Tempo
|
A+ / A-

Morreu o histórico socialista Almeida Santos

19 jan, 2016 - 01:15

Antigo presidente do PS e da Assembleia da República faleceu em casa, a poucas semanas de completar 90 anos.

A+ / A-

Morreu o antigo presidente da Assembleia da República António de Almeida Santos. O histórico socialista tinha 89 anos.

Almeida Santos faleceu em sua casa, em Oeiras, pouco antes da meia-noite desta segunda-feira, disse à agência Lusa uma fonte da família.

O presidente honorário do Partido Socialista sentiu-se mal após o jantar e foi ainda assistido ainda na sua residência.

Almeida Santos, que completaria 90 anos a 15 de Fevereiro, foi submetido por duas vezes a cirurgias cardiovasculares.

O corpo do histórico dirigente do PS deverá estar em câmara ardente na Basílica da Estrela, em Lisboa, mas não haverá cerimónia religiosa, a pedido do próprio, adiantou fonte da família.

António Almeida Santos começou a sua actividade política em Moçambique ainda durante o período da ditadura. Integrou o Grupo de Democratas, que se opunha à colonização.

Integrou o Grupo de Democratas de Moçambique, que se opunha à colonização e concorreu por duas vezes à Assembleia Nacional, mas viu sempre a sua candidatura ser anulada pelo regime.

Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, representou em Moçambique Humberto Delgado, o "General sem medo", nas eleições presidenciais de 1958.

Após a revolução de 25 de Abril de 1974 e do fim do Estado Novo, foi ministro em vários governos, deputado eleito na primeira legislatura e líder do grupo parlamentar do PS, entre 1991 e 1994.

Foi presidente do PS durante 19 anos, de 1992 a 2011, cargo que continuou a desempenhar a título honorário.

Ocupou o cargo de presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado, entre 1995 e 2002.

Também foi membro do Conselho de Estado, o órgão de aconselhamento do Presidente da República.

Portugal perdeu um “homem extraordinário”

O primeiro-ministro, António Costa, reagiu à morte de Almeida Santos à chegada a Cabo Verde, a sua primeira visita oficial.

António Costa diz que perdeu um amigo e que Portugal vê partir um “homem extraordinário”.

“Esta notícia aqui à chegada a Cabo Verde é a perda de um grande amigo, de um camarada, alguém com uma extraordinária vitalidade. Ainda ontem [domingo] todos o pudemos ver a discursar em apoio à candidatura da Dra. Maria de Belém. Foi um homem extraordinário, um dos grandes legisladores que construiu o Estado de Direito democrático a seguir ao 25 de Abril, um dos obreiros da descolonização e um homem que ao longo de toda a sua vida pública, no Governo, como deputado, como presidente da Assembleia da República, como presidente do PS, deu sempre tudo do melhor que sabia e tinha tanto tanto para dar, à política, à democracia, às ideias em que acreditava. É com enorme tristeza que soube do seu falecimento, porque o António de Almeida Santos era daquelas pessoas que nos levavam a acreditar que havia vida eterna na terra.”

O actual presidente do PS, Carlos César, começa por referir que "António de Almeida Santos foi e é uma referência do partido ao longo das últimas quatro décadas, uma referência da política portuguesa, da comunidade democrática".

"Desempenhou cargos executivos aos mais diversos níveis e de representação ao mais alto nível do Estado, mas foi sobretudo um pedagogo na política, um homem com muita capacidade de ouvir, de se explicar, com grande capacidade de persuasão e, normalmente, acabava sempre por ter razão sem que para isso tivesse que alterar o seu tom de voz”, sublinha Carlos César.

“Influenciou múltiplas gerações no PS. Sinto-me como parte dessa sua actividade de pedagogo, como consequência de uma amizade que foi, muitas vezes, paternal. Tenho imensa pena que ele nos tenha deixado. Tinha uma actividade muito lúcida e activa, quer nestas eleições presidenciais quer no debate político que, em geral, animava com as suas participações nas reuniões do PS. Foi e era o nosso presidente para sempre. Fica como uma das grandes referências do PS e um dos homens mais influentes da actividade do PS e, em certos momentos e dimensões, da política portuguesa ”, refere o antigo líder do governo regional dos Açores.

Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, considera que Almeida Santos foi um dos “grandes obreiros da democracia portuguesa”, um “homem de uma cultura imensa, de uma inteligência fantástica e alguém que tinha sempre a palavra certa para apaziguar os conflitos que pudessem existir”.

