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Portugueses fazem descoberta sobre "polícias sinaleiros" das células

16 ago, 2018 - 17:52 • Filomena Barros

Este mecanismo de regulação pode ser contraproducente em alguns casos. A Renascença falou com dois elementos da equipa de investigadores portugueses.

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Uma equipa de investigadores portugueses do Instituto Gulbenkian da Ciência e do Centro de Investigação em Biomedicina da Universidade do Algarve acaba de publicar um estudo sobre os chamados "polícias sinaleiros das células".

A experiência põe em causa o dogma científico que defendia que é sempre benéfica a ação destes mecanismos que atuam no processo de divisão de células.

A Renascença falou com os investigadores Raquel Oliveira e Rui Martinho, que começam por explicar o que são e como funcionam estes polícias das células.

“Se há um pequeno acidente, entre dois carros, se o polícia sinaleiro parar o trânsito durante cinco ou dez minutos, é útil para minimizar outros acidentes graves, mas se o polícia sinaleiro parar o trânsito parar o trânsito durante muito muito tempo, cria-se uma tal confusão que é pior do que o problema original. Nesse caso faz mais sentido não ter o polícia sinaleiro”, explica o biólogo Rui Martinho.

Passando isto para a ciência: no processo de divisão das células, quando é detetado um erro, os polícias sinaleiros interrompem o processo, até que o erro seja corrigido.

O que descobriram os investigadores portugueses é que nem sempre este mecanismo de regulação é positivo.

“O que nós observámos, é que, apesar desses polícias sinaleiros serem importantes na maior parte dos casos e serem úteis para evitar doenças, há exceções. Há casos em que a sua ação é contraproducente”, refere Rui Martinho, investigador da Universidade do Algarve.

Raquel Oliveira, do Instituto Gulbenkian de Ciência, explica que a investigação conseguiu perceber que “ao contrário do que seria de esperar, quando as células têm um certo tipo de defeito na sua divisão, retirar os pontos de controlo, que normalmente estão lá para ajudar as células a dividir bem, fazia com que as células se dividissem melhor ao contrário do que estaríamos à espera”.

A experiência foi feita com a mosca da fruta e está a ser testada agora para células humanas, embora neste caso não se pode, simplesmente, retirar estes mecanismos de regulação completamente.

Esta experiência pode, por exemplo, ser adaptada para investigação clínica sobre algumas doenças, adianta Rui Martinho.

Doenças congénitas, infertilidade ou os vários tipos de cancro, mas neste último caso não se trata de uma cura ou de prevenir, mas de encontrar melhores estratégias terapêuticas.

“Manipular a atividade destes pontos de controlo, dos tais polícias sinaleiros, é algo que já se faz no tratamento do cancro e o facto de se tentar perceber se o cancro está na presença ou não de um tipo de erros de cola nos cromossomos, pode permitir definir estratégias terapêuticas”, explica Raquel Oliveira.

Mas isso ainda vai demorar mais alguns anos. Para já, fica mais este contributo da equipa de investigadores do Instituto Gulbenkian da Ciência e do Centro de Investigação em Biomedicina da Universidade do Algarve. O estudo foi publicado esta quinta-feira na revista cientifica "Current Biology".

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