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Com chamas à porta, habitantes de aldeia da serra de Monchique recusam-se a sair

07 ago, 2018 - 17:31

Nas redondezas desta aldeia são visíveis labaredas de um fogo que lavra na localidade de Belém, uma das encostas de difícil acesso, onde um avião Canadair vai despejando água.

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As chamas são bem visíveis, mas não amedrontam os habitantes da aldeia de Casais, em plena serra de Monchique, no distrito de Faro, que esta terça-feira recusaram a abandonar as suas habitações, apesar das insistências da GNR.

Depois de mais uma noite complicada no combate às chamas que lavram em várias frentes na serra de Monchique, no Algarve, as autoridades chegaram esta terça-feira muito cedo a Casais, na freguesia de Monchique, para tentar retirar os cerca de uma centena de habitantes desta aldeia serrana.

Apesar de a apreensão dos moradores ser muita, recusam-se a abandonar a aldeia, preferindo, caso venha a ser necessário, ajudar a proteger os seus bens.

"Hoje tentaram tirar-nos daqui. Nós é que nos juntamos e ninguém quis sair daqui. O fogo ainda não saiu daqui. Querem tirar-nos para que a gente não veja a pouca vergonha que andam a fazer aqui?", questionou, indignada, Célia Canelas, em declarações à Lusa.

A moradora, que é também proprietária de um café e de uma loja na aldeia, queixa-se da atuação dos bombeiros, afirmando que a população está "apavorada". "Eu não sei o que esta gente [autoridades] anda aqui a fazer. Ontem não tivemos helicópteros, bombeiros ainda não vi nenhum passar. Isto é uma vergonha", criticou.

Também visivelmente irritado, António Florêncio, que cuida da mãe, já com 91 anos, critica quem quer obrigar os moradores a abandonar os seus pertences. "Eu não saio. Pus logo os pés à parede. A gente tem de defender aquilo que é nosso, o nosso património. Isto aqui à volta está tudo limpo", afirma.

Com o passar das horas o fumo sobre esta aldeia adensa-se, devido à aproximação de um incêndio que lavra nas proximidades. Apesar dos receios, os habitantes de Casais procuram passar o dia com alguma normalidade, ainda que o tema central sejam os incêndios.

No café da vila, habitualmente ponto de encontro, juntam-se locais e também alguns turistas, que se sentam na esplanada a beber cerveja ou café.

Mais à frente, no centro comunitário da aldeia, foram reunidos alguns moradores mais idosos, que fazem frente ao imenso calor sentido com recurso a ventoinhas e garrafas de água.

"Isto é uma desgraça. Nós não precisávamos destas aflições", lamenta Adriana Raimundo.

Nas redondezas desta aldeia são visíveis labaredas de um fogo que lavra na localidade de Belém, uma das encostas de difícil acesso, onde um avião Canadair vai despejando água.

Alguns acessos continuam a ser condicionados por equipas da GNR.

GNR pede colaboração da população

A GNR apelou esta terça-feira à população, sobretudo à do concelho de Monchique, no distrito de Faro, Algarve, para que obedeçam às indicações e orientações das autoridades em caso de evacuação, devido aos incêndios.

"Em caso de evacuação preventiva, por indicação das autoridades, as pessoas devem cumprir com as instruções dadas e não devem nunca voltar atrás, para uma área já evacuada. Devem manter a calma, auxiliar crianças, idosos ou familiares com limitações de mobilidade e levar os seus animais de companhia. Não devem perder tempo a recolher objetos desnecessários e, se possível, deixar acesas as luzes exteriores da habitação", apela a GNR, em comunicado.

O fogo que deflagrou em Monchique na sexta-feira já obrigou à retirada de pessoas de casas também no concelho de Silves, tendo a situação mais preocupante sido registada na zona de Falacho, segundo a Câmara.

Silves é um dos três concelhos do distrito de Faro afetados pelo fogo rural que lavra pelo quinto dia, desde sexta-feira, além de Monchique e Portimão. Também em Portimão já houve retiradas das casas.

No fim de semana as chamas chegaram a Odemira, no distrito de Beja, mas já foram apagadas no concelho alentejano.

Há 29 feridos ligeiros na sequência deste fogo e um ferido grave, uma idosa que está internada em Lisboa com prognóstico favorável.

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  • Cidadao
    09 ago, 2018 Portugal 10:45
    Pois. O pior é se o fogo lhes entra pela casa dentro e aí assam eles, o trabalho duma vida, e os coitados dos GNR enviados à última hora para tentar evacuar esses "resistentes". Sem contar com os processos em Tribunal postos pelos descendentes sobrevivos a alegar que a GNR não fêz o seu trabalho e não evacuou as pessoas. O Trabalho duma vida, etc, etc, tudo isso é muito bonito. o pior são as consequências se a coisa dá para o torto...

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