“Diria que vale a pena ler o legado escrito de Almeida Santos, onde relata episódios muito importantes da nossa história, como o processo da descolonização ou da instituição da nossa democracia. Que não dêmos nunca a democracia como um valor adquirido, mas que a construamos todos os dias e Almeida Santos soube, com a sua inteligência construi-la todos os dias, até ao último dia da sua vida. Estive com Almeida Santos, há uma semana. Trocámos algumas ideias sobre a vida actual da política e das novas mudanças no sistema político e sempre aprendi com Almeida Santos. Para as gerações mais novas, fica a memória de um homem a quem devemos também agradecer viver em liberdade”, diz Ana Catarina Mendes.

A última aparição pública de Almeida Santos foi no passado domingo, quando participou numa acção de campanha de apoio à candidata presidencial Maria de Belém.

Em declarações à RTP, a antiga ministra recordou as várias facetas de Almeida Santos, desde lutador pela democracia ao trabalho na Assembleia da República e no partido.

“Almeida Santos era um democrata fantástico, teve intervenção política muito forte deste os tempos da ditadura, legislador fantástico e era uma pessoa de qualidades humanas absolutamente excepcionais. Como socialista, era um militante cumpridor, absolutamente sem nada a apontar, dedicadíssimo, com uma sabedoria sempre disponível”, destaca a ex-presidente do PS.

Numa mensagem publicada na rede social Facebook, Sampaio da Nóvoa, que também está na corrida presidencial, fala num “momento triste para a nossa República”.

O antigo reitor recorda Almeida Santos como “personalidade marcante do Portugal contemporâneo, fundador da nossa Democracia, combatente pela liberdade e por todos acarinhado como Presidente da Assembleia da República exemplar na sua forma de construir consensos e prestigiar o debate democrático”.

“Neste momento triste para a nossa República, queria deixar a minha homenagem a uma das mais emblemáticas figuras da nossa história democrática, uma referência da oposição à ditadura, advogado e jurista de excelência, Presidente histórico do Partido Socialista, que nunca faltou à chamada na governação e no serviço público. Deixo as minhas sentidas condolências à família, aos amigos, ao Partido Socialista e a todos os seus militantes, certo de que poderemos continuar a encontrar inspiração na sua vida empenhada na defesa dos valores da República e da democracia parlamentar e no seu exemplo de uma longa vida de serviço público e de combate pela liberdade”, escreve Sampaio da Nóvoa.

O também candidato presidencial Henrique Neto já lamentou a morte de Almeida Santos. O antigo deputado socialista não esconde que teve divergências com o histórico do PS, mas elogia o “antifascista relevante, o combatente contra o colonialismo e democrata” de muitos anos no PS.

Vieira da Silva, ministro da Segurança Social e companheiro de partido, afirma que Almeida Santos esteve nas “grandes batalhas da democracia portuguesa”.

“Almeida Santos era uma pessoa muita querida dos militantes socialistas, esteve presente nas grandes batalhas da democracia portuguesa. Dedicação muito grande a vida partidária e cívica. Deixa uma memória de grande saudade. Uma grande perda para a democracia portuguesa. Há poucos políticos que tenham deixado uma marca tão grande como Almeida Santos. Homem que tinha dotes de parlamentar notáveis. Talvez realçasse a preocupação com perspectivar o futuro. Almeida Santos foi até ao fim da vida uma pessoa preocupada com o futuro, não olha para trás. Esse futuro sempre presente nas suas palavras é talvez uma das marcas que nos deixou. Era também um homem que se dedicava à palavra dita e escrita”, afirma Vieira da Silva.

Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, considera que Almeida Santos ajudou a erguer “as traves mestras do regime democrático” em Portugal.

“É um dia muito triste. Almeida Santos é um dos construtores da democracia portuguesa, designadamente no plano legislativo. Deve-se a ele algumas das traves mestras que constituíram o regime democrático e a primeira legislação democrática. A sua participação no processo de descolonização foi também muito importante. Muito antes disso, foi um combatente pela liberdade, um grande advogado, quando viveu em Moçambique distinguiu-se pelas suas propostas de descolonização pacífica e depois do 25 de Abril, como membro do Governo, deputado e presidente da Assembleia da República, deu sempre o melhor de si à causa pública. Eu tive a oportunidade de trabalhar com ele como deputado, era ele presidente da AR, e também pude aprender com o seu exemplo no PS. A força da sua palavra, das suas convicções, tudo isso vai-nos fazer muita falta”, afirma Augusto Santos Silva.

