30 dez, 2015 - 17:10 • , em Pilsen, República Checa
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Os portugueses na República Checa são “alunos de sucesso”. É o que diz a professora Kveta Blahová, vice-reitora da segunda Faculdade de Medicina da Universidade Charles, com sede em Praga, e que tem a seu cargo o ensino em inglês e a relação da faculdade com os alunos estrangeiros.
Kveta Blahová conta que já passou cartas de recomendação a portugueses para prosseguirem os seus estudos em instituições de renome internacional.
“Escrevi cartas de recomendação para o King’s College [de Londres] e para a Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard. E temos um estudante português muito bem-sucedido, que trabalha connosco no departamento de neurologia. São alunos de sucesso”, afirma Kveta Blahová.
O mesmo pensa o professor Pavel Fiala, vice-reitor da Segunda Faculdade de Medicina da Charles University, em Pilsen. Em 1998, receberam os primeiros estudantes portugueses, oriundos de Faro. Desde então, espalhou-se a palavra entre os interessados e aumentou o nível de reputação do ensino ministrado na faculdade.
“O aumento da nossa reputação espalhou-se pelo país, que é a melhor rede. E começaram a enviar mais estudantes. De momento temos muitos antigos alunos que são médicos a trabalhar lá”, conta Pavel Fiala.
“Gostaria de dizer que em Dez anos nunca recebi ‘feedback’ negativo relativo a quaisquer problemas com os nossos antigos alunos para encontrar trabalho. Os nossos graduados nunca me enviaram nenhuma mensagem negativa sobre problemas quanto ao nível de conhecimento adquirido. Foi tudo positivo”, diz o professor.
A própria faculdade de Medicina, com a abertura a estrangeiros, teve de se adaptar. Por exemplo, nos horários: os portugueses e ingleses não conseguiam ter aulas às 7h30.
“As palestras começavam às sete e meia da manhã. Os alunos portugueses chegavam sempre tarde. Eles e os ingleses. Não eram preguiçosos, só não eram capazes de começar cedo e de se adaptarem aos nossos horários. Por isso, nós mudámos as palestras para as 9h20, nos primeiros anos. 9h20 são horas aceitáveis, para eles. 7h30 nunca!”, graceja Pavel Fiala.
As “antenas” europeias
Com tanto sucesso, as faculdades desejam ainda mais alunos estrangeiros, que acabam por ser uma fonte de financiamento das instituições de ensino superior. Para isso têm “antenas” em vários países.
Jiri Pesik é uma delas. É um antigo aluno de uma das faculdades da cidade e representante do Fórum de Estudantes Europeus (AEGEE), uma da maiores organizações interdisciplinares da Europa, que ao longo da sua história teve como patronos personalidades como Martin Schulz, Giorgio Napolitano, Laurent Fabius, Mikhail Gorbachev, Václav Havel, Margaret Thatcher, Jacques Chirac, Ban Ki-moon ou Durão Barroso.
“Temos 14 mil estudantes e entre eles 250 antenas em toda a Europa. Temos também antenas em países que não fazem parte da União, como no Azerbaijão e na Turquia. Porque entendemos a Europa como algo mais do que a geográfica. Entendemo-la também como a Europa cultural”, explicou à Renascença em Pilsen.
Este antigo aluno tem pena que não haja, como em tempos, uma antena em Lisboa e diz que quem sai a perder são os estudantes portugueses. “É uma pena não podermos ter mais estudantes portugueses aqui porque não temos uma antena em Lisboa. Os estudantes portugueses não conhecem a AEGEE tão bem quanto os alunos espanhóis porque há muitas mais antenas em Espanha do que em Portugal”, afirma.
Esta associação europeia realiza viagens de intercâmbio entre estudantes, suportadas em parte pela União Europeia e até por algumas multinacionais, a quem depois, disponibilizam informação privilegiada sobre os alunos com as melhores notas.
“Podemos providenciar a essa organização ou empresa contactos de um estudante ou podemos promover a organização aos nossos membros. Para as empresas, é uma forma de conseguirem novos funcionários”, justifica Jiri Pesik.