03 nov, 2015 - 15:26
Uma investigação interna levada a cabo por especialistas financeiros do Vaticano terá descoberto uma série de irregularidades e ilegalidades envolvendo o departamento que administra o Património e a carteira de acções e investimentos da Santa Sé, conhecida pela sigla APSA.
Segundo as suas próprias regras, a APSA só deve permitir a abertura de contas a pessoas de fora da estrutura do Vaticano em situações excepcionais e com a autorização do cardeal responsável. Contudo, segundo um relatório interno que foi visto pela Reuters, o administrador de um banco familiar italiano utilizou contas na instituição para cometer uma série de fraudes.
Giampietro Nattino, da Banca Finnat Euroamerica S.p.A, é suspeito de, entre outras coisas, ter usado contas da APSA para comprar acções colocadas pela Euroamerica antes de estas terem sido disponibilizadas a outros compradores.
A investigação terá descoberto que Nattino era o dono do “Portfolio 339”, que era composto por quatro contas, entre o ano 2000 e 2011. O saldo total dessas contas, cerca de dois milhões de euros, foi transferido para a Suíça dias antes da entrada em vigor de novas regras de transparência para as finanças do Vaticano.
O relatório a que a Reuters teve acesso pergunta por que razão Nattino estava autorizado a ter contas na APSA e levanta a hipótese de os seus crimes terem contado com a cumplicidade de funcionários internos. Segundo as regras da APSA, a conta só devia ser permitida com a autorização explícita do cardeal encarregue da instituição que, durante muitos desses anos, foi o italiano Attilio Nicora. Questionado sobre o assunto pela Reuters, Nicora, que actualmente tem 78 anos e está afastado da APSA, respondeu apenas que a instituição não é um banco porque não empresta dinheiro, mas recusou-se a abordar as muitas perguntas feitas pela agência noticiosa.
Esta não é a primeira vez que a APSA aparece nas notícias pelas piores razões. Em Junho de 2013 foi detido o padre Nunzio Scarano, que tinha trabalhado na instituição durante 22 anos, quando tentava entrar na Suíça com 20 milhões de euros em dinheiro, para ajudar amigos a evitar o pagamento de impostos e enfrenta a acusação de usar o Banco do Vaticano para lavagem de dinheiro.
A investigação interna do Vaticano já foi entregue ao procurador-geral da Santa Sé, que abriu a sua própria investigação criminal. Foi também enviada para as autoridades italianas e suíças, para verificação, uma vez que várias das transacções envolvem instituições destes países.