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Angola acusa Portugal de querer “diabolizar” o país e critica “ingerência desabrida nos assuntos da sua soberania”

25 out, 2015 - 12:18

Embaixador angolano diz que Portugal está a “abafar as conquistas [angolanas], por causa de um indivíduo que é mais falado que o Papa”. Num editorial, o “Jornal de Angola” classifica de “grave precedente” a visita do embaixador português ao activista Luaty Beirão.

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O embaixador angolano em Lisboa acusa Portugal de utilizar o caso dos 15 activistas detidos em Luanda como “pretexto” para voltar a “diabolizar Angola”. Em declarações citadas este domingo no “Jornal de Angola”, José Marcos Barrica condena a “insistente diabolização de Angola” por parte de alguns “sectores maléficos” da sociedade portuguesa.

Em causa está o caso dos activistas acusados formalmente, desde Setembro, de actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, com início do julgamento agendado para 16 de Novembro, no Tribunal Provincial de Luanda.

Um destes é o ‘rapper’ e activista Luaty Beirão, 33 anos, angolano mas também com nacionalidade portuguesa, e que cumpre este domingo o 35.º dia de greve de fome numa clínica privada de Luanda, onde se encontra sob detenção, exigindo aguardar julgamento em liberdade.

Na opinião do diplomata José Marcos Barrica, assiste-se hoje em Lisboa “a uma campanha para denegrir a imagem de Angola e abafar as suas conquistas alcançadas ao longo dos 40 anos de independência, por causa de um indivíduo que em Portugal é mais falado que o Papa”.

E sublinha: “Fiel aos bons costumes e ao princípio de não-ingerência, jamais Angola ousou questionar ou exercer pressão de qualquer espécie sobre decisões de entidades portuguesas, por constituírem assuntos internos deste Estado soberano”.

Em vários países europeus, nomeadamente Portugal, sucedem-se vigílias e manifestações de apoio ao grupo dos 15 detidos, apelos ao fim da greve de fome de Luaty Beirão e pedidos dirigidos ao Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para libertar os activistas.

Para o embaixador angolano, essa pretensão constituiria uma violação ao princípio da separação de poderes. “O Presidente da República não pode fazer o papel que cabe aos tribunais, interferindo no tratamento de matéria sob a alçada do poder judicial”, afirma Marcos Barrica.

“De Portugal nada se espera”

O mesmo “Jornal de Angola” que cita as declarações do embaixador de Angola em Portugal publica este domingo um editorial, no qual o seu director afirma que a recente visita do embaixador português em Luanda ao activista angolano Luaty Beirão, abriu “um precedente grave”.

José Ribeiro recorda que sobre “esse cidadão” pendem “acusações gravíssimas” de “envolvimento em actos de perturbação de ordem pública em Angola, no quadro de uma acção mais vasta de transformar o país numa nova Líbia em África”.

“O diplomata português acaba de legitimar toda a ingerência personificada nas manifestações em Portugal. O Governo português, depois de tanto tempo, volta a cair na asneira de se pôr do lado errado”, lê-se no artigo, intitulado “De Portugal nada se espera”.

O director do jornal estatal, que assina o editorial aos domingos, diz ainda que a “ingerência desabrida” portuguesa “nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites”.

Na quinta-feira, o embaixador João da Câmara encontrou-se durante 20 minutos com Luaty Beirão e exigiu a sua libertação e a de outros 14 activistas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros garantiu, anteriormente, que “Portugal prossegue o acompanhamento da situação de Luaty Beirão e de todos os detidos no caso presente, através de contactos junto das autoridades angolanas, quer a nível bilateral, quer em coordenação com os seus parceiros da União Europeia”.

Em resposta, o editorial diz que “a cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O nível que atinge a ingerência portuguesa nos assuntos estritamente angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou a sua independência em 1975 e quando se aproximava a derrota da UNITA de Jonas Savimbi, antes de 4 Abril de 2002”.

