21 jan, 2016 - 14:57 • Manuela Pires , Joana Bourgard
A manhã cinzenta e chuvosa. Na feira de Carcavelos há poucos feirantes, que vão retirando a água dos panos que servem de abrigo. Há poucos vendedores e ainda menos clientes. Queixam-se das condições do recinto da feira, um local que é provisório há 13 anos.
Henrique Neto chega ao campo da feira numa carrinha da candidatura e sai acompanhado de alguns apoiantes. Com os folhetos na mão, é ele que abre caminho. “Sou candidato, Henrique Neto, não se esqueça de votar no domingo, é o primeiro nome da lista, não tem nada que enganar”.
O empresário, de 79 anos, foi o primeiro a avançar com a candidatura à Presidência da República. Já fez muitos quilómetros e confidencia que “em todas as feiras é tudo igual, muita oferta e pouca procura. E os centros comerciais são mais cómodos. Não chove”.
A feira está fraca. Henrique Neto assume-se como o candidato anti-sistema. Apesar das sondagens, acredita em surpresas e que a segunda volta vai acontecer.
Nessa altura vai deixar o boletim em branco. “Não voto naquilo em que não acredito. Seria uma hipocrisia dizer que ia votar num dos três candidatos do sistema, porque não acredito neles”. No últimos anos, distanciou-se do Partido Socialista. Chegou a ameaçar desfiliar-se, mas acabou por nunca avançar.
Henrique Neto foi deputado socialista entre 1995 e 1999, durante o Governo de António Guterres, mas garante que sempre tomou posições apontando as virtudes e as falhas do sistema. “Foram os vícios do sistema que nos conduziram à pobreza e a ausência de pensamento económico. Só por hipocrisia é que um candidato pode ignorar o estado em que o país está."
Concorre como independente e criticou Maria de Belém, que também apresentou uma candidatura independente. No debate entre os dois candidatos, na RTP, afirmou não compreender a “candidatura independente” da antiga ministra, quando a adversária já “assumiu cargos políticos pelo PS”, nomeadamente a presidência do partido.
“Quando apresentei a minha candidatura disse ao que vinha. Não tive cargos políticos no PS desde 1999. Não informei o PS da minha candidatura, não pedi apoio”, afirmou Henrique Neto, no debate, defendendo a sua candidatura independente.
Henrique Neto não vota Marcelo Rebelo de Sousa, nem Maria de Belém, nem Sampaio da Nóvoa. Diz que são “os candidatos do sistema que nos conduziram até aqui porque se calaram quando era útil, no tempo de José Sócrates e do anterior Governo”.