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Liberdade religiosa

Sobrevivência do cristianismo ameaçada em muitos países do mundo

13 out, 2015 - 16:17 • Ângela Roque

Relatório confirma que os cristãos são os mais perseguidos por causa da sua fé e que o radicalismo islâmico cresceu. Em muitas regiões, a presença do cristianismo pode desaparecer no espaço de uma geração.

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“Perseguidos e esquecidos?” Este é o título do novo relatório da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS) sobre a situação dos cristãos em vários locais do mundo. O documento, que analisa a situação em 22 países entre 2013 e 2015, conclui que a situação se agravou.

Os cristãos não só continuam a ser os mais oprimidos e violentados, (representam 80% dos casos de perseguição no mundo), como estão a ser obrigados a abandonar zonas onde sempre viveram.

O “medo do genocídio”, por parte do autodenominado Estado Islâmico e de outros grupos radicais, desencadeou um êxodo de cristãos sem precedentes do Médio Oriente, mas também de dioceses inteiras em África. Uma espécie de “limpeza étnica”, refere o relatório, que destaca a situação particular do Iraque, onde o cristianismo está “em vias de desaparecer, possivelmente no prazo de cinco anos, a menos que seja disponibilizada ajuda de emergência a nível internacional”.

“Se a situação não melhorar, refere o documento, “o cristianismo estará em vias de extinção no coração de muitas das regiões bíblicas no espaço de uma geração, senão antes”.

Catarina Martins, da Fundação AIS em Portugal, sublinha que o cristianismo está a viver uma situação dramática. “Só para temos uma ideia, no Iraque em 2003 havia 1 milhão e meio de cristãos. Actualmente temos entre 200 a 250 mil cristãos. Há, de facto um desaparecimento, um genocídio em curso, uma limpeza das várias minorias que coexistem há dois mil anos nesta zona”, disse à Renascença.

Testemunhos da perseguição

No prefácio deste relatório Jean-Clement Jeanbart, o arcebispo greco-católico Melquita de Alepo, escreve: “Na minha diocese, no norte da Síria, estamos na linha da frente deste sofrimento. A minha catedral foi bombardeada seis vezes e agora não a podemos usar. A minha casa também foi atingida mais de dez vezes. Estamos a enfrentar a raiva de uma jihad extremista. Podemos vir a desaparecer em breve”.

Este responsável diz que tanto na Síria como no Iraque “as comunidades cristãs – juntamente com outras minorias vulneráveis – estão indefesas contra os assaltos dos terroristas do Estado Islâmico. Somos o alvo principal daquilo a que o califado denomina campanha de limpeza religiosa. Somos de facto tratados como ‘ovelhas destinadas ao matadouro’”.

Os graus da perseguição

A situação dos cristãos tem vindo sempre a agravar-se desde que o primeiro relatório sobre a liberdade religiosa foi feito, há nove anos. Segundo o novo texto, o número de países onde os cristãos sofrem “perseguição extrema” aumentou de seis para dez, desde 2013.

Os recém-chegados a esta categoria foram a Nigéria, o Sudão, o Iraque e a Síria, que se juntam assim à lista de piores infractores, que já existia, e da qual constam a China, a Eritreia, a Coreia do Norte, o Paquistão, a Arábia Saudita e Vietname. Entre os nove países onde se agravou a violência islâmica anticristã estão ainda a Indonésia, o Quénia e o Irão. A Coreia do Norte e a Eritreia estão entre os piores, em termos de actos de ódio contra cristãos.

O relatório “Perseguidos e Esquecidos?” vai ser apresentado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre na Sociedade de Geografia, em Lisboa, pelas 18h00. Vão estar presentes D. George Jonathan Dodo, bispo de Zaria, na Nigéria, o padre Aurelio Gazzera, Carmelita Descalço da República Centro-Africana, e a irmã Annie Demerjian, da Congregação das Irmãs de Jesus e Maria, de Alepo, na Síria.

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