Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Prevenção de abusos tem de ser prioridade, insiste cardeal O’Malley

10 set, 2018 - 11:44

O arcebispo de Boston, que é uma das principais figuras da hierarquia católica na prevenção de abusos sexuais, avisa que todo o resto do trabalho da Igreja poderá estar posta em causa se este campo não for resolvido.

A+ / A-

A prevenção de abusos sexuais deve ser uma prioridade, sob pena de prejudicar a restante ação da Igreja.

É o que defende o Cardeal Sean O' Malley no final da assembleia plenária da Comissão Pontifícia para a Tutela de Menores.

Em entrevista à agencia de noticias do Vaticano, o cardeal O' Malley reitera a importância de ouvir as vítimas de abusos, sublinhando que esta deve ser uma prioridade para a Igreja.

“Levar a voz das vítimas aos expoentes da Igreja é crucial para que todos entendam como é importante para ela dar respostas de maneira rápida e correta a cada situação de abuso que se apresente em qualquer momento. Em particular, à luz da situação atual, se a Igreja se demonstrar incapaz de responder com todo o coração e de fazer deste tema uma prioridade, todas as nossas outras atividades de evangelização, ou mesmo de caridade e educação, serão prejudicadas. Esta deve ser a prioridade na qual agora nos devemos concentrar”, disse o cardeal.

Como tal, a própria Comissão para a Tutela de Menores quis dar o exemplo e começou este seu encontrou escutando vozes de vítimas. "Uma das responsabilidades da própria Comissão é procurar ouvir as vítimas. Temos sempre vontade de escutar os testemunhos das vítimas, que dão forma às nossas deliberações e aos nossos juízos. Desta vez, iniciámos a nossa reunião ouvindo os testemunhos, em primeiro lugar, de uma mulher da América Latina que foi vítima de abuso por parte de um sacerdote e, depois, a mãe de duas vítimas adultas provenientes dos EUA. A voz das vítimas é realmente importante."

Nesta entrevista ao Vatican News, o Cardeal aproveita também para esclarecer qual é o papel da comissão a que preside. "Às vezes as pessoas apresentam-me como o presidente da 'Comissão sobre abuso sexual' e eu corrijo-as sempre dizendo que não, a nossa competência diz respeito à proteção de menores: é realmente uma tarefa que diz respeito à prevenção. Não somos um organismo que se ocupa de casos já verificados ou de situações particulares de abuso. Estamos buscando mudar o futuro, a fim de que estas tristes histórias não se repitam, e realizamos essa tarefa mediante a adoção de recomendações que apresentamos ao Santo Padre", explica.

O cardeal O’Malley, arcebispo de Boston, é uma das principais figuras na Igreja Católica na reforma da Igreja no que diz respeito a lidar com situações de abusos sexuais.

A Igreja tem sido assolada por escândalos de abusos desde finais dos anos 90, mas alguns dos países mais atingidos já adoptaram práticas preventivas que têm tido resultados positivos. Nos Estados Unidos foram adoptadas normas muito rigorosas em 2002 e, desde então, os casos novos de abusos desceram drasticamente. Mais recentemente, porém, têm surgido casos nos Estados Unidos que dizem respeito a relações sexuais impróprias entre clero ou, no caso do ex-arcebispo de Washington, Theodore McCarrick, com seminaristas, com subsequentes acusações de encobrimento dessas práticas por parte de outros membros da hierarquia.

Em Agosto o ex-núncio apostólico em Washington, monsenhor Viganò, escreveu um documento em que acusava vários bispos e até o Papa Francisco de terem sido cumplices no encobrimento do caso McCarrick. Desde então vários bispos, incluindo a Conferência Episcopal Portuguesa, saíram em defesa do Papa, considerando que está a ser alvo de um ataque infundado por parte de grupos católicos ultraconservadores que há muito estão descontentes com o rumo da Igreja durante este pontificado.

[Notícia atualizada às 12h05]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+