22 jan, 2016 - 23:38
O antigo comissário europeu António Vitorino considera que o Banco Central Europeu está a “esticar” a política monetária “para lá do limite”. No programa “Fora da Caixa”, o comentador socialista assinala que as receitas económicas no euro estão muito longe de resultados satisfatórios.
“É relativamente evidente que tudo o que se está a fazer na Europa não está a resultar. A deflação é um risco sério. O BCE vai voltar a rever a sua política monetária para ampliar os estímulos à economia. A questão consiste em saber é se a política monetária ela própria ainda tem assim tanta margem de manobra para criar esses estímulos”, argumenta António Vitorino na Renascença.
Para sustentar a sua opinião, Vitorino chama a atenção para os destaques informativos dos debates no Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça.
“O grande motivo de preocupação de Davos é a possibilidade de um sério enfraquecimento da União Europeia. Se há dois anos, o grande tema era o desaparecimento ou não do Euro, hoje é a própria União Europeia que é colocada em cima da mesa. Por causa da hipótese do Reino Unido sair, por causa do fraco crescimento económico, da crise dos refugiados e da ameaça que isso significa à zona Schengen e à liberdade de circulação. A grande mensagem dos empresários em Davos é “cuidado, reinstalar o controlo das fronteiras internas é um tiro de morte no coração do mercado interno”, reforça o antigo comissário europeu no debate de temas europeus da Renascença.
Pedro Santana Lopes arrisca uma opinião mais ousada. “ Eu quase diria que a União Europeia está neste momento mais fraca que o Euro. Não sei como explicar isto. O Euro tem que se aguentar. A União Europeia também muitas razões para se aguentar mas tem muita força destrutiva dentro de si própria, a empurrar para fora. Qual é a liderança europeia que se sente dentro do que se está a passar?”, questiona o antigo primeiro-ministro.
Preço do petróleo demasiado baixo
Santana Lopes alerta para os efeitos prejudiciais de um preço tão baixo do petróleo nos mercado internacionais.
"É bom que tenhamos essa noção de que para o equilíbrio mundial, geoestratégico e também para a saúde europeia, é bom que o petróleo não desça a estes níveis. Os países produtores que sejam compradores de produtos europeus - como acontece com Angola e Portugal - não têm capacidade de continuar a comprar o que compravam. Baixa o nível das nossas exportações, a nossa balança com o exterior sofre, o nível de crescimento da nossa economia é afectado. Isto é tudo uma interdependência colectiva que leva a que tenhamos que estar à procura de um preço ideal para o petróleo”, analisa o antigo primeiro-ministro na Renascença.
António Vitorino alerta para uma “depressão” dos preços de petróleo que "está a induzir uma recessão à escala global”. O antigo comissário europeu assinala que até este momento só os Estados Unidos estão a escapar "porque se subtraíram deste circuito”.
Um facto que mudou todo o mercado dos petróleos. “ Há uns anos não se aceitava um aumento da produção de petróleo. De repente abriram os poços, tudo a bombar para mandar para baixo o petróleo de xisto dos Estados Unidos. Como têm custos de produção altos não aguentavam o petróleo tão baixo. Só que às vezes estes desafios têm consequências perversas e o feitiço volta-se contra o feiticeiro”, remata Pedro Santana Lopes na Renascença.