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​“Polémica aérea” na 2ª Circular. Quem tem razão: pilotos ou ANA?

02 fev, 2016 - 00:05 • João Carlos Malta , Liliana Monteiro

Os pilotos dizem que as vidas das pessoas estão em risco. ANA e controladores de tráfego garantem que todas as normas estão a ser respeitadas.

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Atónitos. Foi assim que os pilotos de aviação reagiram à plantação de árvores na 2ª Circular, em Lisboa, que está prevista para a remodelação da via. A segurança dos aviões estava comprometida, garantiam os pilotos. Agora a ANA e a NAV (empresa de controlo de trafego aéreo) dizem que nenhuma regra de segurança está em causa. Os presidentes das duas instituições dizem que o projecto pode descolar.

"O projecto da Câmara não viola nenhuma regra de segurança. Se violasse intervínhamos. Tínhamos o direito e o dever", disse esta segunda-feira, Jorge Ponce Leão, presidente da ANA - Aeroportos de Portugal, em declarações aos jornalistas num debate público organizado pela Assembleia Municipal de Lisboa.

Há três semanas o presidente da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea, Miguel Silveira, tinha uma posição radicalmente diferente.

"Ficamos absolutamente atónitos. Como é que a Câmara de Lisboa pôs a consulta pública uma questão dessas sem consultar pelo menos a ANAC [regulador do sector] e o GPIAA [Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves] e, de seguida, quem pilota os aviões e melhor sabe dos perigos para os aviões, nomeadamente com aves", criticou o presidente da APPLA.

O tema da segurança da aviação civil com o novo projecto da 2ª Circular entrava para o centro da discussão. E a APPLA alertava que estará contra "quaisquer tipo de medidas que possam trazer mais aves para as imediações do Aeroporto de Lisboa, além daquelas que já existem".

"E isto para não falar já na nossa tremenda preocupação relativamente à existência de um pombal enorme a norte do Aeroporto de Lisboa, que as coisas vão estando controladas, mas que é uma preocupação nossa e dos controladores do tráfego aéreo desde há muitos anos. Só faltava agora virem plantar árvores que obviamente vão servir de refúgio a variadíssimo tipo de aves nas imediações do aeroporto", alertou Miguel Silveira na mesma altura.

O presidente da ANA não podia estar mais em desacordo. Na reunião desta segunda-feira deu exemplos de como em Portugal há situações análogas às que agora são projectadas para a capital.

“Achar que o aumento da massa verde poderia levar a um aumento de acidentes em Lisboa era deixar de voar para Faro ou Ponta Delgada, onde os problemas de aves e fauna são maiores com a presença de gaivotas que até têm uma estrutura óssea mais resistentes”, explica Ponce Leão.

Este responsável, que frisou repetidamente que todas as questões de segurança são contempladas pelo projecto da autarquia, salienta que pode haver medidas para atacar os “bird strikes” com o reforço da equipa de cinco falcões que já hoje protege o aeroporto.

O presidente da ANA salienta que, actualmente, o “número de incidentes com aves são irrelevantes” e atribuiu as declarações de Miguel Silveira à “falta de conhecimento do projecto.

Mas na altura, o presidente da Associação dos Pilotos de Linha Aérea dizia que todo o projecto da autarquia revelava "um profundo desconhecimento" do que é a segurança aérea, o que, no seu entender, não era de estranhar.

"Um país que não tem política aérea é, obviamente, um país que não tem cultura aeronáutica e é um país que não tem conhecimentos aeronáuticos, além dos profissionais do sector do transporte aéreo, da aeronáutica", lamentou. E deixou uma questão: "O meio ambiente é bom para todos nós, mas a segurança dos aviões não é menos importante do que o meio ambiente. Os aviões têm pessoas lá dentro. Há coisas mais importantes do que a vida humana? Se calhar não há", concluiu o responsável Miguel Silveira.

Quem também discorda dos pilotos é Luís Coimbra, presidente da NAV, empresa pública responsável pelo controlo do tráfego aéreo. Este engenheiro aeronáutico considerou, na reunião desta segunda-feira, que “este é um não caso”.

Na sessão sobre a 2ª Circular, organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, explicou que, no ano passado, houve 42 incidentes entre aviões e aves junto ao aeroporto.

O presidente da NAV esclareceu que a passagem de um pássaro junto ao “cockpit” pode ser considerada um incidente. Do conjunto de incidentes, apenas sete provocaram danos, sendo que quatro só foram identificados depois das aeronaves aterrarem.

Estes números referem-se a um total de 167 mil movimentações aéreas no aeroporto de Lisboa. A maior parte dos incidentes, explicou, ocorreu nas aterragens.

Luís Coimbra refere que a principal ameaça aos aviões são os pombos, mas não percebe a dimensão da polémica deste caso até porque viajando para sul, “Faro está no meio de uma reserva natural e os números são os mesmos do que em Lisboa”.

