turquia com uma nova constituição "inspirada" na de França! Os refugiados não tem culpa! Nós é que não estamos a fazer o que é devido e o resultado é que as Ideias que lançaram a destruição nos países de origem dos refugiados continuam a ser defendidas nos "bairros" em que estes e as gerações seguintes vivem. Basta de Molenbeeks! Os fugitivos a Hitler que Aristides de Sousa Mendes ajudou não vinham defender o Nazismo, pois não?

Destaques V+