20 jan, 2016 - 13:58
O arquitecto Nuno Teotónio Pereira, de 93 anos, uma das mais destacadas figuras do urbanismo e da habitação em Portugal, morreu esta quarta-feira, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da Ordem dos Arquitectos. Faleceu em casa, rodeado pela família", cerca do meio-dia desta quarta-feira.
Nascido em Lisboa, em 1922, formou-se em arquitectura pela Escola de Belas Artes de Lisboa, foi autor e co-autor de dezenas de projectos e também um histórico defensor de direitos cívicos e políticos durante o regime salazarista.
Com uma carreira de 60 anos, formado na Escola de Belas Artes de Lisboa, decidiu seguir arquitectura contagiado pelo entusiasmo de um colega, Carlos Manuel Ramos (filho do arquitecto Carlos Ramos), numa altura em que se sentia mais inclinado pela geografia.
Em Abril de 2015, Nuno Teotónio Pereira foi distinguido com o Prémio Universidade de Lisboa 2015, pelo exercício “brilhante” na área da arquitectura e como “figura ética”.
São da sua autoria – ou em co-autoria com arquitectos como Nuno Portas, Bartolomeu Costa Cabral e João Braula Reis – o Bloco das Águas Livres, classificado em 2012 como monumento de interesse público, a Torre de Habitação Social nos Olivais Norte, o chamado Edifício "Franjinhas" e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, projectos realizados em Lisboa, distinguidos com Prémios Valmor.
Teotónio Pereira foi um dos arquitectos pioneiros na área da habitação social, tendo projectado não só para a capital portuguesa, mas também para Braga, Castelo Branco, Póvoa de Santa Iria, Barcelos e Vila Nova de Famalicão, nos anos de 1950 a 1970.
Entre 1948 a 1972, foi consultor de Habitações Económicas na Federação das Caixas de Previdência. Realizou o primeiro concurso para habitações de renda controlada.
Foi galardoado com o 2.º Prémio Nacional de Arquitectura da Fundação Calouste Gulbenkian (1961), pelo Edifício das Águas Livres, e Prémios Valmor para a Torre de Habitação nos Olivais Norte (1967), Edifício Franjinhas (1971) e Igreja do Sagrado Coração de Jesus (1975).
Era membro honorário da Ordem dos Arquitectos desde 2004 e doutor honoris causa pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (2003) e pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa (2005).
Foi a personalidade escolhida pela Igreja Católica para receber o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes de 2012, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O arquitecto das obras modestas e grandiosas
Em 2010, quando foi homenageado pela Ordem dos Arquitectos, numa entrevista à agência Lusa, o arquitecto declarou "um grande amor por Lisboa", uma cidade onde procurou sempre "contribuir para a beleza do espaço e o bem-estar das pessoas".
Recordou que "antigamente havia um conceito errado ao recorrer aos arquitectos apenas para criar obras sumptuosas. Hoje, os arquitectos devem fazer desde as obras mais modestas às mais grandiosas".
Com uma experiência de 20 anos na área da habitação social, defendeu, nessa entrevista, que este conceito "continua a fazer sentido enquanto houver pessoas ou famílias sem casa digna".
"Estou esperançado que acabem com os bairros de lata no país", comentou o co-autor do projecto Habitação Social para Olivais Norte que viria a receber o Prémio Valmor em 1968.