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É possível fazer diferente na relação dos jovens com os media

07 mar, 2016 - 08:54 • André Rodrigues

Uma investigadora universitária estudou os hábitos de consumo em várias famílias, incluindo um grupo de famílias numerosas católicas. E encontrou diferenças.

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"É possível pensar e agir de forma diferente" em relação aos media. A tese é defendida por Adriana Oliveira, investigadora, autora de uma tese de doutoramento que analisa os consumos de televisão e internet no universo das famílias numerosas católicas.

Em declarações à Renascença, esta docente do Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (ISCIA) admite que as conclusões desta investigação contrariam outras "que sugerem que os jovens passam três a quatro horas por dia a consumir internet” e a própria percepção de que a sociedade evidencia uma dependência galopante face aos novos meios sociais potenciados pelas novas tecnologias. As diferenças não se ficam por aqui. “Não é apenas uma questão de tempo. É o próprio tratamento que é dados aos conteúdos que se consomem”, sublinha.

Nas famílias numerosas católicas que foram objecto de estudo, “temos pais e filhos a consumirem televisão a uma média diária de 30 minutos a uma hora. No caso da internet, os pais consomem, em média, até 30 minutos por dia e os filhos entre meia a uma hora".

Parece conservador? A realidade espelhada na investigação conduzida por Adriana Oliveira pode ser bem mais restritiva: "Já há famílias que não têm televisão nem internet no contexto familiar. Só na casa dos avós ou dos amigos."

Pornografia proibida. Facebook pouco interessante

Adriana Oliveira faz questão de sublinhar que não há proibição explícita de conteúdos a consumir. "Nestas famílias, a educação tem por base o livre arbítrio: os pais ensinam, desde muito cedo, o que está certo e o que está errado e eles entendem isso com muita facilidade".

Por isso, prossegue a investigadora, "há um leque de conteúdos que acabam por ser, praticamente, proibidos". Sites pornográficos à cabeça. Nos questionários preenchidos, todas as famílias assumem de forma muito clara que não há ninguém que aceda a esse tipo de conteúdos em casa. Mas, como em tudo, há excepções que furam a regra. E essas só se detectam no contacto pessoal com os entrevistados: "Tive apenas um pai que assumiu que, de vez em quando, há uma tendência para entrar nesse tipo de sites. Mas rapidamente apercebe-se que não é por ali o caminho certo".

Adriana Oliveira reconhece que a adolescência "é, talvez, a idade mais problemática para prevenir esse tipo de consumos. Mas entre os miúdos com quem trabalhei - que tinham entre os 14 e os 17 anos - nenhum diz ter entrado num site pornográfico sem querer. Eles estão bem conscientes disso. Para eles, 'sem querer' não existe".

O mesmo comportamento é adoptado no uso das redes sociais. Tal como na generalidade das famílias, também para estas o Facebook é a mais conhecida. Mas, ao mesmo tempo, "bastante criticada". O uso que fazem da rede social mais conhecida do mundo é extremamente reservado: "recorrem muito ao Facebook, por exemplo, para dar os parabéns a um amigo ou, como nos disse um dos pais, para passar algo bonito a outra pessoa". E aqui entra a perspectiva da rede social como meio de evangelização. Adriana Oliveira considera que o Facebook "pode ser um meio para chegarem a amigos e pessoas mais próximas com uma perspectiva mais saudável e mais positiva do mundo".

Um exemplo improvável?

Adriana Oliveira dirigiu perto de 400 inquéritos e entrevistas, incluindo junto de 86 famílias numerosas católicas. A amostra não é representativa de uma tendência da sociedade "nem esse foi o objectivo da tese".

"O que ela vem demonstrar é que há famílias que, de acordo com os seus próprios valores, pensam o consumo da televisão e da internet de forma diferente", sem se preocuparem com a sua própria auto-exclusão da norma instituída por um tempo em que a tecnologia está em todos os domínios.

Também aqui, a regra encontra excepção. Adriana Oliveira revela que contactou "com dois pais licenciados em informática que, na altura em que o filho tinha sete ou oito anos, receberam em casa um contrato para pedir o computador Magalhães. Algo que eles sempre rejeitaram". Passado pouco tempo, "a professora ligou para casa, muito preocupado, a perguntar por que razão tinham recusado o computador ao filho. O pai perguntou o porquê de tanta preocupação. Na resposta, a professora alegou que o filho era o único da turma que não tinha acesso ao computador. Isto é apenas um exemplo de como estas famílias não estão rigorosamente preocupadas com isso".

Daí que Adriana Oliveira conclua: "São famílias que pensam diferente das outras. E não se importam nada de o demonstrar."

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