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Dança de cadeiras no Conselho de Estado. O que está em causa?

09 dez, 2015 - 20:53 • Eunice Lourenço

Quem vai pertencer ao órgão consultivo do Presidente? O que defendem os partidos? E para que serve o Conselho de Estado?

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Não há, para já, consenso sobre os nomes indicados pelo Parlamento para o Conselho de Estado e a forma de os eleger. O Parlamento elege cinco nomes para o órgão de aconselhamento do Presidente da República no dia 18. Os nomes têm de ser entregues até dia 16.

O PSD só aceita uma lista conjunta se não tiver Bloco e PCP, o Bloco só aceita se tiver todos os grupos parlamentares, o PS não aceita que o PSD tenha a maioria dos nomes e diz que ainda há tempo para tratar do assunto. O PCP quer um lugar, mas admite que não seja já.

O que está em causa?

A eleição de cinco conselheiros de Estado pelo Parlamento. De acordo com a Constituição, a Assembleia da República deve “eleger, segundo o sistema de representação proporcional, cinco membros do Conselho de Estado”.

Esses cinco cidadãos são eleitos “pelo período correspondente à duração da legislatura”. Ou seja, no início de cada legislatura, o Parlamento elege cinco membros do Conselho de Estado.

O que é o Conselho de Estado?

É “o órgão político de consulta do Presidente da República”. É presidido pelo Chefe de Estado e composto pelos seguintes membros:

  • o presidente da Assembleia da República;
  • cinco cidadãos eleitos pela Assembleia da República;
  • o primeiro-ministro;
  • o presidente do Tribunal Constitucional;
  • o provedor de Justiça;
  • os presidentes dos governos regionais;
  • os antigos Presidentes da República eleitos na vigência da Constituição que não tenham sido destituídos do cargo;
  • cinco cidadãos designados pelo Presidente da República pelo período correspondente à duração do seu mandato;

O que é o princípio da representação proporcional?

A principal característica da representação proporcional é o facto de o número de eleitos por cada candidatura concorrente a um determinada eleição ser proporcional ao número de eleitores que escolheram votar nessa mesma candidatura.

É o princípio pelo qual também são eleitos os deputados, aplicando-se o método de Hondt.

Ou seja, esses cinco nomes devem ser proporcionais à representação partidária. Isto significa que, geralmente, o partido mais votado indica três nomes e o segundo mais votado dois. A tradição tem sido o PSD e PS chegarem a uma lista consensual de cinco nomes (e outros tantos suplentes) que é sujeita a voto secreto em urna.

O que é que mudou?

A situação. Neste momento, o partido mais votado é o PSD, mas há uma maioria de esquerda no Parlamento, o que faz com que o PS entenda que deve mudar a relação de forças também nos representantes do Parlamento no Conselho de Estado.

Aplicando o método de Hondt à actual relação de forças no Parlamento, a esquerda teria direito a três lugares e a direita a dois. Mas se for aplicado estritamente em termos partidários, o PSD teria direito a três lugares, o PS a dois e os restantes partidos não teriam lugar no órgão.

O PS já assumiu que quer mais esquerda no Conselho de Estado e o Bloco de Esquerda assumiu publicamente que quer um lugar.

Como é que se vai resolver?

Os nomes têm de ser indicados até ao dia 16 e a votação está marcada para dia 18.

O cenário mais provável é quê sejam feitas duas listas: uma da esquerda e outra da direita. Mas isto implicará que o PS negoceie com os partidos à sua esquerda de forma a garantir a votação necessária. Se tiver de “dar” lugares para garantir votos, o PS pode ficar com apenas um lugar, o que será menos do que teria num acordo com o PSD.

O PSD ainda admite um acordo com o PS para uma lista conjunta, mas não aceita a inclusão de nomes do PCP e do Bloco. O Bloco insiste em ter lugar e só aceita uma lista conjunta se tiver representante de todos os grupos parlamentares. O PCP anunciou que já iniciou contactos com o PS para tentar chegar a uma solução. Para garantir a maioria dos lugares para uma lista de esquerda, são necessários os votos comunistas. Estes dizem que não andam atrás de lugares, mas que querem voltar a ocupar uma cadeira naquele órgão. O CDS tem-se mantido em silêncio.

Além de tudo isto, como o voto é secreto, há sempre riscos em qualquer acordo firmado.

E para que serve o Conselho de Estado?

Serve para aconselhar o Presidente sempre que este julgar necessário.

Segundo a Constituição, compete ao Conselho de Estado pronunciar-se sobre: a dissolução da Assembleia da República e das Assembleias Legislativas das regiões autónomas, a demissão do Governo pelo Presidente, a declaração de guerra (e a feitura da paz) e os actos do Presidente da República interino.

Comentários
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  • Ó alberto
    11 dez, 2015 Lx 10:06
    Não há duvida que você percebe de "representatibilidade", mas não percebe nada de representatividade!...nem tão pouco de proporcionalidade! É areia demais para a sua camionete!
  • Alberto
    10 dez, 2015 Porto 14:39
    A esquerda quer tudo, se for possível expulsar a direita há que fazelo! Mas está-se a esqucer de uma coisa, aquilo que durante quatro anos reclamaram, a Constituição! É que esta manda que a representatibilidade é proporcional aos votos obtidos, e neste caso sáo três do PSD e dois do PS. Ou será que agora já náo interessa a constituiçáo? Ou será a democracia deles?
  • Dança de cadeiras?
    10 dez, 2015 Pt 09:35
    Ou a efectiva representação, tendo em conta a nova correlação de forças no Parlamento? Isto é a democracia a funcionar e não dança de cadeiras!

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