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Professores portugueses pouco motivados para continuar a estudar

28 out, 2015 - 08:34

Livro da FFMS com reflexões sobre o estado do ensino é assinado por três especialistas e lançado esta quarta-feira. A formação contínua de professores, lê-se, deve conduzir à permanência na actividade com felicidade e realização pessoal: um benefício para o aluno, para a escola e para o sistema em si.

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A formação contínua de professores é essencial para o sucesso dos alunos, mas a grande maioria dos docentes portugueses sente-se pouco incentivada a fazê-la, defende um dos autores do livro "Formação de professores: tendências e desafios".

A formação contínua de professores e o equilíbrio entre a teoria e a prática na formação inicial são alguns dos pontos essenciais para o sucesso da profissão, segundo Javier Valle, professor na Universidade Autónoma de Madrid e um dos três autores do livro promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) apresentado esta quarta-feira na Universidade do Algarve.

O livro oferece um conjunto de reflexões feito por três especialistas em educação: o professor António Mouzinho, a investigadora italiana Francesca Caena e o especialista em educação Javier M. Valle.

Javier Valle defende que é "necessário reformular de forma adequada a formação permanente", mas reconhece que faltam incentivos para os docentes o fazerem e que em muitas escolas não existe essa oferta.

O especialista lembra que a grande maioria dos professores espanhóis (80%) e portugueses (85%) sente que não recebe incentivos suficientes para participar na formação contínua, segundo o Inquérito Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS), promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Com base naquelas percentagens, o relatório TALIS conclui que "isto é importante porque as taxas de participação estão abaixo da média em Espanha e em Portugal".

"Em alguns países, a maioria dos professores trabalham em escolas sem qualquer programa formal de indução. É o caso de Brasil, Espanha, México, Polónia e Portugal, onde entre 70% a 80% dos professores trabalham em centros educativos onde não existe tal programa de indução", cita Javier Valle.

O especialista aponta vários factores essenciais na formação de professores, tais como a selecção dos alunos que pretendem entrar num curso de formação de docentes, o acesso à profissão docente após essa formação, a liderança pedagógica das escolas ou o prestígio social da profissão.

Investigadora defende avaliação de docentes na sala de aula

Também a professora Francesca Caena, da Universidade de Veneza, partilha de algumas opiniões do investigador espanhol. Depois de estudar a realidade de vários países europeus, encontrou pontos comuns sobre o que considera serem as competências necessárias que todos os professores devem dominar, tais como a importância da formação estar "intimamente ligada às escolas - ao terreno educativo - e não só às instituições de ensino superior".

No mesmo sentido, entende que também a avaliação das competências dos docentes deve ser feita na sala de aula e no exercício da profissão. Finalmente, defende que a formação deve ser um processo contínuo. .

Apesar do consenso quanto à importância da formação dos professores para o sucesso dos alunos, existem muitas opiniões sobre a forma como essa formação deve ser concretizada.

António Mouzinho, professor do ensino secundário em Portugal há mais de 40 anos, escreve com base na sua reflexão pessoal sobre o processo de selecção, formação, exercício e contratação e defende que todo este processo deverá conduzir à permanência na actividade docente com felicidade e realização pessoal, o que constituirá um benefício para o aluno, para a escola e, em última instância, para o sistema de ensino.

O autor português critica a introdução das provas de acesso para os professores (PACC), que classifica de "pífias" e defende que "todo o ensino em Portugal precisa de uma séria revisão curricular".

A apresentação do livro, hoje no Algarve e depois em Lisboa, insere-se na iniciativa Mês da Educação, lançada pela FFMS, que tem contado com a realização de vários debates a nível nacional e a apresentação de estudos em áreas como a do desempenho dos alunos ou a qualidade da escola.

Comentários
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  • Manuel Cabrito
    28 out, 2015 Oeiras 10:17
    No estudo referido (aparentemente), professores são os que se encontram integrados na carreira, isto é, os chamados "efetivos". Para a maioria de tais profissionais, a formação só é considerada se tiver créditos que lhes permitam progredir na carreira. Visto que atualmente a progressão na carreira se encontra congelada, é melhor esquecer as propostas de formação que vão surgindo. Por outro lado temos os professores candidatos (alguns eternos candidatos) a professor, vulgo professores contratados, que em muitos casos continuam os seus estudos, concluindo mestrados (científicos) e nalguns casos doutoramentos, formação essa que não lhes acrescenta valor nas listas de graduação. Há pois, uma evidente subversão em relação às competências daqueles que desempenham tão nobre profissão, ou seja, os que deveriam ser mais competentes e estar melhor apetrechados cientificamente, não o são. Os melhores (até dando eco à opinião de muitos alunos e pessoal não docente), estão à margem daquilo que é um sistema de ensino gerido por um modelo parasitário do intelecto daqueles que por gosto à arte se sujeitam a uma vida de puro sacrificio. Será no entanto importante realçar que apesar do que fica dito, no sistema existem algumas "pérolas" que são a exceção e por vezes verdadeiros faróis no interior das escolas (estão em vias de extinção, claramente).
  • Daniel José Vieira B
    28 out, 2015 Pedroso 10:15
    Eu gostava era de ver os professores mais antigos a fazer os exames de ingresso na carreira. Ia-me rir muito

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