02 mar, 2016 - 20:41 • Ricardo Vieira
O imã e músico Ahmet Muhsin Tuzer não desiste de actuar em Portugal, apesar de ter sido impedido pela autoridade religiosa da Turquia.
Em entrevista à Renascença, o “imã rockeiro”, Ahmet Muhsin Tuzer, que já foi ameaçado de morte, desafia os fanáticos. “Não obedeço às regras deles”, afirma o cantor, que quer vencer as "trevas" com uma guitarra eléctrica na mão.
Como recebeu a notícia de que não pode actuar em Portugal?
Foi uma grande surpresa para mim, porque inicialmente, a 18 de Fevereiro, a autoridade religiosa da Turquia tinha autorizado e aplaudido o nosso concerto no Porto e, depois, a 24 de Fevereiro alteraram a decisão. Lamento muito esta má notícia, porque não esperava este desfecho da minha autoridade religiosa.
Não sei o que pode acontecer nos próximos tempos, mas continuo a acreditar que vou ao Porto. Vou tentar resolver esse problema. Hoje, o senhor Pedro [Rocha, programador de música], do Museu de Serralves, enviou uma mensagem em que se mostra decepcionado com esta decisão e, amanhã, deverá enviar um fax para a autoridade religiosa da Turquia.
Explicaram-lhe por que razão não pode actuar em Portugal?
Eu perguntei por que é que alteraram a decisão, mas eles não disseram nada. Mas sei qual é a razão: eu toco música rock, tenho uma banda e eles não gostam de mim. Eles não estão contentes com a minha música rock.
O que vai acontecer agora? Pode recorrer?
Provavelmente, não vou receber a autorização da autoridade religiosa. Mas vou ao hospital, para tentar conseguir um relatório médico com ordem para descansar durante 15 dias. Se conseguir essa licença hospitalar, vou a Portugal, se Deus quiser.
Não é a primeira vez que tem problemas com a autoridade religiosa?
Sim, é verdade. Quando dei um concerto em Brooklyn, Nova Iorque, também enfrentei o mesmo problema. Não me concederam autorização. Não sou um imã normal. Não obedeço às regras deles, não quero saber do sistema deles, daquela mentalidade. Não quero saber disso. Penso de maneira diferente, a minha posição e sentimento são muito diferentes e também não gostam da minha missão.
Como é que a sociedade turca e o mundo islâmico reagem a um imã que toca rock?
Eu estou a lutar, estou a lutar. Depende do público. Na minha região não há problemas, porque toda a gente gosta de mim e respeitam-me. Também algumas pessoas na Turquia, que são mais ocidentalizadas, mais modernas, com a mente mais aberta, gostam de mim. Mas na Turquia também há quem não goste de mim, são pessoas mais fechadas ao Ocidente. São fanáticos religiosos, não são moderados. Por vezes, estas ameaçam-me, enviam-me mensagens muito más. Mas não temo pela minha segurança. A minha crença é muito grande. Se tivesse medo não podia seguir o meu caminho e levar a cabo esta missão.
Que mensagem passa na sua música?
Nas minhas músicas digo para olharem para a beleza interior das pessoas. São ideias místicas, versos místicos.
Acredita que a sua música pode aproximar as pessoas?
Claro. Porque o rock nasceu na América. O rock é muito distante da nossa cultura e da nossa música. Eu sou um imã e interesso-me por rock. É muito importante que, como imã, faça concertos por todo o mundo, especialmente na América e em países da Europa Ocidental. Vamos derrotar as pessoas com mau fundo. Mas há sempre pessoas que, quando ouvem a minha música, reagem dizendo: “Isto não é o islão, o Alcorão não é assim”. Eles não percebem.
Está a tentar abrir horizontes na Turquia?
Estou sempre a tentar abrir a mente dos meus amigos, dos meus seguidores e do povo. Acredito que vamos vencer as trevas e esta maneira primitiva de pensar. Estou certo disso. É uma luta entre a luz e as trevas. Temos de fazer harmonia entre as religiões.
Quando começou a cantar?
Fundei uma banda rock, os FiRock, em 2013.
Qual é o seu músico ou banda preferidos?
Freddie Mercury e os Queen. Também gosto de Pink Floyd, de algumas músicas dos Metallica, do "Fear of the Dark", dos Iron Maiden, e de Eric Clapton.
Conhece alguma banda portuguesa?
Não, não conheço [risos]. Mas vou pesquisar.