Arquitectos da nova 2ª Circular respondem a todas as críticas
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  • Antonio Figueiredo
    02 fev, 2016 Viseu 20:06
    E o aeroporto de Frankfurt que está no meio de uma floresta e é dos mais movimentados do mundo não tem problemas com aves.
  • Carlos
    02 fev, 2016 Aveiro 09:15
    "Apenas" sete provocaram danos, é espantoso como se brinca com a segurança aérea. Esses directores deviam ver os estragos que causa um impacto de uma ave numa turbina para depois emitirem as suas opiniões. Durante um ano só existiram "sete" oportunidades de um grave acidente na cidade de Lisboa. Não importa o numero de voos, mas sim a possibilidade de acidente, pois um só é o suficiente para causar uma grande desgraça
  • Carlos silva
    02 fev, 2016 Barreiro 09:12
    Atónitos ficamos todos, com estes lóbis do betão. Querem instalar o aeroporto low cost no Montijo, descolando e aterrando dentro de uma ZEE Zona de proteção especial das aves, vão existir acidentes. no Montijo não há problema com os pássaros que já lá estão, mas na 2ª Circular ficam os pilotos atónitos com os pássaros que vão chegar.
  • passado adiado
    02 fev, 2016 lisboa 09:12
    ok, talvez algumas pessoas não estejam a ver o "filme politico", eu explico: 1-começa pela plantação de árvores e todos os trabalhos inerentes=uma pipa de massa a estoirar (a bem da natureza); 2-depois do ponto 1 concluído e em plena utilização da nova 2ªcircular (e só nessa altura) vai-se chegar á conclusão que afinal a passarada interfere com o tráfego aéreo = nova obra, ou seja, muda-se completamente o aeroporto para fora de lisboa, mais um pipão de massa para estoirar; e tudo começou como? nessa altura ninguém se vai lembrar . . .
  • LF
    02 fev, 2016 Carcavelos 09:06
    Os pilotos, pilotam aviões. Apesar de ser um meio de transporte seguro, um acidente que envolva aviação é normalmente muito gravoso. Os bird-strikes são, infelizmente, demasiadamente frequentes. O facto de as companhias aéreas e entidades aeroportuárias não divulgarem nas notícias os incidentes (não são acidentes, mas sim incidentes), dá aos passageiros a sensação de tranquilidade necessária à operação comercial. Os senhores da ANA são "apenas" funcionários pagos por uma empresa. Não voam (na sua esmagadora maioria), não são pilotos no activo (na sua esmagadora maioria), e cujo Conselho de Administração tem de se preocupar em apresentar lucros. Diz a lei que o ultimo rsponsável pelo transporte seguro dos passageiros e da operação da aeronave é o Piloto-Comandante...não o Presidente do Conselho da Administração da ANA, não o Presidente da República, não a senhora-da-limpeza...É o piloto!
  • cecilia
    02 fev, 2016 lisboa 09:05
    Tudo o que seja para melhorar é bom. No entanto as alterações desta dimensão têm de ser bem discutidas e obter o consenso entre as partes envolvidas. Se não estou em erro uma dessas alterações seria alterar o limite de velocidade de 80 km/h para 60 km/h o que me parece não fazer qualquer sentido, nem seria bom, na minha opinião, para a fluência do trânsito. Até me parece um caça à multa. A 2ª. circular não é um túnel, pois o mesmo pelas suas características justifica uma velocidade reduzida. Agora na 2ª. circular????? a 60Km/h???? espero ter percebido mal esta informação.
  • RuiC
    02 fev, 2016 Lisboa 08:57
    Não percebo esta polémica , aqui á uns anos um presidente da camara de lisboa autorizou ($$$) duas bombas de gasolina na 2ª Circular mesmo no enfiamento da pista contra as normas internacionais e ninguem bufou e agora por causa de umas árvores é esta polémica toda !!!
  • Nuno José Almeida
    02 fev, 2016 Vila Franca de Xira 08:51
    Os pilotos têm toda a razão e até devia, cortar todas as árvores que já estão na 2ª circular e mais a des Lisboa toda. E também enxotar todas as árvores do aves do estuário do Tejo. Mas esta gente é parva? Então mas nunca repararam que à volta do aeroporto já existem milhares de árvores? Não sequer é um aumento de 10 %!!!!!
  • Daniel
    02 fev, 2016 Lisboa 08:50
    Ao Bintoito, a reter: Lisboa já teve bastante arvoredo, e pássaros, e muito menos regras de segurança aérea (em abono da verdade, na altura também tinha menos voos), e não era por isso que tinhamos acidentes (que nunca tivemos nenhum). Pequenos pormenores que se "esquecem".
  • bintoito
    02 fev, 2016 penteado 08:34
    A reter: Quando ocorrem grandes acidentes normalmente aparecem responsáveis ou tutelas a dizer que todas as normas estavam a ser respeitadas.

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