E conclui: “Hoje nada mais resta a fazer senão trabalhar com o poder de Bruxelas, que é quem manda de facto em Lisboa. São os próprios portugueses que o dizem. Para Portugal, está apenas reservado o papel de caixa-de-ressonância dos diferentes interesses que se digladiam. Essa é porventura a razão por que o Governo português não condena as actuais acções de desestabilização de Angola e pactua com a ingerência. Está de braços amarrados”.

Comentários
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  • Que vergonha!
    26 out, 2015 Santarém 19:55
    É incrível toda esta conversa, o Luaty Beirão é também um cidadão português e não foram estes senhores do MPLA que se serviram do terrorismo apoiados pela URSS e seus correligionários para atingirem os fins desejados atacando o regime de Salazar? Não conseguem ver agora que são muito piores do que ele e por cá o PCP tão caladinho com esta e outras situações quando antes eram tão ativos em os apoiar e ainda há por cá quem os apoie e lhe peça até a mão para conseguirem chegar ao Poder, que politica nojenta!.
  • Jaime Branco
    25 out, 2015 Samora Correia 22:20
    O sr. Embaixador de Angola, em vez de tentar desviar as verdadeiras intenções do seu país, leia-se, do seu governo, para o comportamento de Portugal face às degradantes condições de vida IMPOSTAS a milhões de cidadãos angolanos, quando meia dúzia de famílias vivem desmedidamente acima da média angolana que possamos imaginar, devia perguntar-se onde foram aplicados os milhares de milhões de dólares arrecadados pelo "seu" governo. Provavelmente come da mesma "gamela" e, como tal, tem de falar em tom ameaçador contra L.Beirão, que, POR ACASO, também é português. E obviamente, contra Portugal! Caso haja (e quero acreditar que tudo se normalize pacificamente) alguma mudança drástica e radical naquele grande país, os governantes e seus apaniguados já estão, todos, com a excelente vida assegurada em vários países e continentes, nomeadamente na Europa. Não em Angola. Porquê? Tenha mais calma, sr. Embaixador, e não leve a mal esta simples opinião, de um português que conhece muito bem África e até lá nasceu (em África...). Não defenda que o regime político angolano seja muito idêntico ao da Coreia do Norte.
  • António Martins
    25 out, 2015 Vila Real 21:04
    Tanta agitação por causa de Angola. Os angolanos tratem da sua vida que eu trato da minha. Afinal cada povo tem os governantes que merece. O MPLA e Eduardo dos Santos são exactamente iguais à UNITA de Savimbi e seus sucessores. No dia, ainda longínquo, em que o MPLA abandonar o poder, a oposição (des)governará de forma idêntica. Se têm dúvidas, reparem para o Brasil e para o que fizeram Dilma e Lula e como a corrupção continuou como anteriormente.
  • Catarino Alva
    25 out, 2015 Barreiro 17:30
    Então o PCP não diz nada sobre isto.Ficamos aguardar a decisão do Comité Central.
  • Salazar
    25 out, 2015 Portugal 13:48
    O que Angola deveria dizer é que está a ser governado por um ditador que se está a mostrar que em breve será pior que Hitler , ele o hitler não roubou um povo nem subjugou o mesmos a uma escravidão e nunca sustentou ninguém da família para que a mesma comprasse o que compra com dinheiro proveniente do sangue do povo.
  • domingues silva
    25 out, 2015 setúbal 13:43
    Este Sr. Embaixador está a querer camuflar a prisão de um ativista e a ofender o povo luso por tentar alertar para a prisão de um ativista luso-angolano com as suas manifestações dando como ingerência e desestabilização de Angola. Será que em Angola não existem manifestações de apoio ao dito ativista ou será que em Portugal e em Angola os povos não são livres ou deveriam ser livres das suas ações, sobretudo no que diz respeito á denúncia de situações desagradáveis sobre o ser humano, como por exemplo os maus tratos nas prisões. Este Sr. está a querer calar a pretexto de ingerência o que efetivamente ninguém certamente estará a intrometer-se nos assuntos de Angola mas sim em defesa de um indefeso. Querer calar é antidemocracia.
  • Luis
    25 out, 2015 Lisboa 13:11
    Portugal não tem que entervir na politica dos outros paises, nomeadamente em Angola.

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