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“God save the queen”: Pode um fã de Marx ser o próximo primeiro-ministro da Grã-Bretanha?

12 set, 2015 - 16:54 • William James (Reuters), editado por Matilde Torres Pereira

Foi o golpe de génio que deu a vitória a Jeremy Corbyn – tirar Karl Marx da gaveta, sacudir-lhe o pó e oferecê-lo de bandeja à ala esquerda dos trabalhistas. Vai liderá-los até às próximas eleições, mas a pergunta é: pode um admirador de “O Capital” ser o próximo primeiro-ministro da Grã-Bretanha?

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Praticamente desconhecido há um par de meses da opinião pública da Europa continental, Jeremy Corbyn, um vegetariano de 66 anos, conseguiu ascender este sábado ao trono do segundo maior partido político do Reino Unido, com 59,5% dos votos.

Corbyn, que ao início nem esperava vencer as eleições do Partido Trabalhista, conseguiu falar ao coração de grande parte do eleitorado de esquerda ao repudiar a atitude pró-empresarial do antigo líder Tony Blair e ao defender medidas como a criação de um imposto sobre a riqueza, o desarmamento nuclear e ainda ao mostrar alguma ambiguidade acerca da pertença à União Europeia.  

A vitória é um mandato claro para pegar num partido com 115 anos de história e regressar às raízes do socialismo, enquanto atira pela janela a bula política que dita que as eleições britânicas só podem ser vencidas com o apoio do centro.

“Estamos a desafiar a narrativa do: ‘o que importa é o individuo e o colectivo é irrelevante’”, declarou, na quinta-feira, o agora líder trabalhista, naquela que foi a última acção de campanha antes da ida às urnas.

Seguiram-se aplausos e aclamações de todos os cantos da sala. Curiosamente, já que se fala de alguém que segue os ensinamentos de Karl “A religião é o ópio do povo” Marx, o comício decorreu numa antiga igreja no norte de Londres.

“Dizemos antes que o bem comum é uma desejo de todos nós”, afirmou o activista anti-guerra, que é também um admirador de Hugo Chávez, o falecido líder venezuelano que tinha os Estados Unidos como principal alvo das suas críticas.

Vestido frequentemente ao estilo de um professor universitário, com uma colecção de canetas a espreitar pelo bolso da camisa a condizer, Corbyn prometeu voltar a nacionalizar indústrias que nas últimas décadas passaram para mãos privadas, emitir moeda para investir em infraestruturas e aumentar os impostos para as empresas e para os ricos.                                 

Raramente utiliza a primeira pessoa do singular – “eu” – um traço de personalidade que os analistas atribuem ao seu desejo de liderar o Partido Trabalhista sem aquilo a que Corbyn chama a tendência para o “control-freakery” de cima para baixa: o controlo apertado exercido durante a era Tony Blair, entre 1994 e 2007.

“As coisas podem e devem mudar”, disse Corbyn este sábado no discurso de vitória, que arrancou com críticas aos média britânicos e que acabou com uma promessa de conseguir justiça para os pobres e oprimidos.

Assim que as palmas pararam, saiu o novo chefe da oposição britânica. Foi participar numa manifestação de apoio a refugiados do Médio Oriente, em Trafalgar Square.

Reino Unido. Corbyn é o novo líder dos Trabalhistas
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