12 fev, 2016 - 22:39 • José Pedro Pinto
Há noites em que (quase) tudo parece perdido, em que poucas coisas saem bem. E, depois, quando as "nuvens" pesadas da cabeça dos jogadores finalmente partem, o sol brilha.
Correu praticamente tudo bem a um FC Porto que venceu a contrariedade de ter de remar contra a maré, num ambiente hostil e adverso - que o diga Maxi Pereira, apupado até mais não no regresso à Luz -, com um treinador assertivo no banco e que soube, no meio da "tempestade", guiar a nau a bom porto.
José Peseiro venceu pela primeira vez na carreira, ganhou fôlego pessoal e profissional, consolidando o papel de "salvador" de uma época preparada em tons bascos. Rui Vitória continua sem vencer o FC Porto como treinador e vê ainda o Benfica com três pontos de vantagem sobre os azuis e brancos. Mas pode ver o Sporting escapar na liderança isolada da Primeira Liga, em caso de triunfo sobre o Nacional.
Vamos ao filme do jogo.
Eficácia encarnada perdida algures a meio do caminho; "coração" azul e branco recuperado
Os encarnados entraram em campo com o onze-base que tem "atropelado" adversário atrás de adversário. Os azuis e brancos estrearam o jovem central nigeriano Chidozie, de apenas 19 anos. Não havia mais.
A entrada do dragão foi de "tremeliques" e o bicampeão nacional aproveitou para, com transições rápidas e desconcertantes, começar a colocar à prova Casillas. E já lá vamos à noite de gala do internacional "rojo".
Foi numa dessas jogadas vertiginosas que o Benfica aproveitou os espaços e Mitroglou atirou a contar. A partir daí, a eficácia perdeu-se algures no relvado de uma Luz banhada pelo temporal que se abateu sobre a capital portuguesa.
Aproveitou o FC Porto de Peseiro, do qual até se pode dizer que fez bem sofrer um golo. A equipa tornou-se mais concentrada e, sobretudo, mais compacta e unida. Tanto que, num ataque com cabeça, tronco e membros, Herrera apontou a mira, de fora da área e fez a bola "lamber" a rede.
Tudo isto numa primeira parte em que o dragão, globalmente, até parece ter tido mais positivismo no futebol praticado.
Construir a vitória a partir do empate
A "empreitada" do FC Porto estava lançada, para a segunda parte. O "truque" era não dar espaços entrelinhas e evitar "dobras" entre os centrais e laterais que permitissem rupturas dramáticas do ataque do Benfica.
A espaços, não resultou, mas a maneira como os portistas recuperavam bola, após ataques perigosos do rival, foi determinante. Como decisiva foi a acção de Iker Casillas, que assinou a melhor exibição da época nas redes do dragão, com um punhado de enormes "paradas" a negar golos aos encarnados.
Esta é digna de "monsieur" de La Palice: quem não marca, arrisca-se a sofrer. Frio, calculista, nas letais saídas ofensivas, Aboubakar já tinha deixado Júlio César a tremer, do alto dos seus 36 anos.
Aos 65', André André descobriu o camaronês na área. Muito se diz que anda divorciado do golo, mas o disparo foi de raiva. E o 1-2, qual "cambalhota" que poucos esperariam, lá ficou.
"Mérito do dragão concentrado e renascido contra o demérito do voo em falso da águia". Também podia ter sido o título da crónica.
E não, não se pode dizer que este FC Porto é melhor do que o Benfica. Ainda não, pelo menos. Mas hoje, foi-o. Sem sombra de dúvidas.