22 set, 2015 - 18:37 • Ana Carrilho
José Francisco Penha tem 91 anos, é viúvo e desde Fevereiro que a sua casa é a Misericórdia do Barreiro. Sabia que o primeiro-ministro e líder da Coligação “Portugal à Frente” ia passar por lá em campanha e preparou-se, com declaração de IRS e receitas médicas na mão.
Quando Pedro Passos Coelho lhe passou à porta não o deixou avançar sem lhe dar a conhecer a sua mágoa: para ir ao médico paga a taxa moderadora e os remédios, a reforma que recebe – 669 euros – não chega para pagar a prestação mensal de 724 euros na Misericórdia.
Com a declaração de IRS do idoso na mão e pouco à vontade, o líder do PSD engana-se nas contas e diz que sobra pouco. Mas é logo corrigido por José Francisco Pena: “Sobra pouco?! Não sobra nada. É o meu filho que tem que pagar o resto”.
“Vim de Serpa aos 15 anos para trabalhar na CUF, em 1949. Cheguei a carregar sacas com quase 100 quilos e eu pesava pouco mais de 50. E hoje não tenho nada!”, lembra entre lágrimas.
Passos Coelho vai ouvindo e a declaração de IRS serve-lhe de “muleta”. Diz-lhe que tem a taxa fiscal mais baixa e tenta convencê-lo que o Governo está a fazer e quer continuar a fazer os possíveis para que no futuro outros idosos não passem o mesmo que ele.
“Tomara eu que as pensões pudessem ser todas altas e que as pessoas pudessem ter rendimentos elevados. Está a ver, o Salário Mínimo em Portugal é de 505 euros, bastante inferior à pensão que o senhor tem. E foi aumentado por nós o ano passado. Tomara eu que pudesse ser 700, 800 ou 900!” Pois, sim. José Francisco Penha percebe, mas insiste: “Eu não merecia isto”.
No entanto, as despedidas depois de 10 minutos de conversa são com um “desculpe por ter falado, mas a falar é que a gente se entende”. E Passos pôde seguir.