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Em África, a rádio é instrumento ao serviço dos direitos humanos

05 nov, 2015 - 18:30 • José Carlos Silva

Sofia Carvalho de Almeida esteve na Guiné a trabalhar para as Nações Unidas e viu como a rádio pode fazer pontes e ajudar as populações a preparar-se para enfrentar crises como foi a epidemia da ébola.

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Em África, a rádio é o meio de comunicação de massas por excelência. É o que defende a portuguesa Sofia Carvalho de Almeida, ex-funcionária das Nações Unidas na Guiné-Bissau, num novo livro.

“A Rádio como Instrumento Pedagógico na Difusão dos Direitos Humanos” (ed. Chiado) resulta de uma tese de mestrado de Sofia Carvalho de Almeida. É, segundo a autora, o único trabalho de campo sobre o tema feito na Guiné-Bissau.

Sofia Carvalho de Almeida concluiu que neste país da África subsariana a rádio é dos maiores disseminadores de notícias e informações do país, servindo como poderoso “catalisador de transformação social” e de “emancipação política”.

O mesmo acontece noutros países em vias de desenvolvimento. “A rádio chega a toda a gente. E nestes países é definitivamente o meio de comunicação, de informação, é o meio que liga as pessoas, que lhes permite saber um pouco mais, que as faz ter contacto com a realidade.”

“Se não for a rádio que liga as pessoas, elas ficam ainda mais isoladas”, conclui a autora.

Rádios contra o ébola

A autora não disfarça a sua paixão pela rádio. Chegou a ajudar a criar a Rádio Biombo em 2009 na Guiné-Bissau, onde viveu nos últimos anos.

No início do Verão passado, com o surto de ébola na vizinha Guiné-Conacri teve a prova provada da importância da rádio nos países em vias de desenvolvimento.

“Deparados com aquela emergência, tivemos de preparar um plano de médio e de longo prazo, mas em algo que pudéssemos fazer já. Como chegar a populações com uma taxa de analfabetismo altíssima, que não sabe português, em que a maioria não sabe sequer crioulo e nas áreas mais vulneráveis junto da fronteira ainda pior?"

A primeira solução passou por recorrer às rádios comunitárias guineenses, sobretudo as que emitiam nas zonas de fronteira. “A primeira coisa que fizemos, efectivamente, foi falar com as rádios comunitárias que estavam junto à fronteira com a Guiné-Conacri, enviar-lhes imediatamente um conjunto de mensagens-chave para serem disseminadas nos dialectos das etnias predominantes naquela zona.”

O surto de ébola foi contido, provavelmente, com o contributo da rádio. A tese de mestrado de Sofia Carvalho de Almeida levou algum tempo a concluir, em parte devido a revezes como o golpe de estado em Bissau em Abril de 2012, que a obrigou a refazer o trabalho.

“Mudou muita coisa efectivamente. Mudou no país, mudou na tese e tive de reestruturar todo o trabalho. Previa a participação de variadíssimas rádios comunitárias, que tiveram de ser alteradas, porque, com o golpe, alguns dos responsáveis de quem pretendia a colaboração, deixaram de o ser, os materiais já não existiam.”

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