O PCP também já reagiu pela voz de Domingos Abrantes: “O Almeida Santos foi um oposicionista do Estado Novo, de longa data, e naturalmente lamentamos a perda de um resistente, que depois deu, com as suas características próprias, uma contribuição para a institucionalização da democracia portuguesa. Acho que a democracia portuguesa perdeu um dos seus construtores”, disse o conselheiro de Estado.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • João
    19 jan, 2016 Lisboa 12:16
    Os meus pêsames à família. A morte de qualquer ser humano é sempre uma perda, diz-se que "quando um homem morre é como se ardesse uma biblioteca". Apesar de não ser seu admirador, nem de perto porque perfilho a opinião do Rui, já aqui largamente insultado pelos que gostam de reescrever a História e, como não sou um covarde, não irei mudar! Lamento, como já disse a morte do senhor, mas isso não invalida que perdoe as suas acções. E aos recalcados, pelos "retornados" e gente que não gosta de "vende-pátrias", metam na cabeça, que as opiniões de uns são tão válidas ou mais do que as vossas! Democracia a isso obriga! Para mim, as acções deste senhor, e dos seus amigos, não são de forma alguma dignas, nem motivo de realce na História deste nobre país! Se não vos agrada, paciência, não temos todos que pensar da mesma maneira, nem o Mundo gira só para vos agradar! Eu também acho aberrante defender certas posições e no entanto, democraticamente aceito-as e, não insulto de forma ordinária quem pensa de maneira diferente da minha.
  • João
    19 jan, 2016 Setúbal 12:14
    É sempre com tristeza que vejo partir pessoas com um passado com o de Almeida Santos. Quanto á notícia mais uma é triste ver que quem a escreveu não estudou bem a lição. Veja -se o caso dos comentário do Domingos Abrantes do PCP, pergunto a quem escreveu (jornalista?) desde quando o Domingos Abrantes é conselheiro de estado? Esta falta de rigor é uma vergonha para a classe dos jornalistas.
  • bobo
    19 jan, 2016 lisboa e outra 12:13
    Depois de mortos são todos bons. Saudades nenhumas
  • Mafurra
    19 jan, 2016 Lisboa 12:04
    Luís - Também eu fui retornado. De Moçambique. Mas tive o bom-senso de estudar a nossa História recente. E por isso chegar à conclusão que os "retornados" não tiveram culpa nenhuma nas políticas ultramarinas portuguesas. E quem piasse pagava por isso. Eles os retornados foram o Bombo da Festa realizada e produzida por Salazar. Antes da guerras em África eram todos anti-salazaristas. Depois do 25 de Abril passaram TODOS a serem salazaristas desde pequeninos. Ah, e a mim o que me mete NOJO são pessoas como tu, que gostam de falar mal e nem sabem porquê ! ! !
  • Carlos Costa
    19 jan, 2016 Santarem 11:37
    A mim,que o conheci de perto,não me deixa saudades.Que descanse em paz.
  • Luis
    19 jan, 2016 Lisboa 11:14
    Estes retornados até metem nojo para alem de ser perigosos passam o tempo todo a destilar odio por tudo e por nada.
  • felisteus matos
    19 jan, 2016 vc 11:06
    Mais um HISTÓRICO que parte. Que vã em paz e que o PS saiba honrar esse grande homem.
  • Jerónimo
    19 jan, 2016 10:43
    Olha lá ó menino Rui, também foste colono??!!!. Não sabias que aquilo que estavas a explorar não era teu??. Pois fica a saber o Dr.º Almeida Santos fez aquilo que era possível fazer. Vê se tens controlo com a tua linguagem maldosa e vingativa.
  • Mafurra
    19 jan, 2016 Lisboa 10:42
    Resposta a um tal Rui. Imagina então os milhares que TUDO perderam por causa das desgraçadas políticas ultramarinas do teu ídolo ! António de Oliveira Salazar, o carrasco de Portugal. Foi ele a Génese das guerras no ultramar e da mais que previsível saída de milhares de portugueses, angolanos, moçambicanos e guineenses das antigas colónias portuguesas. Almeida Santos ao contrário de alguns que aqui o criticam, não lhe faltou nunca coragem para se opor a esse ditador e coveiro de Portugal. Paz à sua alma. Que descanse em paz.
  • Gilberto Sousa
    19 jan, 2016 Feira 10:38
    Convivi com o Almeida Santos alguns momentos como colega de partido. Admirava-o. Era um exemplo para mim. Sempre o ouvi com muita atenção. Emociona-me a sua morte. Foi um grande Homem, ... foi um grande político. Muito sereno , apaziguador, e tinha na sua maneira de estar um não sei quê de serenidade que contagiava. Lamento imenso o seu desaparecimento.

Destaques V+