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Quase metade das mulheres diz não ter tido o parto que desejava

28 jan, 2016 - 07:24

Estudo sobre experiências de nascimento em Portugal revela que o parto vaginal ainda é o mais praticado e dá conta de algumas práticas não recomendadas.

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Quase metade das mulheres inquiridas no inquérito "Experiências de Parto em Portugal" afirmou não ter tido o parto que queria, mas a maioria (56,5%) afirmou que o nascimento do seu filho correu como o desejado.

No estudo realizado pela Associação Portuguesa Pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP) algumas mães lamentaram o desrespeito pelo seu tempo e o do bebé, bem como algumas informações erradas dadas pelos profissionais de saúde e "erros de administração na medicação".

"Os testemunhos parecem revelar que as mulheres que afirmaram ter tido o parto que queriam não são apenas aquelas cujo parto se desenrolou de acordo com as suas expectativas. Foram também as mulheres que se sentiram respeitadas, que foram consultadas a cada momento, sempre que havia necessidade de intervenção", lê-se no relatório do estudo.

Na origem de algumas situações de descontentamento esteve o recurso à episiotomia (incisão na região do períneo), o rebentamento das águas artificialmente e posições de parto não desejadas.

Os autores do inquérito sublinham que, "no caso particular da episiotomia", é usada em 70% dos partos em Portugal, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica uma taxa média que não deverá exceder os 10%.

Outras práticas não recomendadas e classificadas de violência obstétrica denunciadas pelas inquiridas são a manobra de Kristeller (pressão na parte superior da barriga para ajudar a expulsar o bebé) ou procedimentos sem consentimento esclarecido ou contra a vontade da mulher.

"É reconhecido que os cuidados de boa qualidade exigem a eliminação de abusos e maus-tratos durante a gravidez e parto, sendo toda a intervenção baseada no respeito pela dignidade humana, sem discriminação. Isto só pode ser facilitado através de uma abordagem para a saúde baseada em direitos humanos", defendem os autores da investigação.

O estudo vai ser apresentado no sábado, durante o primeiro encontro da organização, intitulado "Nascer em Amor", e foi baseado num questionário online lançado há um ano. Foram recebidas 3.378 respostas válidas de mulheres que foram mães entre 2012 e 2015.

Das inquiridas, 33,2% (1.121) teve parto por cesariana e 66,8% (2.257) dos bebés nasceu por via vaginal. Em relação às intervenções nos partos, 71,3% (1.609) das inquiridas disse que sofreu alguma intervenção, da totalidade dos partos vaginais.

Apenas 19,2% (648) do total de partos foram considerados pelas mulheres como partos vaginais sem intervenções.

A grande maioria das mulheres inquiridas (97,8%) teve o filho em contexto hospitalar, sendo o serviço público o local mais frequentado, com uma percentagem que corresponde a 71,1% dos partos.

Pouco mais de um quarto das mulheres (26,6%) teve o seu bebé em instituições privadas e 2,2% tiveram o seu parto em casa.

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