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Chamam-lhe o “Fukushima brasileiro”. Cidade de Mariana debaixo de lama tóxica

17 nov, 2015 - 13:08

Duas barragens da empresa de mineração Samarco explodiram no dia 6 de Novembro e uma lama cheia de resíduos de minérios invadiu a vila de Bento Rodrigues e o Rio Doce, que abastece as habitações da zona.

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O Brasil vive uma tragédia ambiental. Os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, no estado de Minas Gerais, poderão transformar-se em desertos de lama. Ecologistas, geofísicos e gestores ambientais não têm dúvida: “nada nasce ali” e vai demorar “dezenas de anos” para que a lama seque.

O cenário é devastador e a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, constatou isso mesmo ao sobrevoar a área afectada na semana passada.

Segundo a associação ambientalista Greenpeace, haverá perto de 600 pessoas afectadas. O rio Doce foi transformado em lama espessa de terra e areia e, por isso, o abastecimento de água à população foi suspenso. Cerca de 500 mil pessoas estão com as torneiras secas, avança a “Folha de São Paulo”. São também precisos alimentos e roupas e cobertores.

Em resposta, organizações não-governamentais e a sociedade civil organizaram-se para ajudar. Foi, por exemplo, criado o site e página de Facebook riodoce.help, onde quem precisa de ajuda se cruza com quem pode ajudar.

De acordo com os promotores deste site, “o Brasil sofre a maior tragédia ambiental, ecológica, hídrica e económica de sua história”.

No Facebook, foi mesmo criada a “hashtag” #brazilianfukushima, numa comparação com o desastre nuclear que ocorreu na cidade japonesa de Fukushima, em Março de 2011.

Em entrevista à "Folha de São Paulo”, o presidente do Comité de Bacia do rio das Velhas e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Marcus Vinicius Polignano, indica que um dos mais graves efeitos do despejo de resíduos nas águas é o assoreamento de rios e riachos, que ficam mais rasos e têm seus cursos alterados pelo aumento do volume de sedimentos, no caso, de lama.

“É algo irreversível”, diz. Além disso, a lama impede a entrada de luz solar e a oxigenação da água, o que sufoca peixes e outros animais aquáticos. “A perda da biodiversidade pode demorar décadas para ser reestabelecida”, sublinha, por seu lado, o ecologista Ricardo Coelho.

O biólogo e investigador André Ruschi vai mais longe: “Há espécies animais e vegetais ali que podemos considerar extintas a partir de hoje”.

A ruptura de duas barragens da mineradora Samarco, no dia 6, espalhou 60 mil milhões de litros de resíduos de mineração de ferro – o equivalente a 24 mil piscinas olímpicas – na bacia do rio Doce, a quinta maior do Brasil.

A Promotoria do Estado de Minas Gerais detectou indícios de negligência no sucedido. “Não foi acidente. O que houve foi um erro na operação e negligência na monitorização”, afirmou o promotor de Justiça do Meio Ambiente ao jornal da Globo.

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  • Anselmo
    17 nov, 2015 São Paulo - Brazil 16:23
    “Não foi acidente. O que houve foi um erro na operação e negligência na monitorização”. No Brasil (terra de ninguém) as constatações sempre surgem após as desgraças. Após o ocorrido, sempre aparecem "autoridades" forradas de conhecimento das causas de tragédias. Nunca antes de que elas ocorram.
  • Sempre Atento
    17 nov, 2015 Algures 16:12
    Os culpados serão punidos? isto é uma vergonha para o Brasil, e uma tragédia para todo o ser vivo naquela zona, é triste demais, e volto a dizer, há que punir forte e feio os bandidos que causaram esta tragédia, pois eu não acredito que não haja responsáveis.

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