08 dez, 2015 - 02:06 • José Pedro Frazão
O social-democrata José Eduardo Martins defende o fim da coligação PSD/CDS. O militante do PSD, crítico da direcção liderada por Passos Coelho, argumenta que não faz sentido manter a aliança entre os dois partidos agora na oposição.
“Se os partidos têm dois programas diferentes, não faz sentido que o continuem a executar em conjunto. Até porque felizmente podemos separar grupos parlamentares e não deixará de haver sobre um conjunto de matérias essenciais que os ocuparam na governação, alguma convergência, afirmando as diferenças que são precisas”, afirma o advogado, que esta semana ocupou o lugar de Nuno Morais Sarmento no programa “Falar Claro” da Edição da Noite da Renascença.
O antigo secretário de Estado dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes considera que “a direita tem que ter paciência, tem que saber reconstruir boa parte do seu discurso”. José Eduardo Martins considera que o PSD pareceu ter virado demasiado à direita nos últimos anos.
“Fez coisas, tendo como símbolo a abolição dos feriados, que estavam erradas, não traziam verdadeiramente acréscimo de produtividade. Eram só um sinal um pouco castigador absolutamente desnecessário”, sustenta o militante social-democrata que defende ainda que o PSD “precisa de despir algumas vestes paroquiais que nos conferiu uma capa de direita que verdadeiramente não sinto que esteja presente entre os nossos militantes.”
Maioria dos militantes insatisfeitos com direcção do PSD
José Eduardo Martins defende que o PSD deve “refrescar” os seus protagonistas. “Nalguns casos será possível conseguir esse refrescamento com Pedro Passos Coelho, noutros não”, complementa o militante crítico da direcção do PSD.
“O teste é o próximo congresso. Boa parte dos protagonistas do PSD, hoje, deixa insatisfeitos a maioria dos militantes. Com honrosas excepções na direcção do PSD, como José Matos Correia, os militantes, fora do líder, não se sentem propriamente amparados por uma equipa muito capaz. Pedro Passos Coelho tem ocasião agora, com tempo, conhecendo o país como conhece depois destes quatro anos de experiência, de fazer bastante melhor nessa matéria”, sustenta José Eduardo Martins no programa “Falar Claro”.
O substituto de Nuno Morais Sarmento no habitual painel de debate político na Renascença foi depois taxativo: “Não farei parte de uma equipa de Pedro Passos Coelho”.
Na opinião de José Eduardo Martins, “forçar a nota da ilegitimidade” do executivo de António Costa “não vinca diferença nenhuma” no discurso político do PSD, dado que a prazo, “ António Costa é primeiro-ministro na cabeça das pessoas, não interessa se foi eleito ou não”.
O social-democrata concorda com a indisponibilidade do PSD para apoiar o PS no falhanço da coligação de esquerda – “é uma resposta inteligente e não de despeito” – mas discorda da exploração das diferenças entre os partidos que apoiam o PS.
“Quanto mais o PSD fala das diferenças, mais do outro lado há a vontade de se unirem e menos elas vêm ao de cima. Boa parte da união da esquerda nestas últimas semanas tem sido provocada por esta necessidade de afirmação. O tempo não pode deixar de separar aquilo que não é associável”.
Negociação permanente
José Vera Jardim sublinha uma diferença essencial do Governo Costa em relação ao Governo Passos.
“Nós temos que nos habituar agora a uma forma de governação completamente diferente. Até agora, havia uma maioria absoluta que ditava e dizia: ‘É assim’, com muito pouco diálogo com as outras forças, designadamente com o PS, mas o passado já lá vai e não vale a pena entrarmos por aí. Só vale a pena entrarmos pela contraposição que é possível fazer. Neste momento, temos um Governo que vai governar com base no seu programa, mas numa negociação permanente com as forças que o apoiam no Parlamento”, defende o antigo ministro da Justiça no programa “Falar Claro”.
Vera Jardim defende a importância de garantir um défice em torno dos 3% no final de 2015 mas recusa responsabilizar o Governo anterior por algumas derrapagens.
“Não vou fazer um processo de intenções ao anterior Governo. Já chega, já estamos fartos disso. É preciso que o actual Governo - que naturalmente recebeu uma herança e essa herança é o que é - tente na medida do possível, porque isso é fundamental para o país, que nós chegássemos ao fim do ano com um défice inferior a 3%. Se é 2,95% ou 2,875%, isso é um pouco indiferente, desde que se situe na margem dos 3%”, afirma Vera Jardim na Renascença.
Para José Eduardo Martins, “um Governo de António Costa que acabe muito depressa só pode ser significado que alguma coisa correu muito mal. Obviamente que o mal dos outros é a alegria dos tolos”.
O militante social-democrata considera que as respostas do quotidiano – “ a vidinha” – são as mais importantes quando outras começam a tardar. E que respostas são prioritárias?
“O nosso grande desafio do futuro é passar de uma discussão sobre política de rendimentos e de um efeito sempre pequeno que ele tem sobre a economia para dizer o que é que este país quer ser daqui a 15 a 20 anos. Qual é a ambição desta pequena economia aberta nesta economia globalizada em que os capitais e as pessoas circulam cada vez mais depressa? Acho que ninguém respondeu a isso, nem direita, nem esquerda, nem centro, nem centro-esquerda”, lamenta José Eduardo Martins na Renascença.