Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Reportagem

​Em Vila de Rei, campanha não entra

28 set, 2015 - 17:25 • Joana Bourgard e Dora Pires

Por trilhos e atalhos, as jornalistas Dora Pires e Joana Bourgard percorrem o país à procura das histórias que não cabem nas caravanas dos partidos.

A+ / A-
vila de rei
vila de rei

Lá que dava uma bela acção de campanha até dava. Mas, pelo menos hoje, aqui campanha não entra (alguns partidos tentaram, garante o autarca local). São demasiado poucos para haver divisões e a cerimónia de entrega de prémios aos que mais fazem pela terra decorre em família.

A pacatez das ruas de Vila de Rei, município do distrito de Castelo Branco que é pioneiro na aplicação de medidas pró-natalidade e de fixação de população, ainda é maior que o costume. Está toda a gente na entrega das medalhas e dos cheques. A sala é uma curiosa mistura de gente muito nova e muito velha.

Muitos chegaram de carrinho, uns de cadeira de rodas, outros de carrinho de bebé. Cada um vive um momento solene à sua maneira.

Um a um, todos os que casaram ou tiveram filhos no último ano vão ao palco receber o cheque a que têm direito. Todos são muito aplaudidos.

Até podia haver uma tabela de preços à entrada: um casamento vale 750 euros, tanto como o primeiro filho. Já o segundo dá direito a 1.500 euros, o mesmo que recebem os casais a fazerem tratamentos de infertilidade.

O casal Vicente já vai no terceiro cheque: casaram e são pais de um rapaz e uma bebé de meses. A ajuda da autarquia "faz diferença. Pensámos usar o dinheiro em qualquer coisa para a Camila – por exemplo, mobilar o quarto dela, que ainda não está. Mas decidimos abrir uma continha.”

Hugo e Ana Louro brilham mais que os outros. Não é só por terem recebido o primeiro cheque do casamento, é porque vão receber outro cheque no próximo ano, que é como quem diz, por irem finalmente ser pais.

"Se não houvesse cheque, nascia na mesma (há-de ser Gonçalo). Aconteceu exactamente como planeámos, casar e começar uma família”, contam. E vão continuar por aqui? "Sim, somos da região e aqui tem-se de tudo, a creche é muito boa e não se paga. Vive-se bem, no Inverno é que é mais apagado."

Os idosos não recebem estes cheques, mas têm outras ajudas. A mais apreciada é a que paga até 40% dos medicamentos. Ainda não houve foi cheque, nem argumentos capazes de trazerem um médico para a terra. Mas desse mal queixam-se outros com muito mais gente.

É com orgulho que o presidente da autarquia faz contas à vida: "Continuamos a ser um dos concelhos mais envelhecidos do país, mas somos o único do interior que não perdeu população em 2011."

No seu tempo, o autarca deu a sua contribuição – um rapaz e uma rapariga – e recebeu cheques por isso. E quanto ao cheque do casamento? "Já não me lembro, foi há mais de 20 anos..."

Ricardo Aires segue os passos da sua antecessora na câmara do PSD, Irene Barata. Faz de tudo para atrair população jovem. A terra abre de novo as portas a refugiados, há lugar para duas ou três famílias. Nem sempre corre bem, como foi o caso dos brasileiros em 2006, mas há outros casos de sucesso, como o grupo de estudantes de S. Tomé que estuda em Vila de Rei com bolsa da autarquia.

Muitos estudantes são voluntários na hora de servir a mesa das crianças no almoço comunitário que se segue. O vice-presidente já tirou a gravata e o casaco e anda de tabuleiro ao ombro a distribuir arroz de maranho. A apresentadora da cerimónia tem um avental por cima do vestido de cerimónia.

De novo, à volta das mesas juntam-se carrinhos de bebé e cadeiras de rodas. São tão poucos em Vila de Rei que parecem mesmo uma família.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+