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​António Vitorino: “Há uma crise profunda no sistema partidário francês"

11 dez, 2015 - 23:00 • José Pedro Frazão

A subida da Frente Nacional, as estratégias de Sarkozy e Hollande e os impactos na relação com a Alemanha foram analisados por Pedro Santana Lopes e António Vitorino no programa “Fora da Caixa”.

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Fora da Caixa (11/12/2015)

À partida para a segunda volta das eleições regionais francesas, a Frente Nacional assume-se neste momento como o maior partido político gaulês. A vitória da extrema-direita em seis das treze regiões administrativas consolida uma alteração no quadro político francês, considera o antigo comissário europeu António Vitorino.

A segunda volta das regionais realiza-se este Domingo na expectativa de uma concentração de votos que impeça a Frente Nacional de governar duas a três regiões administrativas. Para o antigo Primeiro-Ministro Pedro Santana Lopes, esta votação será também muito importante para a Frente Nacional.

Uma união de emergência

Depois da vitoria da Frente Nacional em diversas regiões, os socialistas retiraram listas em pelo menos duas delas onde os republicanos estão em melhores condições para vencer na segunda volta. Nas regiões de Nord-Pas de Calais e na Provença, os socialistas transferem o voto para os republicanos.

Santana Lopes deixa a dúvida: “Se fosse cá, não sei era possível. Imagina o PSD ou o PS a ficarem de fora quatro anos da Câmara de Lisboa, do Porto ou de Coimbra, para apoiar o PS ou o PSD contra a força extremista? É muito difícil”.

Na Alsácia-Lorena, outra região crítica nas eleições deste domingo, o candidato socialista recusou retirar a lista em favor dos republicanos, em contramão face à direcção do PS francês que apela inclusive ao voto nos republicanos nessa região.

António Vitorino considera que os socialistas franceses querem dar o sinal político de que representam uma frente de combate ao extremismo.

Pedro Santana Lopes é convidado a analisar a estratégia de Nicolas Sarkozy, apesar de reafirmar a “ pouca simpatia pela personalidade em causa”.

O antigo primeiro-ministro considera que apenas para interesse próprio de Sarkozy, a estratégia do antigo presidente francês faz algum sentido no quadro também da oposição interna no centro-direita. Santana Lopes reconhece que o principal rival interno de Sarkozy, o antigo primeiro-ministro Alain Juppé, tem boas sondagens para as presidenciais.

Hollande olha para 2017?

As regionais disputam-se a dois anos das presidenciais em França. A vantagem da Frente Nacional representa um sinal importante sobre o estado de espírito do eleitorado, admite António Vitorino. No caso dos Republicanos, Juppé tem mais apoio que Sarkozy para uma candidatura presidencial. Vitorino chama a atenção para a importância das primárias republicanas em Novembro de 2016.

O apelo da Frente Nacional

O crescimento da Frente Nacional não é um fenómeno recente. “ Não surpreende quem conheça a França. Há a 'França das Luzes’ mas também há a 'França das Trevas', de Vichy, do antisemitismo, do colaboracionismo com a ocupação nazi”, recorda António Vitorino. Ainda assim, a extrema-direita conduzida por Marine Le Pen está a sair-se melhor que a Frente Nacional liderada pelo seu pai Jean-Marie. “O crescimento compreende-se porque as coisas estão piores do que quando Jean-Marie Le Pen liderou a FN”, analisa Santana Lopes. “ A Europa estava num período diferente, tudo estava em geral um pouco melhor. A situação social degradou-se, o desemprego aumentou, a criminalidade e o terrorismo é o que se sabe. Alargou-se o terreno favorável ao desenvolvimento do apoio à FN. É isso que explica. E depois os falhanços sucessivos de outras forças políticas no Governo.

A preocupação alemã

A emergência da extrema-direita em França foi comentada com preocupação pelo líder do SPD alemão que garante ter alertado Angela Merkel para os riscos da austeridade em França. António Vitorino insiste que em França não houve ainda uma “verdadeira austeridade”, mas compreende o alarme na Alemanha.

“A situação em França é o principal factor de preocupação na Alemanha. A Alemanha tem uma carga enorme aos seus ombros na Europa. Parte desejada, parte não desejada. A partilha das responsabilidades com a França tem sido uma constante da política europeia alemã. Se a França entra em incumprimento nessa partilha, os problemas alemães ampliam-se significativamente. Estamos a falar em problemas políticos, no sentido mais puro do termo”, desabafa Vitorino.

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