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Quem era Luís Miguel Grilo, o triatleta encontrado morto a 134 quilómetros de casa

26 ago, 2018 - 16:30 • João Carlos Malta

O treinador dos últimos oito anos relembra o atleta e amigo. Um atleta que representava “muito da alma do grupo, alguém que vestia a camisola”. Amigos estão em choque.

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Luís Miguel Grilo foi durante muito tempo sedentário. Não queria muito saber de desporto e engordou, engordou, até que disse basta. É aí que em 2010 conhece Nuno Barradas, treinador na Wikaboo, e nos últimos oito anos têm sido inseparáveis no treino e nas competições.

Até que há menos de um mês o triatleta desapareceu depois de sair para mais um treino de bicicleta perto de casa em Vila Franca de Xira. Na sexta-feira, as autoridades policiais encontraram aquele que acreditam ser o corpo do também engenheiro informático, a mais de 134 quilómetros de casa, no distrito de Portalegre.

Nuno ouviu a notícia, mas não quis acreditar nela. “Isto foi recebido com uma incredibilidade imensa. Nós nunca conhecemos a 100% a vida da pessoas, mas ele tinha uma vida pacata de pequeno empresário”, relembra.

A primeira reação quando Luís Miguel desapareceu foi a de que tivesse sido um acidente. Mas pouco depois, quando perceberam que nos circuitos normais não havia qualquer tipo de vestígio do atleta, a preocupação cresceu.

“Este desfecho, a confirmar-se a 100%, deixa-nos muito surpreendidos. Tem contornos de uma violência que não é normal”, acrescenta.

O corpo foi encontrado na estrada municipal 1070, perto de Alcórrego, Portalegre, por um homem que sentiu o cheiro a putrefação enquanto fazia uma caminhada.

Estava nu e em decomposição, com um saco de plástico na cabeça e sinais de violência de uma pancada na nuca. Os indícios são de crime de homicídio.

A bicicleta na qual tinha ido treinar não foi encontrada.

Uma das imagens mais marcantes de Grilo era a de uma pessoa “bem-disposta”. Um porta-estandarte, um tipo que vestia a camisola e que gostava de desafios para os superar um após o outro.

Nuno recorda que Luís chegou à equipa como tantos outros. “É introduzido através do contato boca-a-boca, por uma pessoa que já estava connosco. Disse que tinha um amigo que era o Luís Miguel, que estava um pouco gordo, e que queria começar a correr”.

Desde cedo que o engenheiro informático começa a dar nas vistas pela rapidez com que evolui. “Era uma pessoa muito dedicada ao treino”.

Nuno não esquece uma história que é um marco: a primeira maratona terminada para alguém que esteve à beira da obesidade.

“Ele fez a primeira maratona dele em Roterdão. Fomos todos juntos, foi muito emotivo. Uma pessoa que já esteve perto da obesidade ter conseguido correr a maratona é um marco muito importante. Lembro-me de ele acabar e se abraçar a mim. Depois disso, fizemos muitas juntas”, recorda.

Mais tarde, como apenas correr já não chegava, ele quis fazer triatlo assim que a modalidade foi introduzida no clube.

“Era muito ativo e gostava de desafios, entrou no triatlo, o de longa distância, o Ironman, e o último que fez foi há muito pouco tempo em julho, em Frankfurt. Fez uma prova fantástica para o nível dele, conseguiu o melhor tempo pessoal. Estava radiante”, conta o treinador.

Na Alemanha, na prova mais exigente do triatlo, que inclui 3,8 quilómetros de natação, 180 de ciclismo e 42 de corrida (o equivalente a uma maratona), ficou no lugar 663 da geral (em 2.300 participantes) e no 55.º do seu escalão (em 298 atletas).

Pouco tempo depois desta prova, Nuno esteve com Luís e encontrou-o como sempre: alegre e bem-disposto.

“Ele era uma pessoa com projetos e que falava no futuro”, afirma.

Na cabeça de Nuno, ainda mal refeito do impacto da tragédia, Luís vai sempre representar “muito da alma do grupo", "alguém que vestia a camisola”.

“Sempre que entrava gente nova no grupo ele era dos primeiros a interagir e recebê-los porque era muito divertido e muito bem-disposto”, remata.

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