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“Deus continua a chamar. E chama fortemente”

13 nov, 2015 - 20:06 • Filipe d'Avillez

Chega ao fim, este domingo, a semana de oração pelos seminários. Em Lisboa existe um seminário que pertence ao Patriarcado, mas segue a espiritualidade do Caminho Neocatecumenal. Uma aposta recente mas que já tem dado frutos.

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Na semana dos seminários, a Renascença foi conversar com o reitor da Redemptoris Mater, o seminário em Lisboa que segue a espiritualidade do Caminho Neocatecumenal e que todos os anos contribui com candidatos ao sacerdócio.

Nesta entrevista o padre Fernando André explica as origens deste movimento e sublinha que a taxa de desistências do ministério sacerdotal é menor entre os formados nestes seminários do que nos diocesanos.

Qual é a origem do movimento e há quanto tempo está em Portugal?

O Caminho Neocatecumenal (CN) começou nos anos 60, em Madrid, por obra de um pintor, Kiko Arguello e uma irmã leiga, Carmen Hernandez. Começaram nas barracas, em Palmeras, a formar pequenas comunidades para desenvolver a fé. Foi um caminho que foi surgindo. Em Portugal começou em Lisboa, na paróquia da Penha de França em 68. Desde essa altura tem havido um crescimento e actualmente em Portugal há cerca de 300 comunidades, em Lisboa há 140 comunidades.

E porquê um seminário diferente do diocesano? Não seria possível as pessoas estarem num seminário “normal” e continuarem embebidas nessa espiritualidade?

É possível e, de facto, no Seminário dos Olivais existem algumas vocações que provêem do CN também. Este seminário é um seminário que, para além de ser diocesano, é um seminário com cariz missionário, ou seja, em que os presbíteros uma vez ordenados estão um tempo ao serviço na diocese e o patriarca pode enviá-los para zonas onde seja necessário mais presbíteros, onde haja maior carência.

Mas é o patriarca que decide, não é o movimento?

É o patriarca. Os presbíteros estão incardinados na diocese e dependem como os outros do patriarca.

É importante conhecer um pouco a génese destes seminários. Estes seminários nasceram em 1987. Três anos antes tinham sido enviados a zonas bastante pobres da América Latina quatro famílias que se encontraram com uma Igreja sem clero. Zonas imensas cheias de seitas. A partir daí, surgiu a necessidade de se dar resposta também a esta evangelização e em 87 o Kiko propôs ao Papa criar um seminário da diocese de Roma para este fim. Portanto, os seminários surgem de uma necessidade de evangelização. Esta foi a fórmula encontrada e que tem dado bastante resultado.

Eu fui formado no seminário Redemptoris Mater de Madrid, onde já foram ordenados 100 presbíteros. Metade está em missão, alguns já estiveram e depois voltaram por um tempo, portanto tem funcionado bastante bem.

Há a ideia de que os vossos seminários têm uma desproporção de vocações... É verdade?

É preciso notar que há actualmente 105 seminários destes no mundo inteiro. Normalmente todos os anos entram 300 ou 350 jovens nos seminários. O de Lisboa é um seminário relativamente pequeno, tem 20 seminaristas, em relação ao seminário dos Olivais, que, como nosso “irmão mais velho”, é bastante maior.

Será que o carisma do movimento potencia a resposta positiva, mais do que a vida paroquial numa paróquia normal de Lisboa?

Eu não gosto de entrar em comparações. Eu posso falar da realidade do CN e sem dúvida que quando há uma vivência séria da fé, quando todas as semanas a pessoa é confrontada com a palavra de Deus, com os sacramentos da Eucaristia e da penitencia; quando há um amadurecimento da fé, obviamente há esta interrogação sobre o que Deus procura ou quer de mim.

São João Bosco dizia que mais de metade dos jovens, nalgum momento da sua vida eram chamados por Deus ao presbiterado. É um facto que Deus continua a chamar actualmente. E chama fortemente. Depois, a resposta às vezes não é tão fácil, tão imediata, há outros caminhos. Mas quando há uma procura das vocações, elas surgem.

Depois, é uma prática do CN que sempre no final das Jornadas Mundiais da Juventude, no final das jornadas. No dia a seguir, normalmente, há um encontro com os jovens do caminho onde se faz um chamamento às vocações, seja as vocações ao presbiterado, seja as vocações à vida consagrada, e tem sido uma fonte de chamamento muito forte. Eu mesmo senti o chamamento, ou confirmei o chamamento, nas jornadas mundiais da juventude de Santiago de Compostela, em 1989, e entrei para o Seminário depois.

É um ambiente muito particular, esse, não é?

Há um encontro com um tempo de uma celebração da palavra, uma catequese kerygmática, e ao final há um chamamento a quem se deseja disponibilizar. Os jovens que participam nessa catequese, que escutam a palavra de Deus, que vêm do encontro com o Papa, estes jovens levantam-se e vão receber uma bênção da parte dos bispos presentes, e de facto é uma ajuda para os jovens. Os jovens precisam de momentos fortes, precisam de se sentir interpelados, e este é um momento que interpela bastante e que ajuda.

No seu caso, já tinha falado disso com alguém?

Eu já tinha pensado no tema vocacional, já tinha falado com o meu pároco e já levava três anos a pensar neste tema, mas foi ali em Santiago de Compostela que se deu o clique, o momento certo.

Sabemos que há muitas desistências nos seminários – o que não é necessariamente uma coisa má. Mas tem ideia de haver mais ou menos nos vossos seminários do que nos diocesanos?

Não sei. Sei que a nível dos padres ordenados a nível mundial o número de defecções, de padres que deixam o presbiterado, graças a Deus que do Redemptoris Mater são poucas, muito reduzidas.

Neste momento vai haver ordenações ao diaconado no final de Novembro. Há candidatos vossos?

Sim, vão ser ordenados dois diáconos do Redemptoris Mater.

De um total de quantos?

Sete, penso eu. Cinco dos Olivais, dois do Redemptoris Mater. Penso que são 12 ao todo, incluindo alguns religiosos.

[Notícia corrigida às 14h41]

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