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Estão por “apurar as consequências” da crise na saúde, avisa Lobo Antunes

06 out, 2015 - 10:30

“Seria condenável, até do ponto de vista ético, não apurar bem tudo isto e colher as consequentes lições para o futuro”, defende o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

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O presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), João Lobo Antunes, considera que está por fazer “a avaliação das consequências da crise” na saúde, “dada a sua complexidade e, naturalmente, a dificuldade de detectar efeitos que podemos chamar de retardados”.

Mas não o fazer é, em seu entender, condenável. “Até do ponto de vista ético”, Lobo Antunes defende ser necessário “apurar bem tudo isto e colher as consequentes lições para o futuro”. Caso contrário, “perde-se a oportunidade de aproveitar o único ‘benefício’ possível do sofrimento de tantos: o aprender a prevenir ou a atenuar o que é nefasto para toda a sociedade”.

Há uma questão a que o neurocirurgião diz ser “particularmente sensível: o princípio da justiça na prestação de cuidados de saúde e a necessidade de enfrentar sem preconceitos a dificuldade de conciliar os custos que não param de crescer com os eventuais benefícios que se colhem, do que chamei a ‘nova Medicina’”.

“Nesta, como em certas questões chamadas fracturantes, abunda a demagogia e – é triste dizê-lo – a ignorância”, declara.

Na quinta-feira, comemora-se o 25º aniversário do CNECV. Em entrevista por escrito à agência Lusa, o neurocirurgião afirma que, “em certa medida, nas últimas décadas, a ética andou sempre um passo atrás do progresso científico e tecnológico” e cita como “um dos mais paradigmáticos [exemplos] o que se passou com a clonagem e a tempestade filosófica e moral que originou”.

João Lobo Antunes considera que “a sociedade está muito mais desperta” para a questão da necessidade de uma aliança entre ética e tecnologia e diz que “as ciências da vida têm um abraço muito amplo, da biologia molecular ao clima, e conhecem hoje uma explosão sem precedentes”.

“O desafio é, por isso, uma ecologia moral necessária para que o novo conhecimento seja uma bênção e não uma maldição”, defende.

O médico recorda ainda que o CNECV foi “um dos primeiros [a surgir] na Europa” e que “reflecte, tal como a sociedade plural em que se insere, uma grande diversidade de visões e de opiniões”.

“O que se procura é uma medida de consenso que sirva valores fundamentais, respeitando o que alguém chamou de ‘economia da diferença’”.

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