Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Vamos ter de comer menos sardinhas

16 jan, 2016 - 18:41 • Teresa Abecasis

Recomendações internacionais aconselham os pescadores portugueses e espanhóis a reduzir drasticamente a pesca da sardinha em 2016, para um décimo do ano passado.

A+ / A-

Para garantir a renovação dos “stocks” da sardinha, será preciso tomar medidas que privilegiem o ambiente e são precisos “sacrifícios” a nível económico e social. É Gonçalo Carvalho, coordenador da PONG Pesca, uma plataforma de organizações não-governamentais portuguesas sobre a pesca, que o diz.

A quota para a pesca da sardinha é definida todos os anos entre Portugal e Espanha. A deste ano ainda não está definida, mas está em vigor uma proibição da pesca da sardinha até ao final de Fevereiro, para assegurar a protecção dos juvenis e dos adultos reprodutores.

Em Julho, o Conselho Internacional para a Exploração do Mar recomendou que em 2016 não se pesquem mais do que 1.600 toneladas de sardinhas, o que representa menos de um décimo do permitido no ano passado. Já a Federação dos Sindicatos do Sector da Pesca defende uma quota na ordem das 30 mil toneladas.

“A situação da sardinha é grave”, afirma Gonçalo Carvalho.

Diz que a redução da pesca da sardinha tem de ser acompanhada de uma adaptação no sector, que pode canalizar os esforços para a pesca de outros peixes como o carapau.

“Portugal, no ano passado, teve um aumento de quota do carapau em cerca de 70%, este ano teve um aumento de mais 15%. É uma quota que não tem sido utilizada. É uma espécie para a qual a pesca de cerco poderia estar a redirigir em parte o seu esforço de pesca, para libertar alguma pressão sobre a sardinha”, explica.

Mas a mudança tem de partir também dos consumidores que devem procurar diversificar o peixe que comem. A sardinha e o polvo são os pescados mais consumidos em Portugal, que, dentro da União Europeia, é o país que tem o maior consumo anual ‘per capita’ (em média, 57 quilos por pessoa contra uma média europeia de 17).

Gonçalo Carvalho sugere o consumo de outros peixes como o ruivo, a faneca e a boga. E lembra: “Há uma mudança de postura em relação ao consumo de pescado que tem de acontecer. As pessoas não podem esperar de um produto como o peixe selvagem do mar uma estabilidade e uma coerência tão grandes como esperam de produtos da agricultura”.

A flutuação nos “stocks” de peixe no mar é “natural”: há ciclos de abundância e escassez. “As pessoas que comem peixe selvagem da nossa costa, e que sabem que isso é o que se deve consumir, têm que perceber que hoje é sardinha, amanhã é carapau, no ano seguinte ou no mês seguinte se calhar é melhor ser cavala”, conclui.

A PONG Pesca foi uma das ONG presentes na apresentação dos resultados do projecto "Blue Society", financiado pela Comissão Europeia. A Renascença esteve no encontro, a convite da organização. Pode ver o trabalho resultante no programa "Trabalho Sem Fronteiras", do espaço Euranet.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+