18 mar, 2016 - 07:13 • Marta Grosso
A maneira como encaramos a vida molda a qualidade do nosso sono. Quem o diz é Teresa Paiva, neurologista responsável por duas clínicas do sono.
“As pessoas querem muito a droga e a solução milagrosa, a coisa que faz tudo. Mas o milagre está dentro de cada um de nós”, sublinha a especialista. Teresa Paiva deixa seis dicas fundamentais para um bom sono.
1 - Considere o sono como algo importante e agradável; goste de dormir.
2 - Não faça nem de mais nem de menos. Trabalhar, fazer exercício físico e comer são actividades essenciais à condição humana, mas há limites a respeitar.
3 - Implemente e respeite regras adequadas às suas necessidades de sono e em equilíbrio com as exigências profissionais e quotidianas.
4 - Use o bom senso.
5 - Relativize os problemas. “Se houver uma guerra é um grande problema”. Os outros são relativos e “não olhar para eles de uma forma mais positiva ou mais distante” custa-lhe uma boa noite de sono.
6 - Adapte-se à vida e seja o milagre.
“Fazer um bocadinho menos”
“Mesmo nas vidas atribuladas que as pessoas têm, muitas vezes mais vale não fazer tanto. Fazer um bocadinho menos. Mais vale não trabalhar tanto e ter regras: é imprescindível”, sublinha a especialista, no Dia Mundial do Sono.
Teresa Paiva dá um exemplo para ilustrar a importância do sono. Quem dirige uma empresa tem muitas responsabilidades e a vida de outras pessoas nas suas mãos. Isso aumenta a pressão e as preocupações. Mas se o descanso não fizer parte das suas prioridades, a capacidade para resolver problemas e levar a empresa a bom porto poderá ficar comprometida.
“Se essa pessoa descansar um bocado mais e começar a modificar um bocadinho a perspectiva que tem em relação às coisas, vai resolver os problemas de uma forma muito melhor e muito mais eficaz”, afirma Teresa Paiva.
Nos casos de grande exigência profissional as regras tornam-se ainda mais prementes. “É como um atleta de alta competição. Tem de ter mais regras” para “trabalhar muito melhor. Evidentemente que cada um tem depois de ver as circunstâncias em que trabalha e definir o que é dispensável e não é dispensável”.
Teresa Paiva dá outro exemplo: uma mãe que trabalha o dia inteiro e atura as birras dos filhos ao final do dia. “É evidente que lhe dá vontade de gritar e irrita-se”, reconhece a especialista, mãe de três filhas.
Mais uma vez, a importância das regras e de tirar um tempo para si. “Se a pessoa, em vez de trabalhar até às 20h00, trabalhar até às 19h00 ou, se possível, às 18h30, tem um bocadinho para si que faz com que chegue a casa bastante melhor e com mais paciência para os filhos”. O sono também lhe vai agradecer.
O trabalho fora de casa combinado com o trabalho doméstico dá, muitas vezes, um total de mais de 50 horas semanais. “Tenho doentes a trabalhar mais de 90 horas por semana” – naturalmente, “têm a vida completamente estragada”.
“Uma escravatura cor-de-rosa”
Numa altura em que as exigências do mundo laboral são cada vez maiores a busca do equilíbrio torna-se imperativo – a bem da saúde. “Para pensar bem temos de estar bem connosco próprios. Essa é uma regra fundamental”, sublinha Teresa Paiva.
A especialista chama “escravatura cor-de-rosa” ao “turbilhão do trabalho e do sucesso”, “das obrigações, dos prazos, dos objectivos” e da burocracia.
Para sair desta “escravatura”, que tem consequências nas horas e na qualidade do sono, é importante tomar consciência de que “nenhum médico pode fazer milagres. Nós somos o milagre”.
O desejo desta especialista para esta sexta-feira e todos os dias do ano é, por isso: “Durmam bem, sejam felizes”.